sexta-feira, 30 de junho de 2017

Justiça determina que Roger Abdelmassih volte à prisão após recurso do MP

Debilitado por problemas cardíaco e pulmonar, ex-médico cumpre há uma semana pena em regime domiciliar. MP contestou decisão e pediu que detento voltasse à prisão.

Abdelmassih na última semana ao chegar no apartamento em São Paulo para cumprir prisão domiciliar (Foto: Reprodução/TV Globo)
Abdelmassih na última semana ao chegar no apartamento em São Paulo para cumprir prisão domiciliar (Foto: Reprodução/TV Globo)
O Tribunal de Justiça acolheu nesta sexta-feira (30) o pedido do Ministério Público e determinou que o ex-médico Roger Abdelmassih, de 74 anos, volte para prisão. Ele cumpre pena em regime domiciliar há uma semana, monitorado por tornozeleira eletrônica.
Com a decisão, o detento condenado a 181 anos de prisão por 48 estupros de 37 pacientes, deve retornar à penitenciária de Tremembé (SP). Ele sofre de problemas cardíaco e pulmonar.
A prisão domiciliar a Abdelmassih foi concedida na última quarta (21) depois da Justiça negar o indulto humintário - que é o perdão da pena. O benefício é concedido apenas à presos com problemas graves e permanentes de saúde.
No entanto, o MP contestou a decisão da Justiça. O promotor Luiz Marcelo Negrini afirma que o ex-médico não "cumpriu pena suficiente para qualquer espécies de progressão de regime", diz trecho do recurso.
A promotoria afirma também que um laudo médico realizado por um perito nomeado pela Justiça não demonstrou que ele precisava deixar o presídio para receber o atendimento médico que precisa.
Para Negrini, a decisão desta sexta reestabelece a justiça."O tribunal reestabeleceu a justiça com a decisão que proferiu. Espero que essa determinação seja cumprida imediatamente", disse.
O advogado que defende Abdelmassih, José Luís Oliveira Lima, foi procurado pela reportagem, mas não atendeu, nem retornou as ligações.
O G1 apurou que até a última atualização desta reportagem, a Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) não havia sido notificada da decisão. A pasta deve ser comunicada para dar cumprimento à determinação.

Histórico

Roger, que era considerado um dos principais especialistas em reprodução humana no Brasil, foi condenado a 278 anos de reclusão em novembro de 2010. Abdelmassih não foi preso logo após ter sido condenado porque um habeas corpus do Superior Tribunal de Justiça (STJ) dava a ele o direito de responder em liberdade.
O habeas corpus foi revogado pela Justiça em janeiro de 2011, quando ex-médico tentou renovar seu passaporte, o que sugeria a possibilidade de que ele tentaria sair do Brasil. Como a prisão foi decretada e ele deixou de se apresentar, passou a ser procurado pela polícia.
Em 24 de maio de 2011, o Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) cassou o registro profissional de ex-médico de Abdelmassih.
Após três anos foragido, quando chegou a ser considerado o criminoso mais procurado de São Paulo, Abdelmassih foi preso no Paraguai pela Polícia Federal (PF), em 19 de agosto de 2014. Em outubro daquele ano, a pena dele foi reduzida para 181 anos, 11 meses e 12 dias, por decisão judicial. Entretanto, pela lei brasileira, nenhuma pessoa pode ficar presa por mais de 30 anos.DO G1

Ministro Edson Fachin manda soltar ex-deputado Rodrigo Rocha Loures

Ex-assessor de Temer foi flagrado recebendo R$ 500 mil que, segundo delator da JBS, era propina. Ministro determinou que ele passe a usar tornozeleira eletrônica e fique em casa à noite.

