Josias de Souza
Com o mandato pendurado num veredicto a ser proferido pelo Tribunal Superior Eleitoral, Michel Temer pediu aos ministros da Corte que julguem o processo que pode interromper sua presidência num país alternativo: o Brasil sem as doações eleitorais radioativas. Um Brasil que poderia ter sido se a Odebrecht não existisse.
Por meio dos seus advogados, Temer protocolou no TSE uma petição que sustenta, com outras palavras, a tese segundo a qual o pior cego é o que vê algum valor processual nas provas devastadoras resultantes da colaboração da Odebrecht. Alega-se que tudo o que está na cara deve ser desconsiderado.
Documento subscrito pelo advogado Luiz Fernando Casagrande Pereira recorda que, pela lei, os resultados eleitorais devem ser impugnados até 15 dias depois da diplomação dos eleitos. No caso da chapa Dilma—Temer, o prazo expirou em 1º de janeiro de 2015. Nenhum fato descoberto posteriormente poderia compor a ação.
A peça que inaugurou o processo, embora tenha sido protocolada pelo PSDB de Aécio Neves dentro do prazo legal, não fazia menção ao dinheiro sujo da Odebrecht. Portanto, a defesa de Temer exige que o julgamento ocorra num Brasil fictício onde essas doações, que somaram R$ 150 milhões, não aconteceram.
Deseja-se que as sete togas do TSE fechem os olhos para o caixa dois, a verba roubada da Petrobras, a propina em troca de uma medida provisória, a compra do tempo de televisão dos partidos, o dinheiro depositado na conta do João Santana na Suíça… Nada disso precisa ser explicado. E o assunto deve ser encerrado.
É com base nesta farsa que Temer pede a extinção da encrenca. Se houver boa vontade dos julgadores, o substituto constitucional de Dilma se dispõe a conviver até 2018 com os 27 volumes do processo, fingindo que eles não existem. Ou usando-os como base para uma mesa de centro na sala presidencial.
O dinheiro sujo que empresas como a Odebrecht transformam em doações eleitorais podem virar muitas coisas. Nos últimos 50 anos, graças à desfaçatez dos políticos e à inépcia da Justiça Eleitoral, passaram de exceção a hábito. Depois, disseminaram-se como parâmetro. Súbito, deram na Lava Jato. Temer pode chamar o descalabro do que quiser. Mas o melado continua escorrendo. DO J.DESOUZA
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