A afirmação segundo a qual o grupo do senador Aécio Neves (MG) tratorou o de José Serra (SP) na convenção do PSDB não é informação, mas pré-pauta. Esse lead já estava escrito antes dos acontecimentos da madrugada, manhã e tarde deste sábado. Como Serra havia sido indicado para o Instituto Teotônio Vilela pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e como o ITV acabou ficando com Tasso Jereissati (CE), como queria o senador mineiro, então se tira a conclusão óbvia e errada.
De fato, a idéia inicial de Aécio e Sérgio Guerra, reconduzido à presidência do partido, era encostar Serra num conselho meramente consultivo. O relato óbvio de boa parte da imprensa seria este que se lê, embora as coisas não tenham se dado conforme o pretendido: “o ex-governador de São Paulo ganhou um cargo de consolação”. Pois é. Não foi assim.
A verdade é bem outra. A sexta-feira se fechou, e o sábado raiou com a firme disposição do PSDB de São Paulo de boicotar a convenção, o que seria um vexame para o partido e para aqueles que eram tidos como os “grandes vencedores”: Guerra e Aécio. Alckmin, FHC e Serra decidiram que não participariam do evento. Por quê?
O desenho impunha uma humilhação, vejam que fabuloso!, ao PSDB de São Paulo, que ainda é o, digamos, mercado eleitoral onde os tucanos mais têm votos. Querem um exemplo? É como se o deputado Pedro Tobias, o presidente da maior seção regional do PSDB, não existisse nem para os que se candidatam a chefes do partido nem para a imprensa. Tomam-se “decisões” e escrevem-se matérias “definitivas” sem consultá-lo.
Mudança de estatuto
Jereissati, de fato, já havia sido convidado para o ITV e aceitado o convite. Mas Alckmin, de um estado onde o PSDB é reiteradamente vitorioso — não é o caso do Ceará… —, reivindicava o cargo porque não gostou, e com razão, do lugar que se reservava ao estado no comando do partido. Nos bastidores, como se lê em toda parte, Guerra e Aécio diziam que entregar o ITV a Serra representaria o risco de um “comando paralelo” no partido. Ambos temeriam, sabe-se lá por quê, que o tucano paulista tivesse mais visibilidade no minúsculo ITV do que eles próprios na direção da legenda — formalmente é Guerra que dirige, mas ele hoje é um aliado de Aécio. Aí, então, acharam que encostar o candidato que teve quase 44 milhões de votos na eleição presidencial era uma boa idéia. Há uma tese por trás disso, da qual trato daqui a pouco.
Jereissati, de fato, já havia sido convidado para o ITV e aceitado o convite. Mas Alckmin, de um estado onde o PSDB é reiteradamente vitorioso — não é o caso do Ceará… —, reivindicava o cargo porque não gostou, e com razão, do lugar que se reservava ao estado no comando do partido. Nos bastidores, como se lê em toda parte, Guerra e Aécio diziam que entregar o ITV a Serra representaria o risco de um “comando paralelo” no partido. Ambos temeriam, sabe-se lá por quê, que o tucano paulista tivesse mais visibilidade no minúsculo ITV do que eles próprios na direção da legenda — formalmente é Guerra que dirige, mas ele hoje é um aliado de Aécio. Aí, então, acharam que encostar o candidato que teve quase 44 milhões de votos na eleição presidencial era uma boa idéia. Há uma tese por trás disso, da qual trato daqui a pouco.
Pois bem! Não foi exatamente Serra que não aceitou, mas o PSDB de São Paulo, a começar de Alckmin, que decidiu que não iria à convenção. E, segundo este blog apurou, não iria mesmo, o que levou pânico à turma de Guerra e Aécio. O sempre moderado e conciliador FHC faria o mesmo. Os adversários de São Paulo na batalha interna tiveram de ceder.
O partido, atenção!, mudou seus estatutos para abrigar um Conselho que não terá mais funções meramente consultivas, mas será deliberativo. Terá poder de decisão e veto sobre temas como:
- alianças;
- programa;
- forma de definição de candidatos.
- alianças;
- programa;
- forma de definição de candidatos.
