terça-feira, 13 de junho de 2017

Joesley Batista está no Brasil desde domingo vindo da Ásia

Andreza Matais
13 Junho 2017 | 20h01

Pivô da maior crise política envolvendo o governo Temer, o empresário Joesley Batista está no Brasil desde o último domingo. Após fechar delação premiada, ele se refugiou na China. A informação foi antecipada ontem pelo site da Coluna do Estadão. Em nota, a assessoria do dono da J&F confirmou que ele não estava em Nova York como se pensava. Seu único destino até então foi a Ásia.
“Ele se ausentou do Brasil nos últimos dias para proteger a integridade de sua família, que sofreu reiteradas ameaças desde que ele se dispôs a colaborar com o Ministério Público”, diz o comunicado. Para complementar: “Joesley Batista estava na China – e não passeando na Quinta Avenida, em Nova York, ao contrário do que chegou a ser noticiado e caluniosamente dito até pelo presidente da República. Não revelou seu destino por razões de segurança. Viajou com autorização da Justiça brasileira”.
Em mais de um pronunciamento público,Temer aumentou o tom ao chamar Joesley de “falastrão” e provocou: “[Ele] prejudicou o Brasil, enganou os brasileiros e, agora, está no Estados”, mencionando passeios pela 5a avenida, a mais famosa de NY.
Na nota, a assessoria de Joesley diz ainda que ele esteve segunda-feira em Brasília, em reuniões, sem especificar. E ontem participou de reuniões de trabalho em São Paulo.
“Joesley é cidadão brasileiro, mora no Brasil, paga impostos no Brasil e cria seus filhos no Brasil. Está pessoalmente à disposição do Ministério Público e da Justiça brasileiros para colaborar de forma irrestrita no combate à corrupção”.
O empresário recebeu perdão judicial do STF, por isso pode circular livremente não são pelo País, como viajar para qualquer lugar do mundo sem ser incomodado.
Joesley não vinha ao Brasil desde que envolveu o presidente da República, Michel Temer, num escândalo de corrupção. Na segunda-feira, ele prestou na procuradoria da República no DF depoimento dentro da Operação Bullish, que investiga irregularidades em aportes do BNDES. O depoimento foi autorizado pelo juiz Ricardo Leite. Além dele, o executivo da JBS Ricardo Saud também foi ouvido na segunda. Os dois responderam a todas as perguntas.
Essa investigação não tem relação a delação premiada que Joesley fechou com a PGR. Na colaboração, Joesley acusou Temer de receber propina da JBS. O empresário é dono da J&F, que controla a JBS. O Supremo Tribunal Federal (STF) instaurou inquérito contra Temer por suposto crime de corrupção, organização criminosa e obstrução à Justiça.
Os dois foram questionados sobre recursos repassados para as campanhas de Lula e Dilma Rousseff, que seriam provenientes do BNDES. Esse caso é investigado pela Bullish porque tem relação com essa operação.
O empresário é investigado em várias outras frentes, além daquelas que lhe garantiram perdão judicial pela delação premiada. Fontes dizem que ele teria cortado o cabelo curto para não ser reconhecido no retorno ao Brasil.
Uma das investigações que podem causar maiores problemas para Joesley foi deflagrada na última sexta-feira pela Polícia Federal. Ela apura se houve uso indevido de informações privilegiadas por parte da JBS e FB Participações em transações de mercado financeiro ocorridas entre abril de maio deste ano, período em que o empresário fazia sua delação premiada.
A seguir nota da assessoria do empresário Joesley Batista:
O empresário Joesley Batista informa que está no Brasil desde domingo passado.
Ele se ausentou do Brasil nos últimos dias para proteger a integridade de sua família, que sofreu reiteradas ameaças desde que ele se dispôs a colaborar com o Ministério Público.
Joesley Batista estava na China – e não passeando na Quinta Avenida, em Nova York, ao contrário do que chegou a ser noticiado e caluniosamente dito até pelo presidente da República. Não revelou seu destino por razões de segurança. Viajou com autorização da Justiça brasileira.
O empresário esteve ontem, segunda-feira, em Brasília, em reuniões. Hoje, participou de encontros de trabalho em São Paulo.
Joesley é cidadão brasileiro, mora no Brasil, paga impostos no Brasil e cria seus filhos no Brasil. Está pessoalmente à disposição do Ministério Público e da Justiça brasileiros para colaborar de forma irrestrita no combate à corrupção. DO ESTADÃO

