quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Juízes, procuradores e artistas fazem ato em apoio a Marcelo Bretas


  • 24/08/2017 21h31
  • Rio de Janeiro
Vladimir Platonow - Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Artistas, juízes federais, políticos e procuradores da força tarefa da Operação Lava-Jato participam de ato em apoio ao juiz Marcelo Bretas (Fernando Frazão/Agência Brasil)
Artistas, juízes federais, políticos e procuradores da força tarefa da Operação Lava-Jato participam de ato em apoio ao juiz Marcelo BretasFernando Frazão/Agência Brasil
O juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, responsável pelos casos da Operação Lava Jato no estado, recebeu apoio de juízes, procuradores, políticos e artistas em ato realizado nesta quinta-feira (24) na capital. Bretas foi ironizado recentemente pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, após ter determinado a prisão do empresário de ônibus Jacob Barata Filho, que já havia sido solto após um habeas corpus condedido por Mendes.
Na ocasião, o ministro disse que “não era o rabo que abana o cachorro, mas o cachorro que abana o rabo”, em alusão a Bretas estar em uma instância jurídica inferior a do STF. A frase provocou reações em vários setores da sociedade, principalmente no Judiciário. O caso ganhou mais repercussão porque Gilmar Mendes foi padrinho de casamento da filha de Barata, em 2013, o que levou o procurador geral da República, Rodrigo Janot, a encaminhar um pedido de suspeição no caso. Apesar da polêmica, Mendes disse que não tem relação pessoal com Jacob Barata e defendeu que não há motivos que o impeçam de julgar o caso.
O presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe), Roberto Veloso, disse que o ato não era apenas em apoio a Bretas, mas também às investigações em curso no país, principalmente à Operação Lava Jato.
“Nós estamos vendo que há uma orquestração contra a Lava Jato. Não é só este tipo de agressão feita ao juiz federal Marcelo Bretas, mas uma série de outras medidas que estão sendo tomadas, que visam a intimidar e enfraquecer o Judiciário. Essa atitude de Gilmar Mendes não é nova. Ele insiste em atacar os magistrados que estão responsáveis pela Operação Lava Jato. Assim foi feito em relação ao juiz Sérgio Moro e agora está sendo feito em relação ao Marcelo Bretas. Não é possível que um ministro da Suprema Corte venha à imprensa agredir verbalmente o trabalho de um magistrado”, declarou Veloso.
A procuradora da República no Rio de Janeiro, Maria Cristina Cordeiro, também esteve presente e manifestou repúdio à forma como Mendes vem se referindo aos membros do Ministério Público e da magistratura. “O que vem acontecendo sinaliza uma pretensão de enfraquecer a Operação Lava Jato. Nós do Ministério Público Federal também estamos sendo vítimas de ofensas. Assim como ele vem se referindo ao juiz Marcelo Bretas, também vem se referindo aos colegas que fazem parte da força-tarefa da Lava Jato aqui no Rio de Janeiro”, disse Maria Cristina.
Rio de Janeiro - O cantor Caetano Veloso e o juiz Marcelo Bretas durante ato de artistas, juízes federais, políticos e procuradores da força tarefa da Operação Lava-Jato, em apoio ao juiz (Fernando Frazão/Agência Brasil)
O cantor Caetano Veloso e o juiz Marcelo Bretas durante ato no Rio de JaneiroFernando Frazão/Agência Brasil
Além de membros do Judiciário, compareceram ao ato diversos artistas como Caetano Veloso, Tiago Lacerda, Paula Lavigne, Christiane Torloni, Marcelo Serrado, Paula Burlamarqui, Lucinha Lins e Jorge Vercilo. Eles estenderam uma faixa com a frase “Bretas, o Rio está com você”. Caetano explicou os motivos do apoio dos artistas ao juiz.
“Os artistas são uma parte visível da sociedade. É bom que se saiba que a sociedade está se movimentando, que haja respeito pela ação que essas pessoas estão desenvolvendo no Brasil. Há projetos na Câmara que são retrógrados. Eu estou aqui apoiando o Marcelo Bretas, honrosamente, em nome de minha classe. Eu, instintivamente, me identifico com a posição do Bretas. Há uma ameaça à Lava Jato, ao desfazimento da organização corrupta que insiste em se manter no Brasil. O fato é que a gente sente necessidade de reagir”, disse Caetano.
Bretas não discursou, nem falou com a imprensa. A reportagem procurou a assessoria do ministro Gilmar Mendes para se manifestar sobre as críticas, mas não teve resposta até a publicação desta matéria.
Edição: Amanda Cieglinski DA EBC....

