É claro
que o TSE cedeu à reivindicação do PSDB e autorizou uma auditoria nas
eleições. A voz das pessoas decentes, que foram às ruas, venceu. Cheguei
a pensar que o tribunal havia negado que se tratasse de uma auditoria,
mas eram apenas os setores confusos da imprensa — isso na hipótese
benigna. Ficam mal o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e o
corregedor do tribunal, João Otávio de Noronha, que haviam emitido
opiniões absurdas a respeito. O segundo falou fora dos autos. O outro
misturou alhos com bugalhos e especulou até sobre preconceito regional,
num parecer meio aloprado. O site do TSE é explícito, num texto cujo
título é este: “TSE aprova auditoria do PSDB sobre sistemas eleitorais
de 2014”. Lá está escrito: “Por unanimidade de votos, o Plenário do
Tribunal Superior Eleitoral (TSE) acolheu, na sessão desta terça-feira
(4), pedido do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) para que a
sigla tenha pleno acesso aos sistemas de votação, apuração e
totalização dos votos das eleições de 2014 para que o partido possa, se
desejar, realizar uma auditoria própria”. Alguma dúvida?
Atenção! O
TSE cedeu a rigorosamente todos os pedidos do PSDB, com exceção de um, e
é isso que chegou a gerar certa confusão. O partido havia pedido que os
dados da eleição fossem tornados disponíveis a uma comissão formada por
partidos políticos. Não haverá essa comissão. Mas o PSDB indicará um
grupo de peritos que terão acesso a todas as informações — até onde se
sabe, rigorosamente todas. As dúvidas suscitadas e as múltiplas
denúncias de irregularidades poderão ser confrontadas com o sistema,
para saber se ele é seguro. É o que as ruas estavam pedindo. Sabem o
nome disso? Auditoria!
Mas há
gente querendo chamar de outra coisa. Como já citei aqui, certa estava,
neste particular ao menos, Julieta, a adolescente maluque de
Shakespeare: se a rosa tivesse outro nome, ainda assim, teria igual
perfume. Se alguém quer chamar de outra coisa a auditoria, por que não
chama de “rosa”?
Não se
trata, é bom que fique claro, de uma recontagem de votos — até porque,
no sistema eletrônico, o procedimento nem seria exatamente esse.
Trata-se de averiguar se as muitas denúncias de irregularidades procedem
ou não; se o sistema está ou não sujeito a intercorrências externas.
Ninguém quer derrubar a presidente Dilma Rousseff por isso. Não é e
nunca foi esse o intento. A menos, claro, que se chegue a uma fraude. O
ponto é e sempre foi outro.
É mentira
que as pessoas que estão protestando nas ruas, cobrando a auditoria,
integrem, como chegou a afirmar, lamentavelmente, a Abraji (Associação
Brasileira de Jornalismo Investigativo), “grupos insatisfeitos com o
resultado das eleições presidenciais”. De saída, lembro que, nas
democracias, “grupos insatisfeitos com o resultado das eleições” podem,
sim, se manifestar, desde que o façam dentro dos limites legais. Mas
não! Não era e não é o caso! Os cidadãos querem saber mais sobre o
sistema das urnas eletrônicas — um direito legítimo — e pedem o
impeachment de Dilma na hipótese, e só nesta hipótese, de que ela
soubesse dos desmandos na Petrobras. Ela não sabia? Então fica. Ela
sabia? Então sai. Leis existem e têm de ser cumpridas. Não é uma
operação tão complexa.
Também é
mentira que os que pedem intervenção militar deem a direção do protesto.
Essa é uma distorção lançada no mercado de ideias pelo jornalismo
“parapetista”, cuja militância é mais pernóstica porque não é clara.
Afirma-se como dado de realidade o que é só uma distorção ideológica
deliberada.
João
Otávio de Noronha, corregedor do TSE, estava errado. Rodrigo Janot,
procurador-geral da República estava errado. A auditoria não enfraquece a
democracia nem põe sob suspeição o resultado das eleições. Na verdade,
ela vai fortalecer a confiança das pessoas nas urnas eletrônicas caso
não se encontrem falhas.
Os que
tentaram colar no povo a pecha de golpistas foram derrotados pelos fatos
e pela mobilização nas ruas e nas redes sociais. É esse o caminho.
Texto publicado originalmente às 3h
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