De volta ao Brasil, Joesley diz que sua família foi ameaçada

Dono da JBS diz que se ausentou do país para proteger a "integridade" de sua família. Ele informou que estava na China e não nos Estados Unidos

Joesley Batista, presidente executivo da JBS - 01/06/12
O empresário Joesley Batista está no Brasil desde o último domingo. É o que informa nota divulgada pela assessoria de imprensa do grupo J&F, que controla a empresa JBS. Conforme o texto, Joesley saiu do país para proteger a integridade de sua família, “que sofreu reiteradas ameaças” desde que ele decidiu fechar acordo de delação premiada com a Operação Lava Jato.
O executivo ainda informou que estava na China e não nos Estados Unidos, “passeando na Quinta Avenida, em Nova York, ao contrário do que chegou a ser noticiado e caluniosamente dito até pelo presidente da República”, segundo a nota. A declaração é uma clara alfinetada em Michel Temer, que passou a ser alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) por corrupção passiva, obstrução de Justiça e organização criminosa após as revelações de Joesley. O executivo gravou o presidente em uma reunião na calada da noite no Palácio do Jaburu, em março deste ano. Na ocasião, os dois tratam de assuntos embaraçosos, como um suposto apoio financeiro ao ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e a tentativa de interferência em investigações policiais. A Procuradoria-Geral da República (PGR) viu indícios suficientes para pedir investigação contra o presidente, que declarou não ter cometido nenhuma irregularidade.
A delação de sete executivos do grupo J&F, que também incluem o irmão de Joesley, Wesley Batista, caiu como uma bomba em Brasília, abrindo a maior crise enfrentada por Temer desde a sua ascensão e suscitando o debate sobre a manutenção dele no cargo máximo do Executivo. Em diversas manifestações públicas, o peemedebista precisou vir a público para dizer que não renunciaria ao posto.
Desde que passou a ser investigado formalmente por causa de Joesley, Temer deflagrou uma ofensiva contra o empresário e a PGR, que firmou o acordo de colaboração com o executivo. Em pronunciamento do dia 20 de maio, o presidente declarou que Joesley deu um falso testemunho à Justiça e é um “conhecido falastrão”. Também afirmou que ele estava “livre e solto, passeando pelas ruas de Nova York”.
O acordo de delação premiada, homologado pelo ministro do STF Edson Fachin, prevê imunidade completa aos irmãos Batista. Ou seja, eles não passarão um dia sequer na cadeia, não precisarão usar tornozeleira eletrônica, nem cumprirão pena em regime aberto pela série de crimes confessados, que abrange supostos esquemas envolvendo além do atual presidente, os ex-presidentes Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG), ministros e parlamentares.
Nesta segunda-feira, Joesley teria participado de reuniões em Brasília. Nesta terça, ele esteve em São Paulo. DA VEJA.COM

Temer usar Estado em sua defesa é atacar a democracia


Presidente nega com veemência que mobilize organismos públicos em interesse próprio, mas precisa provar com atos que não se vale mesmo de recursos de ditaduras