PSDB susta guerra interna e apodrece em paz

Josias de Souza

Depois de trocar bicadas em público, Tasso Jereissati e Aécio Neves, presidentes interino e licenciado do PSDB, selaram um armistício. Há “paz no ninho tucano”, disse Aécio na saída de uma reunião com os presidentes estaduais do partido.
Havia guerra porque a banda de Tasso executou a cantilena da autocrítica. E a charanga de Aécio continuou tocando de ouvido com Michel Temer. Harmonizados, esses dois conjuntos executam uma peça muito parecida com uma marcha fúnebre.
O PSDB nasceu de uma dissidência que abandonou o PMDB sob o argumento de que não suportava mais a ideia de conviver com gente como Orestes Quércia. Hoje, empurrado pelas circunstâncias para dentro do governo de um PMDB em avançado estágio de decomposição, os tucanos se comportam como crianças que brincam na lama depois do banho.
Temer dizia representar uma “ponte para o futuro”. Não passa de uma “pinguela”, disse um cáustico FHC. Pois bem. A ponte tosca ruiu. Caíram todos no lodaçal. A autocrítica de Tasso dava a impressão de que um pedaço do PSDB queria saltar do lodo. Mas a trégua com o grupo de Aécio, que coabita com Temer o escândalo da JBS, mostra uma vocação hedionda para a acomodação. Certos conflitos são vitais. Interrompida a guerra interna, o PSDB já pode apodrecer em paz.

Moro faz um réu em 2 dias; no STF, leva 2 anos

Josias de Souza

Denúnciado pela força-tarefa da Lava Jato na terça-feira, Aldemir Bendini foi enviado por Sergio Moro ao banco dos réus nesta quinta-feira. O juiz da Lava Jato levou dois dias para destrinchar a denúncia. O Supremo Tribunal Federal acaba de converter em réu o senador Fernando Collor, que havia sido denunciado em 20 de agosto de 2015. O contraste ajuda a explicar porque o foro privilegiado virou um outro nome para impunidade no Brasil. Moro fez num par de dias o trabalho que o Supremo leva até dois anos para executar.
Sentados à direita de Deus, os magistrados supremos alegam que a Suprema Corte, sem vocação para julgamentos criminais, não pode ser comparada à jurisdição de Moro, que se dedica exclusivamente à Lava Jato. É verdade. Mas o Supremo não precisaria ser um Éden de criminosos. O julgamento do mensalão mostrou que sua bala de prata, além de aleijar politicamente, envia os corruptos direto para a cadeia. Se não pode manter o ritmo na Lava Jato, o tribunal faria um bem inestimável à sua reputação se remetesse os gatunos para a primeira instância.
A solução está ao alcance do plenário do Supremo. Basta acelerar o julgamento da ação que restringe a abrangência do foro privilegiado. Para que isso ocorra, o ministro Alexandre de Moraes, autor de um pedido de vista que retarda a apreciação da matéria, precisa abrir a sua gaveta.

Silval Barbosa entrega ao MPF imagens de políticos recebendo dinheiro

Ex-governador de Mato Grosso fechou acordo de delação e entregou vídeos para comprovar pagamento de propina em dinheiro vivo. TV Globo teve acesso às imagens com exclusividade.

O ex-governador de Mato Grosso Silval Barbosa (PMDB) entregou ao Ministério Público Federal vídeos que mostram políticos do estado de diversos partidos recebendo dinheiro vivo. A TV Globo teve acesso às imagens com exclusividade.
Segundo Silval Barbosa, as gravações foram feitas pelo então chefe de gabinete Silvio Cesar, que, segundo o ex-governador, era quem entregava o dinheiro. O dinheiro, segundo o ex-governador, era de esquemas de propina no estado.
A delação premiada de Silval Barbosa foi homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no último dia 9.
Nas imagens, o atual prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro (PMDB) aparece recebendo maços de dinheiro e os colocando nos bolsos do paletó. Um dos maços chega a cair no chão, e Pinheiro se abaixa para pegar.
Em outro vídeo, o deputado federal Ezequiel Fonseca (PP) recebeu o dinheiro em uma caixa de papelão. Já o então deputado estadual Hermínio Barreto (PR) leva uma mala, onde coloca os maços.
A atual prefeita de Juara, Luciane Bezerra (PSB) guarda o dinheiro na bolsa. O ex-deputado estadual Alexandre César (PT) recebe o dinheiro e coloca em uma mochila.

