segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Oito anos de saúde no lixo


Padilha
Charge do amigo Fusca_Brasil
Você liga para uma clínica para marcar uma consulta e ouvirá a indefectível pergunta, sem qualquer constrangimento da secretária: “particular ou convênio?”. Entenda-se por convênio SUS, planos públicos de previdência dos serventuários ou planos de empresas privadas, e por particular as consultas que serão pagas na bucha, em cash, mas, ao contrário das sapatarias, não lhe será oferecido “10% de desconto à vista”.
Independentemente do cidadão ter ou não um plano privado de saúde, ele já deu parte do seu salário e de seus impostos diretos, para a saúde. Ou melhor, para o sistema público de saúde. O funcionário público que tem direito a um sistema de previdência médica para sua categoria, paga duas vezes: uma para a União, outra para sua unidade federativa. Há ainda os funcionários públicos que, além da previdência estadual, por garantia ou medo, paga também um plano privado, afinal de contas está no Brasil e tem que se cercar o azar pelos sete lados, nunca se sabe. Este, não o diabo, mas o funcionário, paga três vezes pelo mesmo serviço e ainda assim não tem a certeza de que será bem atendido.
A Constituição Federal prevê a descentralização da saúde, com maior participação dos estados e municípios, conhecedores de seus problemas, portanto, mais próximos de resolvê-los. Isso tem dado, a despeito dos acidentes de percurso e erros grosseiros que vez por outra tomamos conhecimento pelos jornais, bons resultados. Porém, dada a má gestão, os desvios de recursos, o despreparo de pessoal por parte dos municípios e o descaso de boa parte dos prefeitos, ainda há muito a se fazer. Em se tratando de verbas, esta está garantida através dos impostos cobrados nas três áreas. Em cidades em que a saúde foi municipalizada, o funcionário público tem seu plano e este mesmo funcionário tem plano privado, ele paga quatro vezes para ser assistido. Vez por outra, mormente em emergências, este ou aquele hospital não tem convênio com plano público e nem com aquele privado pago religiosamente a cada mês, o que leva o cidadão a pagar pela quinta vez.
Via de regra, quem tem plano privado não utiliza o sistema público, mas paga por ele. São 35 milhões de brasileiros nessa seara. Trinta e cinco milhões de cidadãos que desafogam os hospitais e postos de saúde públicos, mas que ajudam com seus impostos a manterem-nos funcionando.
A própria presidente falou em má gestão dos recursos destinado à área, mas, no mesmo instante, dá uma de pitonisa e afirma, vos firme de general, que os próprios brasileiros pedirão por um novo imposto. Ora, se há má gestão, o nó não está na falta de dinheiro, mas em seu mau uso. E isso qualquer cidadão minimamente esclarecido sabe desde sua mais tenra infância.
A Copa custará, segundo previsões, R$ 122 bilhões, quase três vezes os R$ 43 bilhões desejados pelo ministro Padilha. Ou seja, a Copa pagaria 3 anos de saúde pública. A presidente descobriu que o maior beneficiário da Copa será a Fifa, que tem orçamento maior do que o Uruguai, mas precisa de dinheiro do erário para engordar suas burras. A Olimpíada, de quem pouca gente fala, quase ninguém sabe quanto custará, provavelmente levará mais uns três anos de dinheiro, comparando-se aos 43 bilhões do Padilha. Só nessas duas competições estamos jogando pelo ralo seis anos de assistência aos quase 200 milhões de brasileiros.
Não resta dinheiro para se fazerem obras em cuba, Bolívia, Paraguai, Venezuela, para anistiar dívidas de países africanos, para ajudar a rica Europa, como promete Mantega, mas falta para manter vivos os brasileiros.
Existe dinheiro previsto no orçamento para essas farras internacionais?
Em 2006 o Brasil “investiu” US$ 32 bilhões no exterior e teve apenas US$ 10 bilhões de estrangeiros aqui dentro. Pior, desses US$ 32 bilhões, US$ 18 bilhões foram para paraísos fiscais. Estes total de dinheiro nosso mandado para fora tem aumentado de ano para ano, mas se pegarmos apenas o montante de 2006, ao câmbio de hoje seria algo em torno de R$ 56 bilhões, mais do que um ano pelos números desejados pelo ministro.
Somando-se Copa, Olimpíada e “investimentos” brasileiros no exterior, apenas no ano de 2006, já temos 7 anos de saúde jogados ao vento.
A Fundação Getúlio Vargas estima que entre 2002 e 2008 – esse período lhe diz alguma coisa, nobre leitor? -, foram desviados R$ 40 bilhões dos cofres público, e aí teríamos o oitavo ano de financiamento para a saúde. Já estamos em quase uma década de assistência pública sem a necessidade de qualquer imposto, apenas fechando as torneiras desonestas e priorizando o que deveria ser priorizado.
Esporte é saúde, diriam os professores de educação física e os programinhas de auto ajuda da televisão brasileira, mas 200 bilhões de reais para a saúde de 10 mi, atletas estrangeiros é um custo/benefício nada saudável para o país.
©Marcos Pontes
DO S-E-2

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