O ex-deputado Rodrigo Rocha Loures, depois de prestar depoimento no início de junho (Foto: André Coelho/Agência O Globo)
O ex-deputado Rodrigo Rocha Loures, depois de prestar depoimento no início de junho (Foto: André Coelho/Agência O Globo)
O ministro Luiz Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), mandou soltar nesta sexta-feira (30) o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR).
Ao autorizar a soltura do peemedebista, Fachi determinou que ele passe a usar tornozeleira eletrônica e deverá permanecer em casa à noite (de 20h às 6h), finais de semana e feriados.
Além disso, ficará proibido de contato com outros investigados e de deixar o país, devendo se apresentar à Justiça sempre que requisitado.
Rocha Loures foi preso no começo de junho após perder o mandato de deputado, em razão das delações de executivos da JBS.
Ele foi flagrado pela PF recebendo de um executivo da empresa uma mala com R$ 500 mil que, segundo delatores da JBS e investigadores da Lava Jato, era dinheiro de propina.DO G1

96% dos brasileiros querem que a Lava Jato investigue todos os partidos, aponta pesquisa Ipsos

Estudo ainda revela que o juiz Sérgio Moro, o apresentador Luciano Huck e o ex-ministro Joaquim Barbosa são os nomes mais bem avaliados atualmente
Pesquisa Pulso Brasil de junho, realizada pela Ipsos, revela que a operação Lava Jato ganha cada vez mais a adesão dos brasileiros. Para 96% dos entrevistados as investigações necessitam averiguar todos os partidos políticos e a mesma porcentagem acredita que a operação deve continuar até o fim, custe o que custar.
O estudo ainda assinala que 87% concordam que a operação vai fortalecer a democracia, enquanto 79% acreditam que a Lava Jato pode ajudar a transformar o Brasil num país mais sério. Além disso, os brasileiros são a favor da operação mesmo que traga mais instabilidade política ou econômica para o país, com 95% e 94%, respectivamente.


O rumo do Brasil
O levantamento da Ipsos aponta que 95% dos entrevistados consideram que o Brasil está no rumo errado, mostrando um acréscimo de dois pontos percentuais em relação ao índice de maio (93%).
A avaliação do governo do presidente Michel Temer também teve uma piora de quatro pontos percentuais comparado ao mês anterior, pois 84% dos brasileiros classificam a gestão Temer como ruim e péssima.
Barômetro Político
A pesquisa analisou a atuação de 32 personalidades públicas e políticos. No ranking “Barômetro Político”, o presidente Michel Temer é o nome mais mal avaliado (93%), seguido por Eduardo Cunha (92%), Aécio Neves (91%) e Renan Calheiros (84%).
Se comparar os números da avaliação dos últimos três ex-presidentes do país, Dilma Rousseff totaliza 82% de rejeição versus 14% de aprovação. Fernando Henrique Cardoso soma 74% de desaprovação contra 12% de aprovação. Já, Luiz Inácio Lula da Silva possui 68% de reprovação e 28% de aprovação.
Considerando os políticos que já disputaram o segundo turno em um pleito presidencial, Aécio Neves é o tucano com maior taxa de rejeição com 91%, alta de 14 pontos percentuais sobre a edição anterior.  O político mineiro é seguido por José Serra, com 79% – aumento de nove pontos em relação a maio –  e por último, Geraldo Alckmin com 71%, o que representa sete pontos a mais comparado ao último mês.
Marina Silva, da REDE, que vinha numa constante queda do índice de rejeição, em junho, apresenta taxa de desaprovação de 62%. Por outro lado, o juiz Sérgio Moro, o apresentador Luciano Huck e o ex-ministro do STF Joaquim Barbosa são os nomes melhores avaliados com 63%, 44% e 42% de aceitação, respectivamente
Outras personalidades que foram avaliadas quanto ao índice de desaprovação e aprovação são: Rodrigo Maia (64% e 3%, respectivamente); Romero Jucá (64% e 1%, respectivamente); Romário (59% e 14%, respectivamente); Gilmar Mendes (58% e 4%, respectivamente); Henrique Meirelles (57% e 4%, respectivamente); Marcelo Crivella (56% e 9%, respectivamente); Ciro Gomes (55% e 12%, respectivamente); Jair Bolsonaro (54% e 15%, respectivamente); Paulo Skaf (52% e 5%, respectivamente); João Doria (52% e 16%, respectivamente); Roberto Justus (51% e 19%, respectivamente); Rodrigo Janot (49% e 22%, respectivamente); Tasso Jereissati (48% e 5%, respectivamente); Luciana Genro (47% e 3%, respectivamente); Nelson Jobin (46% e 3%, respectivamente); Ayres Brito (44% e 2%, respectivamente); Deltan Dallagnol (42% e 13%, respectivamente) e Cármen Lúcia (39% e 29% respectivamente).