O que disseram os políticos

O prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro, disse que não fez nada ilícito e que vai comprovar isso na Justiça.
O deputado estadual Oscar Bezerra, declarou que a esposa dele, Luciane Bezerra, prefeita de Juara, recebeu dinheiro para quitar dívidas de campanha eleitoral.
O advogado de Silvio Cesar disse que não pode comentar porque a delação está sob sigilo.
Os demais citados não foram localizados pela reportagem.

Delação

Em outros trechos da delação, Silval Barbosa citou:

Em carta, procuradores pedem a ministros do STF para 'conter' Gilmar Mendes


Associação Nacional dos Procuradores da República critica comportamento do ministro e pede aos demais magistrados que o declarem suspeito para julgar Operação Ponto Final.

Por Alessandra Modzeleski e Fernanda Calgaro, G1, Brasília
O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), em imagem de junho (Foto: André Dusek/Estadão Conteúdo)
O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), em imagem de junho (Foto: André Dusek/Estadão Conteúdo)
Em uma carta aberta aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), a Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) pediu aos magistrados para "conter ação e comportamento" de Gilmar Mendes (leia a íntegra da carta ao final desta reportagem).
No documento, a ANPR afirma que o ministro "se destaca e destoa por completo" do comportamento dos demais ministros da Corte e critica a "desenvoltura" com que, segundo a associação, Gilmar Mendes se envolve no debate de assuntos "fora dos autos".
O G1 buscava contato com o ministro até a última atualização desta reportagem.
Ao criticar o comportamento do ministro, a associação de procuradores questiona a imparcialidade de Gilmar Mendes para atuar nos processos da Operação Ponto Final, que envolve os empresários Jacob Barata e Lélis Teixeira.
A entidade faz um apelo à Suprema Corte para que o pedido de suspeição de Gilmar, apresentado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, seja aceito.
No documento, a ANPR ressalta que “apenas o Supremo pode conter, pode corrigir, um ministro da própria Corte, quando seus atos e exemplos põem em dúvida a credibilidade de todo o Tribunal e da Justiça”.
A suspeição de Gilmar Mendes foi levantada pela força-tarefa da Operação Lava Jato no Rio de Janeiro por conta de ligações dele com réus do caso.
O ministro foi padrinho de casamento da filha de Jacob Barata Filho. Além disso, ele é um dos sócios da empresa Autoviação Metropolitana, que tem, no quadro societário, uma empresa de Francisco Feitosa de Albuquerque Lima, cunhado de Gilmar Mendes.
Relator da ação a que os empresários respondem no Supremo, Gilmar Mendes foi responsável pela soltura deles duas vezes nas últimas semanas. O ministro também mandou soltar outras pessoas investigadas no caso.
"Já disse a Corte Europeia de Direitos Humanos que 'não basta que o juiz atue imparcialmente, mas é preciso que exista a aparência de imparcialidade; nessa matéria inclusive as aparências têm importância'. Viola a aparência de imparcialidade da Suprema Corte brasileira a postura do ministro que, de um lado, e no mesmo processo, lança ofensas e sombras sobre agentes públicos, inclusive seus colegas, ataca decisões judiciais de que discorda, e finda por julgar pai de apadrinhado e sócio de cunhado", afirma a ANPR.
"Senhores ministros, apenas o Supremo pode corrigir o Supremo, e apenas a Corte pode - e deve, permita-nos dizer - conter ação e comportamento de ministro seu que põe em risco a imparcialidade. Um caso que seja em que a Justiça não restaure sua inteira imparcialidade, põe em risco a credibilidade de todo Poder Judiciário", complementam os procuradores.

Críticas

Na carta, a entidade também critica declarações de Gilmar contra procuradores e o Ministério Público e diz que o ministro "parece ter voltado a uma de suas predileções", que é a de "atacar de forma desabrida e sem base instituições e a membros do Poder Judiciário e do Ministério Público, do Procurador-Geral da República a Juízes e Procuradores de todas as instâncias".
"Notas públicas diversas já foram divulgadas para desagravar as constantes vítimas do tiroteio verbal - que comumente não parece ser desprovido de intenções políticas - do ministro Gilmar Mendes", diz a ANPR.
A associação criticou ainda as declarações públicas do ministro, que, segundo a ANPR, causam "perplexidade ao país" e que fogem "do papel e do cuidado que se espera de um juiz".
"Salta aos olhos que, em grau e assertividade, e em quantidade de comentários, Sua Excelência se destaca e destoa por completo do comportamento público de qualquer de seus pares".
Essa não é a primeira manifestação da entidade sobre a conduta do ministro. Recentemente, a ANPR divulgou nota contra "ataques em termos pessoais" de Gilmar contra Rodrigo Janot.
No comunicado, a entidade disse que o magistrado "ignora respeito que tem de existir entre as instituições" e apontou um "furor mal contido" do ministro, que classificou Janot como o "procurador-geral mais desqualificado que já passou pela história da Procuradoria".
O ministro Gilmar Mendes e procurador-geral da República, Rodrigo Janot (Foto: André Dusek / Estadão Conteúdo e Marcelo Camargo / Agência Brasil)
O ministro Gilmar Mendes e procurador-geral da República, Rodrigo Janot (Foto: André Dusek / Estadão Conteúdo e Marcelo Camargo / Agência Brasil)

