O governo federal sabia que o governo de São Paulo, por intermédio da Polícia Militar, teria de obedecer à determinação da Justiça e garantir a reintegração de posse da região conhecida como Pinheirinho. É simplesmente mentira — mentira documentada (voltarei ao assunto nos próximos dias) — a história de que teria oferecido alternativas à Prefeitura de São José dos Campos. Quando percebeu que não havia saída, fingiu se interessar pelo caso e ficou como aqueles crocodilos à espera dos gnus que vão atravessar o rio: pronto para se refestelar no sangue. Mas a história não saiu conforme o figurino esperado. Não houve o banho de sangue, não houve mortos, não houve uma legião de feridos.
A canalha a soldo da Internet bem que tentou inventar os mortos. A Agência Brasil chegou a publicar uma entrevista celerada em que um militante denunciava assassinatos e ocultação de cadáveres. Tudo devidamente desmoralizado pelos fatos. Num primeiro momento, Carvalho se limitou a dizer que o governo federal não agiria daquele modo e coisa e tal. Não deixou claro o que queria dizer com aquilo. O governo federal não cumpriria a lei? Falando a ONGs e militantes a portas fechadas em Porto Alegre, Dilma afirmou o que não dissera em público. Classificou a ação de “barbárie”. Queria que o jornalismo fizesse o que ele fez: que fosse perguntar a Alckmin, em on, o que achava da fala da presidente, vazada numa espécie de off. Isso é tramóia palaciana.
Ontem, Gilberto Carvalho — de tão relevantes serviços prestados ao PT no episódio da morte de Celso Daniel —, falando no Fórum Social de Porto Alegre, ao lado de Tarso Genro, governador do Rio Grande do Sul (PT), subiu vertiginosamente o tom e classificou a atuação da polícia de “terrorismo”. A sua irresponsabilidade política e vocabular é assombrosa. Ele deveria dizer que alternativa tinham Alckmin e a Polícia Militar diante de uma ordem da Justiça. Não há um só petista que entre nesse mérito porque eles não estão preocupados com a verdade, mas apenas com a exploração política do caso.
Terrorismo? Ora, ora… Quanta gente falando de corda em casa de enforcado! Terrorista é Cesare Battisti, recebido no Palácio Piratini por Tarso Genro, o ministro que decidiu manter o assassino no Brasil, com apoio incondicional de Gilberto Carvalho. Terrorista é Mahmoud Ahmadinejad, o amigo do chefe de Carvalho, tratado pelo governo Lula como grande líder. Terrorista era aquele membro da Al Qaeda preso no Brasil — e solto em seguida — porque o país não dispõe de uma lei para punir os crimes de terror. E só não dispõe porque o PT não quer e considera a proposta “reacionária”. Terroristas são as Farc, com as quais o petismo e o governo brasileiro, em graus variados, já flertaram. Terroristas são as ameaças feitas à família de Celso Daniel, que teve de deixar o país. Terroristas são alguns grupos com os quais os petistas convivem ainda hoje no tal Fórum.
Em São Paulo, cumpriu-se uma reintegração de posse. Infelizmente para o partido de Carvalho, a operação não saiu ao gosto dos crocodilos, e ninguém pôde se refestelar no sangue que não houve. O secretário da Casa Civil do Estado, Sidney Beraldo, reagiu. “É inadmissível o oportunismo político do ministro. Antes de fazer ataques covardes a São Paulo, ele deveria explicar porque, desde o início da ocupação, em 2004, o governo federal não ofereceu solução concreta para as famílias. O ministro demonstra que não está à altura do cargo que ocupa. Se terrorismo houve, foi na irresponsabilidade verbal do ministro”
A fala de Carvalho é própria de quem, de fato, ainda não entendeu como funciona o regime democrático. Não por acaso, o PT substituiu o desejo de censurar a imprensa por, sabe-se agora, uma nova disposição: ampliar a mídia estatal para tentar emparedar e intimidar a imprensa livre e independente. E até os evangélicos entraram na dança — é bom que se cuidem!