por
Não se pode menosprezar a capacidade do presidente Michel Temer e de seu grupo de atuarem nos desvãos de Brasília para se manter no poder. A vitória obtida no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), por 4 a 3, contra o pedido de cassação da chapa que Temer formou com Dilma Rousseff, contou com dois votos de ministros indicados há pouco tempo pelo governo — Admar Gonzaga e Tarcísio Vieira. Prova de clarividência e do faro estratégico do bunker em que se transformou o Planalto, para levar o presidente até 31 de dezembro de 2018, a salvo de perigos.
Se o julgamento desmoralizou a Justiça Eleitoral, diante do oceano de provas de uso de dinheiro sujo pela chapa, também sinalizou que a decisão de Temer e grupo de resistirem a qualquer custo parece não ter limites. Isso preocupa. Na própria sexta, quando o tribunal inocentou Temer e Dilma, a revista “Veja” informou que, do contra-ataque desfechado pelo Planalto, constaria a Lava-Jato como alvo. No caso, o ministro Edson Fachin, do Supremo, relator, na Corte, dos processos derivados da investigação, e responsável pela homologação da delação de Joesley Batista, do grupo JBS, que tantos danos causou ao presidente.
Em um caso inominável de uso da máquina do Estado em proveito próprio, o presidente teria mobilizado a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para produzir um dossiê contra o ministro. Pelo menos uma das linhas exploradas pela espionagem seria a suposta proximidade de Fachin com o JBS. A presidente do Supremo, ministra Cármen Lúcia, reagiu no tom devido, tachando a devassa de “própria de ditaduras” e “gravíssimo crime contra o Supremo Tribunal Federal, contra a democracia e contra as liberdades”. O Planalto divulgou nota de desmentido, além de o próprio Temer telefonar para a ministra.
Ontem, a presidente da Corte, por meio de assessores, deu voto de confiança a Temer — “não há o que questionar quanto à palavra do presidente da República”. Temer, ainda, divulgou vídeo com desmentido veemente.
Esta grave faceta que a crise em torno de Temer revela não para aí. Por óbvio, os organismos de Estado devem agir diante das falcatruas relatadas por Joesley, mas há um movimento de braços do governo para estrangular o JBS como empresa — e este não é objetivo da legislação sobre acordos de leniência e de colaboração premiada.
Este jornal criticou a excessiva benevolência com que a Procuradoria-Geral da República premiou os irmãos Joesley e Wesley Batista por suas delações, sem um dia sequer de prisão, mesmo domiciliar, e com a permissão de viajarem para o exterior. Não se aceita é retaliação, própria do autoritarismo. Para reforçar os temores, um ministro do Supremo, Luís Roberto Barroso, em solenidade, sexta, no Tribunal de Justiça do Rio, se referiu ao enorme poder do Estado brasileiro, “quando quer se vingar de alguém”. E citou o caso do JBS: “ninguém tem dúvida de que vai virar terra arrasada”.
Por tudo isto, e mais o que poderá vir, Temer e o governo têm de dar demonstrações cabais de não repetir práticas de ditaduras, como citou a ministra Cármen Lúcia. Deveria se comprometer, por exemplo, na substituição de Rodrigo Janot na Procuradoria-Geral da República, a escolher o primeiro colocado na lista tríplice que receberá. Como fizeram Lula e Dilma, por sinal. O GLOBO

Cabral é um fabuloso aviso para PSDB e PMDB

Josias de Souza

Tucanos e peemedebistas fingem desconhecer Sérgio Cabral. Mas o destino do presidiário não lhes é estranho. Num instante em que os gênios do PSDB renovam o acordo de cumplicidade com o PMDB para preservar o mandato de Michel Temer, o primeiro presidente da história a ser denunciado por corrupção em pleno exercício do cargo, vale a pena atrasar o relógio para iluminar a trajetória de Cabral. O personagem começou a enriquecer no PSDB. E consolidou a fortuna no PMDB
Condenado nesta terça-feira pelo xará Sergio Moro a 14 anos e 2 meses de cana, Sérgio Cabral despontou para a política na década de 90. Chegou à presidência da Assembleia Legislativa do Rio como um cavaleiro da ética. Nessa época, era um jóquei do PSDB. Gente como FHC e José Serra levava a cara à propaganda eleitoral do Rio para recomendar o menino de ouro do tucanato ao eleitorado.
Cabral agigantou-se tanto que, em 1998, começou a fazer sombra ao seu principal aliado, o então governador fluminense Marcello Alencar, cacique do PSDB. Incomodado, Allencar atirou para dentro do ninho, montando um dossiê contra Cabral. Revelou que o paladino da moralidade acumulava uma fortuna imoral. Tornara-se dono de uma casa no condomínio Portobelo, em Mangaratiba, incompatível com sua renda.
Há 19 anos, quando a encrenca veio à luz, a avaliação de mercado da casa de Mangaratiba era R$ 1 milhão. Cabral dizia ter desembolsado R$ 200 mil. Atribuía o preço camarada ao fato de ter fechado negócio “com um amigo de 15 anos”, o empresário Carlos Borges. Abespinhado, Cabral trocou o PSDB pelo PMDB, fez uma paçoca política da liderança de Marcello Alencar e foi colecionar amizade$ empresariais na poltrona de governador. O mimo de Mangaratiba virou troco.
Nos seus dois mandatos como governador, Cabral levou o Rio à breca. O Estado piorou muito. Mas seu governador melhorou extraordinariamente. Impulsionado pelas verbas federais envidas por Lula e Dilma, Cabral semeou obras e colheu propinas. Hoje, é o maior colecionador de processos da Operação Lava Jato. Responde a uma, duas, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez ações penais. A sentença de Sergio Moro foi a primeira. Restam nove.
Sérgio Cabral não é um bom exemplo para ninguém. Mas tornou-se um fabuloso aviso para tucanos e peemedebistas alcançados pela ferrugem política. A coisa funciona com a simplicidade de um sinal de trânsito. Na fração de segundo em que o sinal muda de verde para amarelo, a decisão de parar ou avançar pode significar a redenção ou a cadeia.