E também terá estrutura para trabalhar. A mudança é tal que, na reta final, Sérgio Guerra estava disposto a recuar e defender a ida de Serra para o ITV mesmo… Considerou que era melhor aquela hipótese do que a alteração do estatuto do partido para abrigar este conselho político efetivamente deliberativo, o que, obviamente, diminui o seu poder.
Conseqüências e tese errada
Eu não faço o jogo da pomba lesa ou da Poliana bêbada. A blitz de comentários decretando a morte política de Serra, convidando-me a reconhecer isso que seria óbvio — NÃO RECONHEÇO PORQUE ACHO FALSO! —, me diz bem que jogo está sendo jogado; há petralhas ali, claro, mas não só. Sei da conversa: “Ah, você torce para Serra”. Cada um diga o que quiser, mas o fato é que não falei com o ex-governador, não. Conversei, sim, com muitos outros tucanos. O que aconteceu foi isso que relato acima.
Eu não faço o jogo da pomba lesa ou da Poliana bêbada. A blitz de comentários decretando a morte política de Serra, convidando-me a reconhecer isso que seria óbvio — NÃO RECONHEÇO PORQUE ACHO FALSO! —, me diz bem que jogo está sendo jogado; há petralhas ali, claro, mas não só. Sei da conversa: “Ah, você torce para Serra”. Cada um diga o que quiser, mas o fato é que não falei com o ex-governador, não. Conversei, sim, com muitos outros tucanos. O que aconteceu foi isso que relato acima.
Se querem saber, mais do que um “Serra vitorioso” na convenção, quem ganhou musculatura foi Geraldo Alckmin, que fez ver a tucanos um tanto nefelibatas que o PSDB de São Paulo existe — aliás, sem São Paulo, parece-me que o partido perde uma boa parte da sua importância, não? O esmagamento de Serra, conforme pretendiam alguns, não aconteceu.
O PSDB saiu unido da convenção? Depende do que se entende por “unidade”. Há uma tese muito errada por aí, abraçada por Aécio, segundo jornalistas que cobrem os bastidores da política: Serra teria de ser destruído agora, estabelecendo desde já um comando unitário no partido, de sorte que se defina já a candidatura à Presidência do PSDB, eliminando o bifrontismo do partido.
É mesmo, é?
Nem o PT, que guarda a memória do centralismo democrático dos partidos leninistas, tem esse tipo de unidade. Não será o PSDB a conseguir alguma coisa boa por esse caminho. Já li um texto quase douto (como tudo o que ele escreve) de Marcos Coimbra a respeito, dublê de cientista político e dono do Vox Populi. É dele a tese original de que Serra precisa ser eliminado da política — e, por conseqüência, os paulistas, que encarnariam confrontos que só existiriam no Estado.
É uma tolice notável, com pretensões a ciência política. A vitoriosíssima campanha de Obama se fez depois de uma disputa quase sangrenta com Hillary Clinton. A então candidata às prévias chegou a acusar de temerárias as posições de seu adversário sobre o Irã, por exemplo, quando Obama sugeria que dava para bater um papinho com Ahmadinejad.
Partidos democráticos não eliminam lideranças nem aniquilam grupos. Aqueles que forem maioria simplesmente vencem adversários internos no voto, segundo regras claras. A unidade possível do PSDB está em manter uma disputa civilizada na diversidade. Se o partido entender isso, bem; se não entender, pior. E a civilidade implica que aquele que não tem suas pretensões contempladas não sabota o candidato do partido. Não é o que se tem visto no tucanato desde 2002 — e isso, sim, é um problema.
Três candidatos
O fato é, passando a régua e fazendo a conta final, que o PSDB sai da convenção com três pré-candidatos à Presidência: Aécio Neves, Geraldo Alckmin e José Serra, em ordem alfabética.
O fato é, passando a régua e fazendo a conta final, que o PSDB sai da convenção com três pré-candidatos à Presidência: Aécio Neves, Geraldo Alckmin e José Serra, em ordem alfabética.
E Sérgio Guerra preferia o partido que ele presidia até ontem àquele que ele presidirá a partir de amanhã.
Outros, com os mesmos fatos, certamente escreverão narrativa diversa. O tempor dirá . Mas só façam uma exigência: que a tal narrativa se sustente em fato, não em fofoca e nas aspas de seres anônimos.
REV. VEJA
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