Realizada entre os dias 1 e 13 de junho, a pesquisa Ipsos contou com 1200 entrevistas presenciais em 72 municípios brasileiros. A margem de erro é de 3%.
Sobre a Ipsos
A Ipsos é uma empresa independente global na área de pesquisa de mercado presente em 88 países. A companhia tem mais de 5 mil clientes e ocupa a terceira posição na indústria de pesquisa. Maior empresa de pesquisa eleitoral do mundo, a Ipsos atua ainda nas áreas de publicidade, fidelização de clientes, marketing, mídia, opinião pública e coleta de dados. Os pesquisadores da Ipsos avaliam o potencial do mercado e interpretam as tendências. Desenvolvem e constroem marcas, ajudam os clientes a construírem relacionamento de longo prazo com seus parceiros, testam publicidade e analisam audiência, medem a opinião pública ao redor do mundo. Para mais informações, acesse: https://www.ipsos.com/pt-br , www.ipsos.com, https://youtu.be/QpajPPwN4oE, https://youtu.be/EWda5jAElZ0 e   https://youtu.be/2KgINZxhTAU - DO C.BRASILIENSE

Veja os 10 políticos com maior taxa de desaprovação, segundo pesquisa


Michel Temer

Pesquisa do instituto Ipsos, realizada entre os dias 1 e 13 de junho, analisou a aprovação e a desaprovação de 32 personalidades públicas e políticos. A pergunta "Aprova ou desaprova a maneira como atuam no País?" foi feita a 1200 pessoas em 172 municípios. Segundo o levantamento, o presidente Michel Temer (PMDB) é o nome mais mal avaliado, com 93% de desaprovação. Confira os 10 nomes com maior rejeição entre os entrevistados. Foto: Evaristo Sá/AFP

Eduardo Cunha

Preso no Complexo Médico Penal em Curitiba, o deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) ficou em segundo lugar, com 92% de desaprovação entre os ouvidos na pesquisa.  Foto: Dida Sampaio/Estadão

Aécio Neves

O senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG) fica logo atrás na taxa de desaprovação, com 91%. O tucano é acusado pelos crimes de corrupção e obstrução de Justiça. Ele foi gravado pelo empresário Joesley Batista, do grupo JBS, pedindo propina e falando em medidas para barrar o avanço da Operação Lava Jato. Foto: DIDA SAMPAIO/ESTADAO

Renan Calheiros

Réu no STF, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) foi desaprovado por 84% dos entrevistados na pesquisa. Apesar de ser do partido de Michel Temer, o parlamentar faz parte da ala oposicionista da sigla.  Foto: Dida Sampaio/Estadão

Dilma

A ex-presidente Dilma Rousseff (PT), impedida de continuar no mandato presidencial no ano passado, teve 82% de desaprovação. Foto: Wilton Júnior/Estadão

José Serra

Investigado no STF, o senador José Serra (PSDB-SP) é o segundo tucano a aparecer na lista entre os nomes com maior rejeição: 79% dos entrevistados disseram desaprovar sua atuação.  Foto: EFE/Juan Ignacio Mazzoni

FHC

Fernando Henrique Cardoso (PSDB) é o segundo ex-presidente com maior índice de desaprovação, 74%. Foto: Felipe Rau/Estadão