PSDB fez uma opção preferencial pelo vexame

Josias de Souza

Em política, uma reunião partidária serve apenas para tirar as fotografias de um consenso combinado previamente. O PSDB decidiu inovar. Transformou um encontro de cúpula num espetáculo de autodesmoralização. Presidente provisório da legenda, Tasso Jereissati desperdiçara o tempo alheio vendendo na semana passada a ilusão de que os tucanos saltariam da frigideira do governo Temer. Encerrada a reunião, descobriu-se que os tucanos, que já estavam fritos, resolveram esticar sua permanência no óleo quente.
''Minha posição foi vencida”, disse Tasso, lamentando a trinca. “A pior coisa para o Brasil e o partido é o PSDB se dividir”, declarou José Serra, tentando disfarçar a rachadura. Defensor do rompimento, o deputado Eduardo Cury (SP) escancarou a fenda ao antecipar que votará a favor da abertura da ação penal contra Temer quando o STF enviar à Câmara a denúncia da Procuradoria contra o presidente: “Eu não sou governo.”
O PSDB acorrentou sua reputação —ou o que resta dela— a um governo em franca erosão moral. Fez isso sob a alegação de que está preocupado com o país e com as reformas econômicas. O patriotismo reformador tornou-se uma espécie de pé-de-cabra ideológico. Abre as portas para todo tipo de aliança e maracutaia praticada em nome da ''governabilidade''.
Os diálogos de Aécio Neves com o delator Joesley Batista ofereceram ao tucanato 2 milhões de motivos para expulsá-lo. A presença de Geraldo Alckmin, de José Serra e do próprio Aécio no escândalo da Odebrecht já intimava a legenda a adotar providências saneadoras. Ao se fingir de morto, o PSDB repete o erro que cometera com Eduardo ‘Valerioduto’ Azeredo. E estimula na plateia a suspeita de que é a corrupção que aproxima o PSDB do PMDB, não o interesse público.
Num cenário decente, político pilhado em escândalo como a Lava Jato é expurgado do partido ofendido. Quando isso não acontece, é o partido que ofende o eleitorado. Se o partido vincula-se a outra legenda ainda mais apodrecida, o propósito não é o de combater a bandalheira, mas institucionalizá-la.
O PSDB ainda se considera a medida de todas as coisas. Mas as pesquisas presidenciais indicam que o eleitorado já está adotando outros sistemas de medição. O mais irônico é que os tucanos se abraçam a Temer sem levar em conta que o PSDB nasceu de uma dissidência que abandonou o PMDB para não chamar bandoleiro de companheiro. Ao fazer sua opção preferencial pelo vexame, o tucanato reforça dois ensinamentos:
1) Quem sai aos seus não endireita.
2) Em política, nada se cria, nada se copia, tudo se corrompe.

Sob Temer, país conhece a vivência no abismo

Por Josias de Souza

A crise brasileira atingiu um novo estágio. Depois do julgamento do Tribunal Superior Eleitoral, que absolveu a chapa Dilma-Temer por excesso de provas, não há mais aquela sensação de que o governo e o sistema político estão à beira do abismo. O governo de Michel Temer é a vivência do abismo. Brasília atravessa uma conjuntura de impasse institucional, em que a pior hipótese sempre vence.
Uma das características da crise é a ausência de espanto. Roubaram até o ponto de exclamação. O governo assegura que o ambiente é de normalidade. E o anormal passa a ser visto com crescente naturalidade. Os ministros sob suspeição, o ex-assessor preso, os apoiadores e os opositores apodrecidos, o presidente investigado por corrupção… Tudo ganhou ares de hedionda normalidade.
Ninguém ignora que o governo Temer nivela a política por baixo. Mas os principais atores preferem mantê-lo no cargo a organizar a eleição indireta de um presidente decente. A decência na Presidência viraria opção automática para a reeleição em 2018. E isso não interessa ao sistema apodrecido.
Sujos, petistas pregam uma eleição direta que sabem ser inviável. Mal lavados, tucanos e peemedebistas se enrolam na bandeira das reformas enquanto providenciam os 172 votos de que Temer precisa para se livrar de uma ação penal no Supremo Tribunal Federal. Num ambiente assim. quando você ouvir alguém falando em patriotismo do seu lado, segure a carteira.

