quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

De volta ao Samba do Crioulo Doido. Ou: Urucubaca luliana mostra a Gaviões por que não se deve ser pombinha do PT

De volta! Fim do ziriguidum, mas ainda neste clima de carnavalização da política, de samba-do-crioulo-doido em que estão transformando — ou transfugando?, se me permitem o neologismo — a política brasileira. O único pecado abaixo do Equador é pertencer à oposição. Nesse ritmo, ainda acaba “proclamada a escravidão, lá iá lá iá lá ia”…
Viram o espetáculo deprimente na apuração do resultado do desfile das escolas em São Paulo? Os partidários da Império da Casa Verde e da Gaviões da Fiel eram os mais exaltados. E o pau quebrou, sendo necessária a intervenção dos Unidos da Lei e da Ordem, mas com a devida moderação, ou os petralhas acusam o governo de São Paulo de “militarizar o Carnaval”… Se as pessoas descontentes não puderem, vamos ser modernos, trollar o processo, onde está a democracia, não é mesmo? Precisamos dar vivas à intervenção direta, ao fim da fantasia, ao fogo na alegoria (isso é uma alegoria)! Chegando em casa, este novo ser político deve se armar com um micro, um celular, um iPad — qualquer um desses instrumentos criados pelo maldito capitalismo para oprimir os excluídos — e trollar também os sites, blogs e páginas pessoais de adversários reais ou supostos. Precisamos de um mundo sem mediação, de ação direta, sem oponentes, como queria Ernst Röhm, antes de ser contido por Hitler, o progressista, lá iá lá iá lá ia…
Vi fotos de Andrés Sanchez, presidente do Corinthians, e de Marisa Letícia — a Mulher do Homem num carro alegórico da Gaviões da Fiel. Mais alguns anos, e chegaremos, finalmente, ao século 19. A nova aristocracia manda a República às favas, lá iá lá iá lá ia. E se apodera das esferas pública, privada e estatal. Como naquela música do sambista Chico Jabuti, “Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal…” A Gaviões e eu espero que o meu Corinthians um dia se liberte dos “grilhões que nos forjou o ardil astuto da perfídia” , movida pelo mau espírito da sujeição encomiástica, tentou rapinar o Carnaval de São Paulo em ano eleitoral, levando à avenida um samba-enredo ideológico: “Verás que um filho fiel não foge à luta - Lula, o retrato de uma nação”. Nono lugar antes de a bandidagem trollar a apuração. Os trouxas ainda não perceberam que nada viceja à sombra de Lula a não ser o partido; o resto murcha, decai e morre, lá iá lá iá lá ia.
Lula já privatizou o processo democrático brasileiro daí que seu instituto pretenda criar o “Memorial da Democracia”, em terreno que Gilberto Kassab, eleito com votos anti-Lula, pretende doar àquela entidade privada. Já no título da pantomima-enredo, privatizam-se, a um só tempo, um verso do Hino Nacional e a torcida do Corinthians. Os Acadêmicos do Nariz Marrom, que lotam nossas universidades, sempre de joelhos para o petismo, deveriam seguir os passos de seus colegas argentinos rendidos ao Casal Kirchner e iniciar um movimento de revisão da história, de extinção dela talvez. Declare-se 2003 o “Ano Um” do Brasil. Em tempo: as escolas de samba recebem grana do município: R$ 27 milhões só neste ano. Não sei que parcela coube à Gaviões. O fato é que, também nesse particular, há evidente uso de dinheiro público com propósito político-partidário.
“Ah, Lula já é um figura que pertence à história”. Uma ova! Assim seria se assim fosse. Ele não está em casa cuidando de suas memórias, mas na ativa, organizando os palanques do PT Brasil afora, muito especialmente o de São Paulo. Tanto é assim que foi ele a oficializar a aproximação de Kassab com o PT, iá lá iá lá ia… Não haver uma cláusula no regulamento da Liga das Escolas ou nos critérios de concessão de dinheiro público que impeça a exploração político-eleitoral do desfile corresponde a se expor à rapinagem. E assim foi. E, mais uma vez, a urucubaca luliana recaiu sobre aqueles que se colocaram de joelhos. Não chega a ser uma determinação da natureza, mas é uma constante sem exceção: é assim que se firma uma… urucubaca!
O filme “Lula, O Filho do Brasil”, por exemplo, foi um fiasco. Não obstante, acabou selecionado pelos puxa-sacos para concorrer a uma indicação ao Oscar. Ninguém deu bola. Quem quer que se aproxime para se contaminar com a “sorte” do “Homem” colhe os efeitos contrários. Vejam esta foto:
