Ministro Felix Fischer, que fez carreira no Paraná, é o relator da Operação Lava Jato no Superior Tribunal de Justiça. Recursos do ex-presidente na Corte devem cair nas mãos dele
Condenado no processo do tríplex do Guarujá pelo juiz federal Sergio Moro e pelos desembargadores da 8.ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não deve ter vida fácil nas instâncias superiores em Brasília. Depois de esgotar os recursos no TRF-4, que aumentou a pena do petista para 12 anos e um mês de prisão no caso do tríplex no Guarujá, a defesa deve recorrer da condenação no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Mas Lula terá pela frente a caneta pesada de mais um juiz linha dura: o ministro Felix Fischer.
Desde que virou relator dos processos da Lava Jato, Fischer tem imposto sucessivas derrotas às defesas de réus e investigados na operação. A turma, sob relatoria de Fischer, já negou pedidos de habeas corpus para o ex-diretor da Petrobras, Jorge Zelada, o ex-deputado federal Eduardo Cunha e o ex-ministro Antonio Palocci, entre outros investigados em primeira instância.
Fischer já negou liminarmente a progressão de regime para o ex-deputado federal Luiz Argôlo e manteve o processo contra a mulher de Cunha, Claudia Cruz, tramitando. O relator também já decidiu sobre pedidos feitos pela defesa de Lula no STJ, sempre votando contra o petista. Foi o caso das solicitações para suspender os processos em primeira instância, de pedidos de autorização para gravação autônoma de audiências, a suspeição do juiz Sergio Moro, entre outros.
Apesar de ser duro com os investigados da Lava Jato em primeira instância, Fischer já autorizou o arquivamento de uma investigação contra o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), que havia sido iniciada com base nas delações de executivos da Odebrecht. Nesse caso, o ministro atendeu à recomendação da Procuradoria-Geral da República.
Advogados que atuam na Lava Jato dizem que é difícil acreditar em uma eventual absolvição de Lula no STJ. Até agora, nenhuma apelação de condenações do TRF-4 foi julgada na Corte, mas a expectativa de advogados ouvidos pela Gazeta do Povo é que algumas das penas sejam diminuídas, mas não extintas.
Isso porque o TRF-4 tem sido mais rígido com os réus do que o próprio juiz Sergio Moro, em primeira instância, e estão reconhecendo em suas decisões o concurso material ao invés da continuidade delitiva, aplicada por Moro. Na prática, isso aumenta a pena imposta pelos crimes praticados. Em um crime cuja pena seja de 6 anos, por exemplo, se o réu praticou a conduta duas vezes e o juiz entende que houve continuidade delitiva, a pena pode chegar a 7 anos no total. Já se o magistrado considerar concurso material, a pena pode chegar a 12 anos.
Para o cientista político Marcio Coimbra, a atuação de Fischer frente aos processos da Lava Jato no STJ deve mostrar um rigor maior que o que é visto usualmente na Corte. “O ministro Felix Fischer já se mostrou mais rigoroso do que a média dos ministros da Corte. E ele tem realmente respeitado as decisões que vêm de Curitiba. Acredito que a atuação dele não deve ser tão rigorosa quanto os juízes que temos aqui [em primeira instância], mas também não tão frouxa quanto o resto dos ministros do STJ em alguns outros casos que a gente já conhece”, aposta.
Apesar do comportamento pró-Lava Jato demonstrado até agora, quem acompanha a movimentação no STJ em Brasília destaca que a Corte é “extremamente volúvel e imprevisível”. Tudo pode acontecer no tribunal, mas o mais provável é que Fischer siga atuando mais a favor da Lava Jato do que dos réus.
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