Gerlado Alckmin

Citado em delações premiadas da Odebrecht, o governador Geraldo Alckmin é desaprovado por 71% dos entrevistados.  Foto: Felipe Rau/Estadão

Lula

Réu em cinco ações penais por corrupção, lavagem de dinheiro e obstrução de Justiça, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem a nona maior rejeição, segundo a pesquisa: 68% dos entrevistados desaprovam sua atuação.  Foto: Gabriela Biló/ Estadão

O presidente da Câmara Rodrigo Maia

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (PMDB-RJ), também citado nas delações de executivos da Odebrecht, aparece em 10º lugar entre os políticos com maior rejeição e é desaprovado por 64% dos entrevistados.  Foto: André Dusek/Estadão DO ESTADÃO

Retorno de Aécio ao Senado sugere que o acordão entre Gilmar, Lula, FHC e cia. só pode ser barrado nas urnas em 2018

Há muito se fala num acordão para salvar os grandes bandidos deste país, cujo símbolo é Luiz Inácio Lula da Silva, notório corrupto desmascarado desde o Mensalão.
O protagonista maior da bandalheira - aí estão o Mensalão, o Petrolão, o BNDES, a Petrobras, o Banco do Brasil, os fundos de pensão - deixou formalmente o poder em 2011, mas escalou a 'laranja' Dilma 'trambique' para dar sequência às falcatruas. De forma desastrada ou não, Dilma seguiu rigorosamente o programa de assalto à coisa pública.
O vice de Dilma? Temer.
Portanto, não deveria haver surpresa o fato de Temer cercar-se de bandidos. A maioria, originária dos governos Lula e Dilma: Padilha, Geddel, Jucá, Moreira Franco...
Temer está na marca do pênalti.
Jamais deveria ser presidente. De resto, a reeleição de Lula já foi uma fraude, pois ele era o chefe do Mensalão e seus principais auxiliares estavam no xadrez. E a eleição e reeleição de Dilma confirmou a desmoralização do STF e do TSE.
O que chama atenção a partir da devolução do mandato de Aécio Neves nesta sexta-feira pelo ministro Marco Aurélio Mello é a velocidade com que o procurador-geral da República Rodrigo Janot e o STF atuam em certos casos, o que só faz confirmar a suspeita do acordão para salvar Lula.
A investigação sobre Temer corre a uma velocidade de fazer inveja a Senna. Já a apuração da bandalheira de Lula é mais lenta do que o Rubinho.
Resumindo, Temer pode até terminar o mandado em primeiro de janeiro de 2019, como acredita The Economist, mas a TV Globo não lhe dará trégua. A Globo deixou Lula em segundo plano, embora o petista seja o chefe da maior organização criminosa jamais existente no planeta, e ataca Temer com a fúria dos russos na defesa de 'Stalingrado'.
 O controle da liberação da grana do BNDES tem algo a ver a revolta da Globo? A pauta consegue ser ainda mais raivosa do que a da 'Folha', porta-voz do lulopetismo. Doria e Alckmin que o digam.
O acordão envolvendo bandidos do PT, PSDB, PMDB e empresários, passando pelo Supremo - aí está o 'insuspeito' Gilmar Mendes - só não terá sucesso absoluto se, nas eleições de 2018, nós, eleitores, excluirmos da lista de eleitos os marginais que assaltaram os cofres públicos desde que Lula e sua organização criminosa entraram no Palácio do Planalto em 2003. DO J.TOMAZ