Moro vê 'ganância desmedida' e condena Cabral a 14 anos de prisão

Ex-governador do Rio foi condenado a 14 anos e 2 meses de prisão pelo juiz federal Sérgio Moro, na Operação Lava Jato, por propina de R$ 2,7 milhões, em 2008, nas obras do Comperj

O juiz federal Sérgio Moro apontou ‘ganância desmedida’ do ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB) e seus aliados Wilson Carlos e Carlos Miranda em sentença que os condenou por corrupção e lavagem de dinheiro. O peemedebista, réu em 10 ações na Operação Lava Jato – uma em Curitiba e nove no Rio -, foi condenado por Moro por propina de R$ 2,7 milhões, em 2008, nas obras do Comperj, a 14 anos e 2 meses de prisão.

Documento

Segundo Moro, o valor é ‘bastante expressivo’. O magistrado indicou que o crime de Cabral se insere em um contexto de ‘cobrança sistemática pelo ex-governador e seu grupo de um percentual de propina incidente sobre toda obra pública no Estado do Rio de Janeiro’.
“Não se pode ainda ignorar a situação quase falimentar do Governo do Estado do Rio de Janeiro, com sofrimento da população e dos servidores públicos, e que ela, embora resultante de um série de fatores, tem também sua origem na cobrança sistemática de propinas pelo ex-Governador e seus associados, com impactos na eficiência da Administração Pública e nos custos dos orçamentos públicos”, anotou o juiz.
“As aludidas circunstâncias da cobrança da vantagem indevida, que se inserem em um contexto maior de cobrança de propina sobre toda obra realizada no Rio de Janeiro, indicam ganância desmedida, o que também merece reprovação especial.”
Para Moro, a corrupção com pagamento de propina de R$ 2,7 milhões ‘merece reprovação especial’.
“A culpabilidade é elevada. O condenado recebeu vantagem indevida no exercício do mandato de Governador do Estado do Rio de Janeiro. A responsabilidade de um Governador de Estado é enorme e, por conseguinte, também a sua culpabilidade quando pratica crimes. Não pode haver ofensa mais grave do que a daquele que trai o mandato e a sagrada confiança que o povo nele deposita para obter ganho próprio”, observou.


Sentença. O juiz Sérgio Moro fixou o regime fechado para o início de cumprimento da pena de Sérgio Cabral.
“Entre os crimes de corrupção e de lavagem, há concurso material, motivo pelo qual as penas somadas chegam a catorze anos e dois meses de reclusão, que reputo definitivas para Sergio de Oliveira Cabral Santos Filho”, decretou Moro.
A ex-primeira-dama Adriana de Lourdes Ancelmo foi absolvida ‘das imputações de crimes de corrupção passiva e de lavagem de dinheiro por falta de prova suficiente de autoria ou participação’.
O juiz Moro condenou ainda o ex-secretário do governo do peemedebista Wilson Carlos Cordeiro da Silva Carvalho – 10 anos e 8 meses – e o ‘homem da mala’ Carlos Miranda – 10 anos – por corrupção e lavagem de dinheiro. Mônica Carvalho, mulher de Wilson Carlos, também foi absolvida.
O magistrado decretou, ’em decorrência da condenação pelo crime de lavagem’ a interdição de Sérgio Cabral, Wilson Carlos e Carlos Miranda ‘para o exercício de cargo ou função pública ou de diretor, membro de conselho ou de gerência das pessoas jurídicas referidas no artigo 9º da mesma lei pelo dobro do tempo da pena privativa de liberdade’.
Sérgio Cabral, Wilson Carlos e Carlos Miranda estão presos na Lava Jato. Há mandados de prisão contra os três expedidos pelo juiz Moro e também pelo juiz federal Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal, no Rio. Wilson Carlos está preso no Paraná. Sérgio Cabral e Carlos Miranda, no Rio.
Na sentença, o juiz Moro devem continuar presos enquanto recorrem da condenação.
COM A PALAVRA, OS ADVOGADOS RODRIGO ROCA E LUCIANO SALDANHA, QUE DEFENDEM SÉRGIO CABRAL
A defesa informou que está analisando a sentença e vai apelar da condenação. DO ESTADÃO