Leiam o que informa Bernardo Mello e Franco na Folha de hoje. Volto depois:
Estado deve fazer mídia para a classe C, diz ministroO ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho (PT), afirmou ontem que a chamada nova classe média não pode ser deixada “à mercê” dos meios de comunicação no país. Em discurso no Fórum Social Temático, ele disse que o governo deve “radicalizar” a democracia e investir em comunicação de massa, sem uso de autoritarismo. “Toda essa gente que emerge ficará à mercê da ideologia disseminada pelos meios de comunicação?”, perguntou Carvalho a uma plateia formada por ativistas de esquerda. “Aqui, com todo o cuidado, o Estado pode ter uma vertente autoritária. Como fomentar um processo de ampla comunicação de massa que possa ser o palco desse grande debate democrático?”, questionou.
No debate, o governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT), acusou a mídia de fazer campanha contra políticos “em escala global”. De acordo com o governador, o objetivo seria “a despolitização e a despartidarização na democracia”. Gilberto Carvalho disse que o governo não pode ter “ciúme das clientelas” que não batem mais às suas portas, numa referência a quem deixou o programa Bolsa Família, e defendeu uma disputa ideológica com líderes evangélicos pelos setores emergentes.
Estado deve fazer mídia para a classe C, diz ministroO ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho (PT), afirmou ontem que a chamada nova classe média não pode ser deixada “à mercê” dos meios de comunicação no país. Em discurso no Fórum Social Temático, ele disse que o governo deve “radicalizar” a democracia e investir em comunicação de massa, sem uso de autoritarismo. “Toda essa gente que emerge ficará à mercê da ideologia disseminada pelos meios de comunicação?”, perguntou Carvalho a uma plateia formada por ativistas de esquerda. “Aqui, com todo o cuidado, o Estado pode ter uma vertente autoritária. Como fomentar um processo de ampla comunicação de massa que possa ser o palco desse grande debate democrático?”, questionou.
No debate, o governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT), acusou a mídia de fazer campanha contra políticos “em escala global”. De acordo com o governador, o objetivo seria “a despolitização e a despartidarização na democracia”. Gilberto Carvalho disse que o governo não pode ter “ciúme das clientelas” que não batem mais às suas portas, numa referência a quem deixou o programa Bolsa Família, e defendeu uma disputa ideológica com líderes evangélicos pelos setores emergentes.
Voltei
Ora, ora… Se Dilma não botar Gilberto Carvalho na rua, e ela não vai, então é mentira que, na sua opinião, o único controle da mídia deve ser o controle remoto. Há aí, claramente, uma anunciada disposição de pôr a força do estado para concorrer com a imprensa livre, cuja ideologia, nota-se, Carvalho não considera boa. Uau! Até parece que o jornalismo brasileiro, na média, é excessivamente crítico… Não é por acaso que o governo federal e as estatais financiam tantos delinqüentes na Internet. Carvalho diz que é preciso tomar cuidado para não ser autoritário… Só faltava confessar a intenção contrária, não é mesmo? A simples pretensão de que cabe ao Estado enfrentar uma suposta ideologia dominante dos “meios de comunicação” já fala por si.
Ora, ora… Se Dilma não botar Gilberto Carvalho na rua, e ela não vai, então é mentira que, na sua opinião, o único controle da mídia deve ser o controle remoto. Há aí, claramente, uma anunciada disposição de pôr a força do estado para concorrer com a imprensa livre, cuja ideologia, nota-se, Carvalho não considera boa. Uau! Até parece que o jornalismo brasileiro, na média, é excessivamente crítico… Não é por acaso que o governo federal e as estatais financiam tantos delinqüentes na Internet. Carvalho diz que é preciso tomar cuidado para não ser autoritário… Só faltava confessar a intenção contrária, não é mesmo? A simples pretensão de que cabe ao Estado enfrentar uma suposta ideologia dominante dos “meios de comunicação” já fala por si.
E é bom os evangélicos irem botando as barbas de molho. Hoje, não são poucas as correntes que foram cooptadas pelo petismo. Carvalho deixa claro que isso é só uma fase da construção da hegemonia petista. Ele já está enxergando a hora em que é preciso “concorrer” também com as igrejas, uma vez que considera que a etapa de destruição dos partidos adversários já está quase consolidada.
Encerro assim: é claro que o PT não quer mais o socialismo à moda antiga no Brasil. Seu modelo é o capitalismo de estado, com o capital de joelhos, submetido às suas vontades. Carvalho quer iniciar agora a ”segunda revolução”: os fagócitos petistas precisam agora digerir as empresas de comunicação e as igrejas.
REV VEJA
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