Íntegra

Leia a íntegra da carta divulgada pela ANPR:
CARTA ABERTA DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS PROCURADORES DA REPÚBLICA AOS MINISTROS DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
Excelentíssimos Senhores Ministros,
Em nossa língua pátria, "supremo" é o que está acima de todos os demais. É o grau máximo. Em nossa Constituição, evidentemente não por acaso, a Corte que Vossas Excelências compõem é a cúpula do Poder Judiciário. É a responsável, portanto, por dizer por último e em definitivo o direito. Seus componentes - Vossas Excelências - estão acima de corregedorias, e respondem apenas a suas consciências. E assim tem de ser, em verdade, posto nosso sistema jurídico.
Isto traz, todavia, permitam-nos dizer, enorme responsabilidade, pois nos atos, nas decisões, no comportamento e nos exemplos, Vossas Excelências são e têm de ser fator de estabilidade. Vossas Excelências são, em larga medida, a imagem e a pedra em que se assenta a justiça no País.
De outra banda, o Tribunal - em sábia construção milenar da civilização - é sempre um coletivo. Cada um de seus componentes diz o direito, mas é o conjunto, a Corte, que o forma e configura, pela composição e debate de opiniões. O erro é da natureza humana. Mas espera-se - e sem duvida nenhuma logra-se - que o conjunto de mulheres e homens acerte mais, aproxime-se mais da Justiça.
É lugar comum, portanto - e seria incabível erro pretender argumentar isso com o STF, que tantas vezes na história recente provou ter perfeita consciência de seu papel fundamental no País; aqui vai o ponto apenas porque necessário para a compreensão dos objetivos da carta - que a instituição, o Tribunal, é maior do que qualquer de seus componentes.
Postas estas premissas, instamos a que Vossas Excelências tomem o pedido público que se segue como um ato de respeito, pois assim o é. É do respeito ao Supremo Tribunal Federal e do respeito por cada um de seus componentes que exsurge a constatação de que apenas o Supremo pode conter, pode corrigir, um Ministro da própria Corte, quando seus atos e exemplos põem em dúvida a credibilidade de todo o Tribunal e da Justiça. Não se pretende aqui papel de censores de Membros do Supremo. Não existem corregedores do Supremo. Há a própria Corte. Só o próprio Tribunal pode exercer este papel.
Excelentíssimos Ministros, não é de hoje que causa perplexidade ao País a desenvoltura com que o Ministro Gilmar Mendes se envolve no debate público, dos mais diversos temas, fora dos autos, fugindo, assim, do papel e do cuidado que se espera de um Juiz, ainda que da Corte Suprema.
Salta aos olhos que, em grau e assertividade, e em quantidade de comentários, Sua Excelência se destaca e destoa por completo do comportamento público de qualquer de seus pares. Magistrados outros, juízes e membros do Ministério Público, de instâncias inferiores, já responderam a suas corregedorias por declarações não raro bem menos assertivas do que as expostas com habitualidade por Sua Excelência. Não existem corregedores para os Membros do Supremo. Há apenas a própria Corte.
Mas a Corte é a Justiça, e não se coaduna com qualquer silogismo razoável propor que precisamente o Supremo e seus componentes estivessem eventualmente acima das normas que regem todos os demais juízes.
Nos últimos tempos Sua Excelência, o Ministro Gilmar Mendes, parece ter voltado a uma de suas predileções - pode-se assim afirmar, tantas foram às vezes que assim agiu -, qual seja, atacar de forma desabrida e sem base instituições e a membros do Poder Judiciário e do Ministério Público, do Procurador-Geral da República a Juízes e Procuradores de todas as instâncias.
Notas públicas diversas já foram divulgadas para desagravar as constantes vítimas do tiroteio verbal - que comumente não parece ser desprovido de intenções políticas - do Ministro Gilmar Mendes. Concentremo-nos, então, na última leva de declarações rudes e injustas - atentatórias, portanto, ao dever de urbanidade - de Sua Excelência, que acompanham sua atuação como relator de Habeas Corpus de presos na Operação Ponto Final, executada no Rio de Janeiro.
Relator do Caso no Supremo, o Ministro Gilmar Mendes não só se dirigiu de forma desrespeitosa ao Juiz Federal que atua no caso, afirmando que, "em geral, é o cachorro que abana o rabo”, como lançou injustas ofensas aos Procuradores da República que oficiam na Lava Jato do Rio de Janeiro, a eles se referindo como “trêfegos e barulhentos”.
Na mesma toada, insinuou que a a posição sumulada - e perfeitamente lógica - de não conhecimento de recursos em habeas corpus quando ainda não julgado o mérito pelas instâncias inferiores estaria sendo usada como proteção para covardia de tomar decisões. Com esta última declaração Sua Excelência conseguiu a proeza de lançar, de uma só vez, sombra de dúvida sobre a dignidade de todas as instâncias inferiores e mesmo a seus colegas de Tribunal, vale dizer, lançou-se em encontro à credibilidade de todo o Poder Judiciário.
Estas declarações trazem desde logo um grave desgaste ao STF e à Justiça brasileira. Nestas críticas parece ter esquecido o Ministro o dever de imparcialidade constante nos artigos 252 e 254 do Código de Processo Penal bem como na Convenção Americana de Direitos Humanos (art. 8º), no Pacto de Direitos Civis e Políticas e na Declaração Universal dos Direitos do Homem.
Ademais, as declarações são absolutamente injustas.
