Bem-sucedido
em sua atividade profissional, Luciano Huck descobriu enterrada dentro
de si uma vocação irrefreável para a vida pública. Prenhe de boas
intenções, foi seduzido pela ideia de colocá-las em prática. Ardendo no
desejo de servir ao povo, lançou-se ao trabalho das consultas polítcas.
Súbito, Huck descobriu-se numa posição parecida à de um apostador que
acorda sobressaltado de um pesadelo no qual, depois de perder a Ferrari e
o jatinho do BNDES na mesa de pôquer, dirige-se ao meio-fio entoando
Angelica: “Vou de táxiiiiiiii…”
Caindo-lhe
a ficha, Huck se deu conta de que estava prestes a entrar numa fria. À
frente de movimentos apartidários de renovação política, doía-lhe a
ideia de ter que ancorar seu projeto presidencial num partido
tradicional. Liberal, achegou-se ao PPS, sucedâneo do velho e bom
Partido Comunista. Em jantar com Fernando Henrique Cardoso, o animador
de auditório recebeu uma aula de Realpolitik, o nome de fantasia para hipocrisia política.
Huck aprendeu com o grão-mestre do tucanato que, dissociado de uma vistosa coligação partidária, a carruagem do PPS viraria abóbora antes do melhor da festa. Sem reforço, o apresentador não seria eleito. Elegendo-se com sua própria popularidade, o Congresso não o deixaria governar. Se deixasse, cobraria caro. E o novato logo veria transformar-se em realidade o pesadelo de apostar a governabilidade de sua hipotética administração numa mesa com a presença do PMDB de raposas com a experiência de Temer, Padilha, Moreira e Jucá.
Com a noção de meios e fins já meio embaralhada no caldeirão que ardia no interior de sua cabeça, Huck ainda flertou com um partido que, salvo pequenos hiatos, frequenta o poder desde as caravelas: o DEM —ex-Arenda, ex-PFL… Huck foi refugado como se fosse lata velha irreformável. A despeito de ter contas a ajustar com a Lava Jato, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, enxerga na conjuntura de ponta-cabeça uma chance de chegar, ele próprio, ao Planalto —sem intermediários.
Suavemente, familiares e amigos de Huck foram levando o pé à porta. Com firmeza, os patrocinadores e o empregador do personagem esclareceram que não permitiram que suas logomarcas escalassem o palanque. A TV Globo informou que mostraria a porta de saída também para Angélica. Sem volta. Aos pouquinhos, o porre cívico de Huck foi dando lugar a uma ressaca monetária.
Engolfada por um sistema político arcaico, a candidatura presidencial de Luciano Huck, o ''novo'', envelheceu antes do parto. Nesta quinta-feira, o ex-quase-futuro presidenciável anunciou sua segunda desistência. E ninguém conhece uma mísera ideia do agora ex-presidenciável. Toda aquela vocação para a vida pública, as boas intenções, o imenso desejo de servir ao povo, tudo aquilo foi suplantado pelo risco de perder as duas invenções mais sedutoras da humanidade: fama e dinheiro. “Contem comigo, mas não como candidato a presidente”, reiterou Huck.
Ampliar
2002
- Durante a eleição para presidente de 2002, em que Lula venceu,
Luciano Huck subiu em palanque tucano, realizado em Teófilo Otoni (MG), a
favor de José Serra (PSDB). No comício, estavam Serra, Aécio Neves, o
ex-governador de Minas Gerais Eduardo Azeredo (acusado de participação
no mensalão tucano) e o cantor Leonardo VEJA MAIS > Imagem: Alan Marques/Folhapress
Huck aprendeu com o grão-mestre do tucanato que, dissociado de uma vistosa coligação partidária, a carruagem do PPS viraria abóbora antes do melhor da festa. Sem reforço, o apresentador não seria eleito. Elegendo-se com sua própria popularidade, o Congresso não o deixaria governar. Se deixasse, cobraria caro. E o novato logo veria transformar-se em realidade o pesadelo de apostar a governabilidade de sua hipotética administração numa mesa com a presença do PMDB de raposas com a experiência de Temer, Padilha, Moreira e Jucá.
Com a noção de meios e fins já meio embaralhada no caldeirão que ardia no interior de sua cabeça, Huck ainda flertou com um partido que, salvo pequenos hiatos, frequenta o poder desde as caravelas: o DEM —ex-Arenda, ex-PFL… Huck foi refugado como se fosse lata velha irreformável. A despeito de ter contas a ajustar com a Lava Jato, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, enxerga na conjuntura de ponta-cabeça uma chance de chegar, ele próprio, ao Planalto —sem intermediários.
Suavemente, familiares e amigos de Huck foram levando o pé à porta. Com firmeza, os patrocinadores e o empregador do personagem esclareceram que não permitiram que suas logomarcas escalassem o palanque. A TV Globo informou que mostraria a porta de saída também para Angélica. Sem volta. Aos pouquinhos, o porre cívico de Huck foi dando lugar a uma ressaca monetária.
Engolfada por um sistema político arcaico, a candidatura presidencial de Luciano Huck, o ''novo'', envelheceu antes do parto. Nesta quinta-feira, o ex-quase-futuro presidenciável anunciou sua segunda desistência. E ninguém conhece uma mísera ideia do agora ex-presidenciável. Toda aquela vocação para a vida pública, as boas intenções, o imenso desejo de servir ao povo, tudo aquilo foi suplantado pelo risco de perder as duas invenções mais sedutoras da humanidade: fama e dinheiro. “Contem comigo, mas não como candidato a presidente”, reiterou Huck.
Josias de Souza
Nenhum comentário:
Postar um comentário