André Vargas, IstoE
O ex-presidente Lula constatou in loco que o seu capital político se
esvaiu pelo ralo. Apesar de ter demonstrado êxito nas armações de
bastidor no STF, ao realizar na semana passada uma fantasiosa caravana
de pré-campanha à Presidência por dez cidades do Rio Grande do Sul, o
petista se deparou com mais opositores do que com correligionários e
praticamente foi escorraçado das cidades por onde passou, como Bagé,
onde deu início ao fracassado projeto. Por todas as cidades do périplo
pelo Sul, Lula foi recebido com vaias e até pedradas contra os três
ônibus que compunham sua comitiva.
“Não vamos pagar pelo que essa gente fez ao Brasil” Divaldo Lara (PTB), prefeito de Bagé
Os protestos inflamados contra Lula começaram já na chegada ao campus da
Universidade Federal do Pampa (Unipampa), na segunda-feira 19, o
primeiro ato da caravana. A comitiva petista se deparou com outdoors
espalhados pela cidade proclamando “Bagé não, Lula Ladrão” e um pixuleco
– boneco com a imagem de Lula vestido de presidiário – em uma gaiola no
alto de uma grua, instalada nas imediações da universidade onde o
ex-presidente falaria. Cerca de dois mil opositores aguardavam a
comitiva dos ônibus petistas. Eles foram vaiados e rechaçados. Alguns
militantes do MST se dirigiram ao local para apoiar o petista, mas foram
alvejados com pedras pelos militantes contrários ao ex-presidente,
sobretudo por ruralistas da região. O buzinaço que promoveram abafou o
discurso de Lula na porta da universidade. Acostumado a pronunciamentos
longos e espalhafatosos, Lula dessa vez falou por meros oito minutos.
Coube à ex-presidente Dilma tentar rebater os ruralistas: “Nós fomos o
governo mais deu recursos aos produtores rurais”, disse ela, sem
mencionar obviamente os crimes cometidos por seu mentor político. Em
meio ao tumulto, a visita à universidade foi abreviada. Entre os mais
exaltados estava o prefeito de Bagé, Divaldo Lara (PTB), que fez
discurso inflamado: “Não vamos pagar pelo que essa gente fez ao Brasil”.
Sem conseguir circular por Bagé livre de apupos, Lula reclamou. “Saio
triste daqui”.
A história se repetiu em Santana do Livramento. Nem a companhia do
ex-presidente do Uruguai José Pepe Mujica ajudou na segunda parada da
viagem. Na verdade, nem Mujica aliviou. Recomendou que a esquerda
“cuidasse enormemente” do modo de agir de seus líderes e que os partidos
não devem se organizar em torno de uma “figura única”. Os protestos
prosseguiram na terça 20, em Santa Maria, onde houve uma tentativa de
bloqueio na entrada da cidade, o que obrigou a comitiva a ser escoltada
pela polícia.
No caixão de Getúlio
Em São Borja, onde estão enterrados os presidentes Getúlio Vargas e João
Goulart, a caravana lulista teve que fazer um desvio por uma estrada de
terra que cruza dois assentamentos do MST para evitar um bloqueio na
rodovia feito por ruralistas. No local, Lula fez um discurso de 20
minutos na praça ao lado do Mausoléu de Getúlio, de novo debaixo de
vaias de manifestantes. Em função das hostilidades, petistas chegaram a
sugerir que Lula interrompesse sua charanga desafinada, mas ele decidiu
prosseguir até o fim. Como se nota, o petista, acometido por uma
cegueira moral, se recusa a enxergar o próprio infortúnio político. DO J.TOMAZ
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