Senhores Ministros, em nome dos Procuradores da República de todo o Brasil reforçamos aqui o apoio aos membros da Força-Tarefa da Operação Lava Jato no Rio de Janeiro, que realizam um trabalho grandioso no combate à corrupção naquele Estado, que notoriamente já foi muito vilipendiado por violentos ataques aos cofres públicos.
O trabalho da Força-Tarefa, que atua com elevada técnica, competência e esmero, já revelou o grande esquema da atuação de organização criminosa no Estado do Rio de Janeiro e continua obtendo resultados expressivos, com recuperação, aos cofres públicos, de centenas de milhões de reais desviados; bloqueio de outras centenas milhões em contas e bens apreendidos; bem como condenações e prisões de agentes públicos e particulares responsáveis pelo enorme prejuízo que esquema de corrupção, peculato e lavagem de dinheiro que a criminalidade organizada estatal causou às instituições e à população do Estado do Rio de Janeiro.
É sempre importante lembrar que, muito do que foi comprovado pela Força-Tarefa da Lava Jato no Rio de Janeiro é consequência da relação promíscua e patrimonialista de agentes públicos e empresários, que resultaram em enorme prejuízo aos cofres públicos e a demonstração de que para as instituições sejam republicanas e imparciais é fundamental que não se confundam relações pessoais com as coisas públicas.
Da mesma forma, a Justiça Federal e o Juiz Federal que cuida do caso no Rio de Janeiro têm sido exemplares em técnica, isenção, imparcialidade e coragem, em trabalho observado e aplaudido por todo o Brasil.
Adjetivos descabidos lançados às instituições é comportamento comum em excessos cometidos por agentes políticos que confundem o público e o privado. Não são esperados, contudo, de um Juiz.
Um fato a mais, todavia, separa as declarações e atos do Ministro Gilmar Mendes neste caso de outros em que se lançou a avaliações públicas não cabíveis. Um conjunto sólido e público de circunstâncias indica insofismavelmente a suspeição do Ministro para o caso, vale dizer, sua atuação (insistente) na matéria retira credibilidade e põe em dúvida a imparcialidade e a aparência de imparcialidade da Justiça.
Gilmar Mendes foi padrinho de casamento (recente) da filha de um dos beneficiados, com a liberdade por ele concedida. Confrontado com este fato por si só sobejamente indicativo de proximidade e suspeição, por meio de sua assessoria o Ministro Gilmar Mendes disse que “o casamento não durou nem seis meses”, como se o vínculo de amizade com a família, cuja prova cabal é o convite para apadrinhar o casamento, se dissolvesse com o fim dele. A amizade - que determina a suspeição - foi a causa do convite, e não o contrário.
Em decorrência deste e de outros fatos - advogado em comum com o investigado, sociedade e notórias relações comerciais do investigado com um cunhado do Ministro, tudo isto coerente e indicativo de proximidade e amizade - o Procurador-Geral da República, após representação no mesmo sentido dos Procuradores da República que atuam no caso, apresentou nesta semana pedidos de impedimento e de suspeição do Ministro Gilmar Mendes ao STF.
Conforme a arguição, há múltiplas causas que configuram impedimento, suspeição e incompatibilidade do ministro para atuar no processo, considerando que há entre eles vínculos pessoais que impedem o magistrado de exercer com a mínima isenção de suas funções no processo.
Já disse a Corte Europeia de Direitos Humanos que “não basta que o juiz atue imparcialmente, mas é preciso que exista a aparência de imparcialidade; nessa matéria inclusive as aparências têm importância.”
Viola a aparência de imparcialidade da Suprema Corte brasileira a postura do ministro que, de um lado, e no mesmo processo, lança ofensas e sombras sobre agentes públicos, inclusive seus colegas, ataca decisões judiciais de que discorda, e finda por julgar pai de apadrinhado e sócio de cunhado.
Espera-se o devido equilíbrio - e aparência de equilíbrio e de imparcialidade, que são também essenciais - no comportamento de um Juiz, com a responsabilidade de julgar de forma equidistante dos fatos e das pessoas diretamente beneficiadas no caso. Da mesma forma é sempre o caminho correto o devido respeito entre as instituições do Ministério Público e do Poder Judiciário, e entre instâncias do próprio Poder Judiciário.
Senhores Ministros, apenas o Supremo pode corrigir o Supremo, e apenas a Corte pode - e deve, permita-nos dizer - conter ação e comportamento de Ministro seu que põe em risco a imparcialidade. Um caso que seja em que a Justiça não restaure sua inteira imparcialidade, põe em risco a credibilidade de todo Poder Judiciário.
Não é a primeira vez que é arguida a suspeição do Ministro Gilmar Mendes, e mais uma vez Sua Excelência - ao menos por enquanto - recusa-se a reconhecer ele mesmo a situação que é evidente a todos.
O exemplo e o silêncio dos demais Ministros e da Corte não são mais suficientes. Com a devida vênia, a responsabilidade para com o Poder Judiciário impõe enfrentar o problema.
A ação do Supremo no caso é essencial para que a imagem e a credibilidade de todo o sistema judiciário brasileiro não saiam indelevelmente abalados. A eventual inação, infelizmente, funcionará como omissão.
A ANPR representa mais de 1.300 Procuradoras e Procuradores da Republica, e confia, como sempre, no Supremo Tribunal Federal.
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS PROCURADORES DA REPÚBLICA - ANPR