lula-mubarakO seca-pimenteira participava, na Itália, da Cúpula do G8, em julho de 2009. Ele e Hosni Mubarak, então presidente do Egito, eram convidados de honra. O Apedeuta, com o veneno tropical, charme e picardia que fizeram história, dá de presente ao ditador uma camiseta da Seleção Brasileira. Bem, vocês sabem o que aconteceu com os nossos Canarinhos e conhecem também o destino de Mubarak. Ah, sim: antes de embarcar para a África do Sul, a Seleção fez uma visitinha a Lula, no dia 20 de maio de 2010…
Há outra foto que entra para a história do pé-quente. É esta.
lula-corinthiansNo dia 1º de Maio de 2010, de passagem por São Paulo para fazer campanha ilegal em favor de Dilma Rousseff, Lula decidiu dar uma passadinha no Corinthians e empenhar seu apoio na disputa pela Libertadores. O Timão enfrentou o Flamengo logo depois e foi desclassificado. Confesso que, desta vez, até me vi tentado a advertir os companheiros da Gaviões — afinal, sou corintiano há mais tempo do que muitos ali: “Não caiam nessa tentação; vão afundar a escola”. Mas deixei que a sina se cumprisse. E não que eu seja bom só para prever o passado. Antes de a Seleção Brasileira visitar O Homem em palácio, fiz aqui a advertência, no dia 25 de maio de 2010. Inútil.
Em 2007, Bebeto de Freitas, presidente do Botafogo, presenteou Lula com uma camisa do clube. Assim.
lula-e-bebeto-de-freitasO time disputava a final da Copa do Brasil. Diante de um Maracanã lotado, foi derrotado pelo Figueirense. “Gols roubados!”, gritará um torcedor. Pois é… Os deuses, quando provocados, deixam cegos os homens…
fluminense-lulaOs torcedores do Fluminense jamais vão se esquecer do apoio dado por Lula ao time em 2008, pouco antes da final da Libertadores, contra o modesto LDU do Equador. O tricolor bateu o adversário por 3 a 1 no tempo normal, empatou em zero a zero na prorrogação e naufragou nos pênaltis (3 a 1). Fiel à sua política externa terceiro-mundista, a urucubaca luliana deu ao Equador seu único título na Libertadores.
Essas são apenas algumas das circunstâncias em que Lula aparece trollando a sorte alheia. Há muitas outras lembradas em vários sites e blogs. Ninguém escapou: Guga, Diego Hypólito, até Lenny Kravitz… Que continuem a beijar a mão do Apedeuta. Será sempre bom para o PT — e péssimo para os que se dedicarem à sujeição voluntária. Vamos sair do misticismo para entrar na história.
As primeiras tentativas de assalto às urnas — porque não se trata de disputa dentro das regras do jogo — dos petistas em São Paulo deram com os burros n’água: reação à retomada da Cracolândia, mentira organizada sobre a desocupação da região conhecida como Pinheirinho, privatização político-partidária do Carnaval… Vamos que outras trollagens preparam os companheiros. A única coisa certa é que eles não vão se conformar. E não poderia deixar de fazer um lamento à margem: é lastimável ver o meu time entregue a esse tipo de exploração político-partidária. Espero que uma parte ao menos dos corintianos reaja a essa tentativa de manipulação da torcida.
Caminhando para o encerramento
Bem, caras e caros, estou de volta, com um pouco de samba no pé, como vêem.
A propósito, cumpre publicar, a título de ilustração, a divertida letra do “Samba do Crioulo Doido”, criação de Stanislaw Ponte Preta, heterônimo no jornalista Sérgio Porto, que ironizava, em 1968, a leitura livre que os carnavalescos faziam — e fazem — da história em seus enredos. A obra virou metáfora, símbolo da confusão e da falta de sentido:
Foi em Diamantina
Onde nasceu JK
Que a Princesa Leopoldina
Arresolveu se casá
Mas Chica da Silva
Tinha outros pretendentes
E obrigou a princesa
A se casar com Tiradentes
Lá iá lá iá lá ia
O bode que deu vou te contar
Lá iá lá iá lá ia
O bode que deu vou te contar
Joaquim José
Que também é
Da Silva Xavier
Queria ser dono do mundo
E se elegeu Pedro II
Das estradas de Minas
Seguiu pra São Paulo
E falou com Anchieta
O vigário dos índios
Aliou-se a Dom Pedro
E acabou com a falseta
Da união deles dois
Ficou resolvida a questão
E foi proclamada a escravidão
E foi proclamada a escravidão
Assim se conta essa história
Que é dos dois a maior glória
Da. Leopoldina virou trem
E D. Pedro é uma estação também
O, ô , ô, ô, ô, ô
O trem tá atrasado ou já passou
Convenham: é mais coerente do que a vida pública brasileira.
Por Reinaldo Azevedo
REV VEJA

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