Temer perde medo do ridículo e ataca irresponsáveis que assediam estatais

Josias de Souza
A pretexto de celebrar o aniversário de um ano da Lei de Responsabilidade das Estatais, Michel Temer declarou em discurso que era preciso proteger as empresas e bancos públicos “de um certo assédio ilegítimo de quem quer que fosse.” Seu pronunciamento deixou claro que, depois de perder o recato, o presidente da República perdeu o nexo.
Se a Lava Jato provou alguma coisa é que muita gente enriqueceu ilicitamente nos governos coabitados por PT, PMDB e seus parceiros. Foi sob Lula e Dilma que a aliança profana das empreiteiras com o Estado se agigantou, assumindo proporções amazônicas.
Como presidente do PMDB e vice-presidente da República, Michel Temer assistiu e até coordenou a ocupação de repartições públicas e diretorias de estatais por prepostos das duas alas do seu partido: a da Câmara e a do Senado.
Nessa época, peemedebistas como Renan Calheiros, José Sarney, Romero Jucá, Edison Lobão, Jader Barbalho, Eduardo Cunha, Henrique Eduardo Alves e um enorme etcétera tiveram o vislumbre das dádivas que o mundo proporciona a alguém que enfia o dedo num favo de mel, lambendo-o em seguida. Hoje, todos fogem dos ferrões da abelha como protagonistas de inquéritos policiais.
Foi contra esse pano de fundo que Michel Temer, que acaba de ser denunciado por corrupção, declarou: “Vivemos tempos que exigem, mais do que nunca, responsabilidade.” Manejando as palavras como se nada tivesse sido descoberto sobre ele e seus correligionários, o presidente atacou “a falta de responsabilidade”, essa praga que “destrói empresas, corrói instituições.”
Esquecendo-se de que acaba de ser gravado pelo delator Joesley Batista numa conversa vadia, Temer se jactou de ter moralizado as estatais. Após indicar para o dono da JBS o preposto que seria filmado depois recebendo propina de R$ 500 mil numa mala, o presidente estufou o peito como uma segunda barriga para declarar:
“Frustramos interesses de gente poderosa. Eu pude verificar logo em seguida essa frustração de gente que se servia da atividade de empresas públicas para objetos não lícitos.”
Quem escuta o presidente e fica imaginando que país extraordinário seria o Brasil se, de repente, baixasse no Palácio do Planalto uma epidemia de ridículo.

Instabilidade da Presidência escancara enfermidade da democracia brasileira



Josias de Souza



Apenas dez meses depois do impeachment de Dilma Rousseff, o Brasil está novamente às voltas com um processo que pode resultar na queda do presidente da República, dessa vez por crime comum: corrupção passiva. Michel Temer foi notificado formalmente e terá de apresentar sua defesa à Câmara.
Há muitas maneiras de definir democracia. Mas no Brasil a única definição possível parece ser a seguinte: democracia é um sistema político que saiu pelo ladrão. Neste sistema, a eleição se transforma numa espécie de loteria sem prêmio. O eleitor vira um sujeito condenado a optar entre o lamentável e o impensável. O voto se converte num equívoco renovado de quatro em quatro anos.
A isso se reumiu a democracia brasileira: um regime em que todos têm ampla e irrestrita liberdade para exercitar a sua capacidade de fazer besteiras por conta própria. Desde a redemocratização, o brasileiro elegeu quatro presidentes: Collor, FHC, Lula e Dilma. Collor e Dilma sofreram impeachment —uma taxa de mortalidade de 50%. Agora, estamos diante do risco de uma segunda queda de presidente dentro do mesmo mandato.
Um otimista dirá que isso prova que a democracia está cheia de vida. Um realista talvez conclua a democracia brasileira é um sistema político com a cabeça a prêmio. Agora mesmo, em vez de enviar Michel Temer para tratamento intensivo no Supremo Tribunal Federal, a Câmara cogita enterrar o exame que escancara a doença.

Reunião entre Gilmar e investigados é preocupante, diz presidente da Associação de Procuradores


Professor de Ética da Unicamp também considera grave encontro do ministro


RIO - O jantar na casa do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes com o presidente Michel Temer, em que foi discutida a indicação da procuradora Raquel Dodge para assumir a Procuradoria-Geral da República, é preocupante do ponto de vista de um juiz se reunir com uma pessoa que pode se tornar réu no STF ou que já está sob investigação, avalia o presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), José Robalinho Cavalcanti.