O Crime segue rindo da nossa cara



Edição do Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Jorge Serrão - serrao@alertatotal.net

A insegurança jurídica, legitimada por uma Constituição confusa e que não obriga ninguém a cumprir a maioria de suas normas sem regulamentação, é uma das maiores desgraças da Repúbliqueta Capimunista do Brasil. É neste ambiente de regramento excessivo, gerador de impunidade e rigor seletivo, é que o Procurador Geral da República Rodrigo Janot, antes de passar o cargo para sua substituta, em 17 de setembro, pretende apresentar mais uma denúncia criminal contra o Presidente da República.

O curioso é que ainda não se sabe qual crime será imputado a Michel Temer. A tendência é que seja por obstrução da “justiça” e organização criminosa. A Câmara dos Deputados já rejeitou, recentemente, que Temer fosse processado no Supremo Tribunal Federal por corrupção passiva. O Palhasso do Planalto avalia que mantém a média de 120 votos de segurança para barrar qualquer nova denúncia apresentada por Janot em sua “saideira”. Aliás, os parlamentares não querem confusão com o Judiciário...
A Câmara dos Deputados aprovou a retirada do texto da reforma política o trecho que fixava em dez anos o mandato dos magistrados do Supremo Tribunal Federal e outros tribunais superiores. Suas excelências concluíram que essa matéria não tem relação com discussão de reforma política e que deveria ser discutido num projeto à parte. Será que foi isto mesmo, ou eles preferiram não mexer, agora, com quem tem poder de mandar processá-los, prendê-los ou soltá-los?
O negócio é deixar tudo do jeitinho como sempre esteve. O objetivo imediato e aprovar as reformas de araque e permitir que o governo promova sua privataria para cobrir rombos nas contas federais, ao mesmo tempo em que permite que políticos e seus empresários parceiros comprem participações em empresas que devem render dividendos (para eles mesmos) no curto e médio prazos. Assim caminha o Brasil sem previsão de deixar de ser dominado pelo Crime Institucionalizado.
Os bandidos seguem rindo da nossa cara, e isto é gravíssimo!
Troco programado

