Até as 10h30, a Operação Calabar, maior da história do RJ contra corrupção policial, havia prendido 49 PMs e 7 traficantes. Esquema era realizado em São Gonçalo, segundo investigadores.
Uma megaoperação deflagrada na manhã desta quinta (29) busca a prisão
de 96 policiais militares, 70 traficantes e outros criminosos
denunciados por integrarem um esquema de corrupção em São Gonçalo,
Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Segundo a corporação, esta é a
maior ação da história relativa a casos de corrupção envolvendo PMs e
traficantes.
A ação é realizada por agentes da Polícia Civil, do Grupo de Atuação
Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público
(MP-RJ), e da Corregedoria da Polícia Militar. Dos 184 mandados de
prisão preventiva, por volta das 10h30, os agentes já tinham cumprido
56, sendo 49 contra PMs (cinco deles já estavam presos) e sete contra
traficantes (siga a operação em tempo real).
R$ 1 milhão por mês
Os 96 PMs alvos da operação foram denunciados por participação em um
esquema de cobrança de propina a traficantes que rendia, mais ou menos,
R$ 1 milhão por mês aos militares. Alguns desses policiais ainda estão
nas fileiras do efetivo do 7º BPM (São Gonçalo).
Os policiais detidos irão responder por organização criminosa e
corrupção passiva. Já os bandidos respondem por tráfico, organização
criminosa e corrupção ativa.
Calabar
O nome Calabar é uma referência a Domingos Fernandes Calabar,
considerado por muitos o maior traidor da história do país. Segundo
historiadores, ele era um conhecido senhor de engenho no Brasil Colônia
(século 17), na capitania de Pernambuco, e se aliou aos holandeses
quando eles invadiram as terras brasileiras, na época sob domínio
português. Conhecedor da região, teria ajudado nas conquistas
holandesas.
Há casos também, segundo a polícia, de sequestros de traficantes realizados pelos PMs. Nas escutas, os agentes identificaram que os militares chegavam a cobrar R$ 10 mil pelo resgate de bandidos.
Outra das conclusões do inquérito é que todas as semanas, de
quinta-feira a domingo, as viaturas do batalhão circulavam por ruas de
São Gonçalo exclusivamente para recolher o "arrego" que, no jargão, é a
quantia paga por criminosos a policiais para não atrapalhar os negócios
de bandidos. O valor cobrado pelos PMs variava entre R$ 1,5 mil e R$ 2,5
mil para cada equipe de policiais que estava de plantão.
Agentes que investigaram o esquema estimam que a venda de favores e
cobrança de dinheiro a traficantes rendesse, pelo menos, R$ 350 mil por
semana aos PMs que estavam no Grupamento de Ações Táticas (GAT),
Patrulha Tático Móvel (PATAMO), Serviço Reservado (P-2), no Destacamento
de Policiamento Ostensivo (DPO) e Ocupação (uma espécie de "UPP" de São
Gonçalo).
Início da investigação
O esquema foi descoberto há quase um ano pela Delegacia de Homicídios
de Niterói e São Gonçalo (DHNSG). A primeira pista do esquema surgiu a
partir da prisão de um dos suspeitos apontado como responsável por
recolher a propina para os policiais.
Ele foi preso em fevereiro de 2016, na Avenida do Contorno, com R$ 28
mil em espécie, que seriam relativos ao pagamento de propina de
traficantes a policiais do 7º BPM (São Gonçalo). Na ocasião, agentes da
delegacia de homicídios avaliava o local onde havia morrido um PM e
desconfiaram de um carro que passou pelo viaduto diversas vezes.
Decidiram, então, abordá-lo.
O suspeito preso aderiu à delação premiada (algo inédito no âmbito de
segurança) e detalhou o esquema que envolvia centenas de policiais em
mais de 50 comunidades do município. A principal testemunha foi incluída
no sistema de proteção à vítima e testemunha.
O resultado de investigação só foi possível graças ao trabalho de
escuta de agentes, que identificou 2 mil diálogos entre PMs e
traficantes considerados "chaves" pela polícia para elaborar o inquérito
e indiciar os suspeitos. Para chegar ao resultado, policiais da
delegacia especializada interceptaram mais de 250 mil ligações.
PMs buscavam dinheiro em favelas
Para não levantar suspeita, os investigadores dizem que os PMs
escolhiam pessoas "de confiança" para os serviços de "recolhe". Também
segundo os agentes, essas pessoas recebiam dinheiro e falavam
diretamente com os traficantes.
No entanto, várias vezes, fontes na Polícia Civil informaram que os
próprios militares buscavam as quantias nas comunidades, fardados ou à
paisana.
A propina, então, era distribuída em pelo menos sete bairros de São
Gonçalo. O valor, de acordo com as informações, era pago pelos
"atravessadores" em vários pontos: nas próprias DPOs, em padarias,
viadutos ou até mesmo dentro do alojamento do batalhão.
Justamente por isso, nesta manhã, a Polícia Civil faz uma devassa no
7ºBPM (Alcântara), alvo de mandados de busca e apreensão. Lá serão
presos pelo menos 12 policiais que vão estar de plantão. Outros oito
foram transferidos para o 12º BPM (Niterói) e serão presos na unidade.
O que diz a PM?
"Policiais militares, todos nós iniciamos o dia de hoje incomodados
pela operação que está em curso. Sentimos na própria pele toda vez que
policiais militares são acusados de crimes graves. Mas não podemos
deixar de ressaltar que se trata de uma operação necessária para nos
fortalecer. A operação de hoje, ao contrário do que alguns querem
construir, teve participação constante da Corregedoria Interna da PM, o
que mostra que não foram órgãos externos que protagonizaram essa ação.
Desafiamos outro órgão correcional de qualquer segmento profissional a
mostrar resultados tão contundentes quanto a Corregedoria da PM na
apuração de desvios e exclusão de seus agentes", diz a nota postada em
redes sociais.DO G1
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