Robalinho disse que do ponto de vista da indicação de Raquel para o comando da PGR não há problemas, porque o presidente tem liberade para fazer as consultas que achar necessárias para escolher o futuro procurador-geral.
No jantar, além de Temer, estavam presentes os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral), os dois alvos de inquéritos na Suprema Corte. Eles discutiram o andamento da reforma política e teriam chegado a um consenso de que o melhor nome para substituir o atual procurador-geral, Rodrigo Janot, era o de Raquel Dodge.
- Não vejo grande problema (no jantar). O presidente já sabia o resultado da votação (da ANPR). Então, ele consultar pessoas da área jurídica é normal, inclusive ministros do Supremo. Se houve essa conversa, é natural, porque é o momento em que ele vai ouvir conselhos. Poderia inclusive ouvir integrantes do Ministério Público, e que acredito que ele também o fez - explicou Robalinho ao GLOBO.
O problema, porém, é que o encontro tinha a presença de investigados que serão julgados por Gilmar Mendes em algum momento.
- O que não seria adequado seria uma conversa sobre processos. Afinal, o ministro é o juiz de uma causa que pode atingir o presidente. O que eu vejo de problema aí seria qualquer conversa entre juízes e investigados, o que deve ser evitado ao máximo possível sempre - afirmou o presidente da ANPR.
Robalinho não acrediata que esse jantar se transforme num problema para a procuradora Raquel Dodge, que terá que ser aprovada por sabatina no Senado para assumir o comando do Ministério Público.
Já o professor de ética da Unicamp, Roberto Romano, acredita que por ter seu nome avalizado por investigados da Lava-Jato e pelo ministro Gilmar Mendes, contumaz crítico das investigações, Raquel Dodge ganhou uma mancha em seu currículo.
- Evidentemente, o presidente pode jantar na casa de quem quiser e ministro Gilmar Mendes também. Mas é complicado para a indicada esse tipo de evento como marca da sua indicação. Isso pode vincar a presença dela na Procuradoria - avaliou.
Para ele, também é grave o encontro do ministro com investigados.
- Agora é muito complicado para o ministro Gilmar Mendes esses movimentos públicos que ele tem feito para defender a política. Uma coisa é defender nos autos ou nos discursos. Outra coisa é se reunir com réus que ele vai julgar. Essa sombra do Gilmar recai sobre a indicada, ainda mais porque pelo que sabemos ela era sua preferida. Ela vai ter o trabalho para desfazer essa sombra sua carreira, que é muito boa - disse Romano.
- O que eu vejo é um problema de decoro dos ministros e do presidente. Não é próprio do decoro que tivessem esse jantar. Não é boa essa afabilidade, nem decorosa.
NÃO HÁ PROBLEMA
Já o ex-ministro do STF Carlos Veloso, que quase se tornou ministro da Justiça do governo Temer, disse não ver problema no jantar.
Segundo ele, é natural que o presidente faça consultas a pessoas próximas ou do meio jurídico antes da fazer uma indicação e os conselhos não obrigam o presidente a escolher o que lhe aconselharam.
- Qualquer um dos procuradores indicados na lista faria um grande trabalho à frente da PGR - disse.
- E mesmo a presença dos ministros investigados não é um problema. Porque ali é um momento e na hora do julgamento é diferente, o juiz, o ministro se desvincula e abalisa do ponto de vista jurídico, com sua própria convicção, independente das amizades. Então, eu não maximizo esse fato.
Um outro ex-ministro do STF ouvido pelo GLOBO, e que pediu para não ter seu nome revelado, disse que o caso exige bom senso, porque o jantar envolve uma diferença muito tênue entre o que significa a independência dos poderes e a convivência em harmonia entre os poderes, dois princípios constitucionais.DO G1