Gilmar quer acabar com prisões na 2ª instância

Josias de Souza

Adepto da política de celas vazias, o ministro Gilmar Mendes reiterou sua intenção de reverter uma histórica decisão do Supremo Tribunal Federal —aquela que permitiu o encarceramento de pessoas condenadas na primeira e na segunda instância do Judiciário. O aviso de Gilmar consta de despacho divulgado nesta quarta-feira pelo Supremo. Nele, o ministro mandou suspender a execução da pena imposta a uma pessoa chamada Vicente Paula de Oliveira. A sentença é de 4 anos e 2 meses de prisão, em regime inicialmente semiaberto. O veredicto foi confirmado pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), sediado em Brasília.
Ironicamente, o despacho de Gilmar veio à luz no mesmo dia em que Sergio Moro mandou prender Marcio Andrade Bonilho —condenado por ele a 14 anos de cadeia— e Waldomiro de Oliveira —sentenciado a 13 anos e 2 meses de prisão. Os veredictos foram confirmados pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), que fica em Porto Alegre. Guiando-se pela jurisprudência do Supremo, os desembargadores ordenaram a execução das penas. E o juiz da Lava Jato obedeceu.
''Há uma ordem do Egrégio Tribunal Regional Federal”, anotou Moro. “E não cabe a este Juízo questioná-la.'' Foi a primeira vez que o juiz mandou prender réus que recorriam à segunda instância em liberdade. ''A execução após a condenação em segundo grau impõe-se”, acrescentou Moro. “Sob pena de dar causa a processos sem fim e, na prática, à impunidade de sérias condutas criminais.''
No seu despacho, Gilmar Mendes faz referência à jurisprudência que o TRF-4 e Sérgio Moro usaram como um antídoto contra a impunidade. O ministro lembrou que, de fato, o Supremo vem aplicando a jurisprudência segundo a qual a execução das penas na segunda instância “não ofende o princípio constitucional da presunção da inocência”. Esse entendimento foi aprovado no plenário da Suprema Corte, em outubro do ano passado, em votação apertada —6 votos a 5.
Gilmar Mendes votou com a maioria. Entretanto, além de contrariar o próprio voto na liminar que suspendeu o encarceramento confirmado pelo TRF-1, o ministro reiterou algo que já insinuara em julgamento na Segunda Turma do Supremo. Planeja rever o voto que proferiu no julgamento que abriu a cadeia para os condenados na segunda instância. Deseja aderir à posição do colega Dias Toffoli, que votou a favor do encarceramento não na segunda, mas na terceira instância: o Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Beneficiário da liminar de Gilmar, Vicente Paula de Oliveira, condenado por crime contra a ordem tributária, havia justamente recorrido ao STJ contra a sentença ratificada pelo TRF-1. E Gilmar atendeu ao pedido de suspensão da execução da pena até que o STJ julgue o recurso. Entre os advogados de Vicente Paula está o ex-deputado João Paulo Cunha, condenado pelo Supremo no escândalo do mensalão.
Abalrroados pela ordem de prisão de Sergio Moro, Marcio Andrade Bonilho e Waldomiro de Oliveira, envolvidos no desvio de recursos destinados à obra da refinaria pernambucana de Abreu e Lima, também poderão recorrer contra a decisão do TRF-4. A diferença é que os dois aguardarão o julgamento do STJ atrás das grades.
Insinuada no texto da liminar que benefiou um réu desconhecido, a reversão do voto de Gilmar Mendes é aguardada por condenados e investigados ilustres. Conforme já comentado aqui, uma mudança na jurisprudência do Supremo pode livrar da cadeia, por exemplo, Lula. Ele recorre no TRF-4 contra a pena de 9 anos e 6 meses que amargou no processo sobre o tríplex do Guarujá.
Aguardam na fila, como condenações esperando para acontecer, pessoas como Andréa Neves, irmã de Aécio Neves, amigo de Gilmar. Podem cair na teia também políticos que não conseguirem se reeleger em 2018, perdendo o escudo do foro privilegiado. Ou Michel Temer, que deve ser investigado por corrupção depois que deixar a Presidência da República.
De resto, procuradores da força-tarefa de Curitiba sustentam que uma reviravolta na jurisprudência da Corte Suprema terá efeitos deletérios sobre a investigação do maior escândalo de corrupção da história. O sucesso da Lava Jato escora-se em três novidades: 1) A corrupção passou a dar cadeia; 2) O medo da prisão potencializou as delações; 3) E as colaborações judiciais impulsionaram as descobertas. Esse círculo virtuoso está ameaçado.
Nesse contexto, a sequência de habeas corpus que Gilmar Mendes concedeu para libertar meia dúzia de presos da Lava Jato no Rio de Janeiro colocam o ministro em posição análoga à da velhinha contrabandista da piada. Diariamente, a veneranda senhora atravessava a fronteira entre o Brasil e o Paraguai de bicicleta, carregando uma bolsa. Os guardas da alfândega revistaram-na durante meses, à procura de contrabando. Viraram do avesso inúmeras vezes a bolsa da velhota. E nada.
Certo dia, um dos agentes aduaneiros decidiu seguir a velhinha. Descobriu que ela tocava um próspera loja. Comercializava bicicletas e bolsas. Moral da anedota: quem se concentra nos detalhes acaba não enxergando o todo. A libertação de presos no varejo é a velhinha atravessando a fronteira de bicicleta, com a bolsa a tiracolo. A revisão da jurisprudência que autorizou a trancar condenados no atacado a partir da segunda instância é o todo.

Possibilidade de prisão de Lula subiu no telhado

Josias de Souza

Depois de 42 dias, a senteça em que Sergio Moro condenou Lula a 9 anos e 6 meses de cadeia no caso do tríplex do Guarujá chegou finalmente ao TRF-4, em Porto Alegre. Se o veredicto for confirmado ali, Lula será considerado um ficha-suja. E não poderá concorrer à Presidência. A segunda consequência de uma eventual confirmação da decisão do juiz da Lava Jato seria a prisão de Lula. Mas essa possibilidade subiu no telhado.
O encarceramento de condenados a partir de decisões de segunda instância foi autorizado pelo Supremo Tribunal Federal. A novidade representou uma reviravolta, porque acabou com o refresco de recorrer em liberdade. Preso, o condenado mantém intacto o direito de recorrer. Mas o interesse pela procrastinação dos julgamentos deixou de ser um grande negócio.
A prisão na segunda instância prevaleceu no Supremo pelo magro placar de 6 votos a 5. Há no tribunal duas ações que questionam a decisão —uma do Partido Ecológico Nacional, outra da OAB. E o ministro Gilmar Mendes, que votou junto com a ala favorável à tranca, ensaia uma meia-volta. Ele agora é um entusiasta da política de celas vazias na Lava Jato. Bom para Lula e de todos os condenados que têm dinheiro para recorrer a instâncias judiciais superiores. Com sorte, ficam soltos por um bom tempo. Com muita sorte, são premiados com a prescrição dos crimes

STF toma decisões contraditórias sobre tramitação de pedidos de impeachment

Josias de Souza

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, negou petições da OAB e de partidos de oposição para obrigar Rodrigo Maia, presidente da Câmara, a retirar da gaveta os pedidos de impeachment contra Michel Temer. Ex-subordinado de Temer, Moraes não se considerou suspeito para julgar a encrenca. No seu despacho, o ex-ministro da Justiça anotou que não cabe ao Judiciário intrometer-se em assunto que não diz respeito senão ao Legislativo.
Moraes escreveu a certa altura: “Ocorre não ser possível o controle jurisdicional em relação à interpretação de normas regimentais das Casas Legislativas, sendo vedado ao Poder Judiciário, substituindo-se ao próprio Legislativo, dizer qual o verdadeiro significado da previsão regimental, por tratar-se de assunto ‘interna corporis’, sob pena de ostensivo desrespeito à Separação de Poderes, por intromissão política do Judiciário no Legislativo.”
No ano passado, o ministro Marco Aurélio Mello, também do Supremo, havia deferido uma liminar ordenando à Câmara que desse andamento a um pedido de impeachment contra o então vice-presidente Michel Temer. Eduardo Cunha, que presidia a Câmara na época, está preso em Curitiba. Dilma Rousseff foi deposta. Temer migrou da vice-presidência para o gabinete presidencial. E a ordem do STF jamais foi cumprida. O autor da ação queixou-se do descaso. Marco Aurélio esboçou uma reação. E nada.
Agora, ao julgar ações análogas, Alexandre de Moraes capricha no latim —é uma questão ‘interna corporis’—, para decidir na contramão de Marco Aurélio, em benefício do ex-chefe Temer. Como o plenário do Supremo não é chamado para unificar as decisões, a Justiça se torna uma espécie de loteria togada. E a Suprema Corte, como já comentado aqui, ganha uma aparência de sucursal da Casa da Mãe Joana.