Ações do Planalto preocupam analistas

Para especialistas, retaliações à JBS e a ministro Fachin podem desvirtuar função das instituições estatais
Por Gabriel Cariello
O Globo
RIO - A suposta ação de espionagem contra o ministro Edson Fachin, relator da Operação Lava-Jato no STF, bem como ações articuladas por aliados do Planalto no Congresso para minar a JBS ou investigadores, chamou a atenção para o perigo do desvirtuamento do uso das instituições públicas para atender a interesses pessoais. A preocupação foi manifestada por cientistas políticos, juízes, uma advogada e um professor de História consultados ontem, dois dias depois de a revista “Veja” divulgar que o governo do presidente Temer teria orientado a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) a fazer uma devassa nas relações de Fachin, acusação negada veementemente pelo Planalto e por Temer, indiretamente, em vídeo divulgado na segunda-feira.
Segundo a reportagem de “Veja”, Temer pediu que a Abin levantasse informações que pudessem constranger o relator da Lava-Jato, que determinou a instauração de inquérito e deverá analisar denúncia contra Temer a ser remetida pela Procuradoria-Geral da República até o dia 19. Também faria parte da mesma estratégia o desejo de convocar Fachin para prestar depoimento na CPI da JBS, a ser instalada no Congresso para investigar a relação da empresa do ramo alimentício com o BNDES.
Além da suposta espionagem, teria partido de integrantes do governo a orientação para que órgãos públicos realizassem uma devassa nos negócios da JBS, após a delação premiada dos donos da empresa, os irmãos Joesley e Wesley Batista. Conforme O GLOBO revelou em maio, Joesley gravou uma reunião com Temer no Palácio do Jaburu. Segundo Janot, a gravação mostra o presidente dando anuência ao empresário para pagamentos ao ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso em Curitiba, e a indicação do ex-assessor da Presidência Rodrigo Rocha Loures como intermediário para o recebimento de propina. Temer nega que tenha dado aval para a compra de silêncio de Cunha e apontado Loures para receber repasses do empresário.
Uma das frentes de investigação contra JBS está na Comissão de Valores Imobiliários, que tem nove processos administrativos, duas inspeções e dois inquéritos para apurar eventuais ilegalidades na compra de dólares e venda de ações antes da divulgação do acordo de delação premiada dos irmãos Joesley e Wesley Batista, donos da J&F, grupo que controla a JBS. O Banco Central também investiga irregularidades em negócios da J&F.
Na última quinta-feira, o governo editou a MP 784, que endureceu a fiscalização e sanções que poderão ser adotadas pelo Banco Central e pela CVM em caso de fraudes. O teto da multa saltou de R$ 250 mil para R$ 2 bilhões. Na ocasião, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, negou que a medida tenha sido uma retaliação.
Também após a delação, os bancos públicos suspenderam novos empréstimos para empresas controladas pela J&F 13 de junho de 2017 - DO R.DEMOCRATICA

Pronto-Socorro Gilmar Mendes: só para amigos na mira da Justiça

A maior vitória do ministro que se promoveu a Juiz dos Juízes pode ter sido também a última

Gilmar Mendes abraça Michel Temer durante cerimônia no TSEUma imensidão de brasileiros descobriu na semana passada que o Tribunal Superior Eleitoral é presidido por um ministro da defesa de réus soterrados pela avalanche de provas do crime. Quem acompanha a trajetória de Gilmar Mendes sabe disso pelo menos desde 2008, quando esse mato-grossense de Diamantino assumiu a presidência do Supremo Tribunal Federal — e passou a mostrar que o professor de Direito Constitucional era a fachada que camuflava um doutor em absolvição de culpados.
Em 27 de agosto de 2009, por exemplo, Gilmar conseguiu arquivar “por falta de provas” a denúncia que identificava Antonio Palocci como o mentor da violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, que testemunhara as frequentes aparições do ainda ministro da Fazenda na suspeitíssima “República de Ribeirão Preto”. Para inventar o estupro encomendado sem mandante, valeu-se do duplo papel de presidente da corte e relator do caso.
O relator negou-se a enxergar a catarata de evidências. O presidente foi o primeiro a votar pelo sepultamento da bandalheira. A mentira venceu por 5 a 4 porque Gilmar, como reafirma o vídeo abaixo, não viu nada de mais. Talvez aceitasse a denúncia se Palocci fosse pessoalmente à agência da CEF, obrigasse o gerente a mostrar-lhe a conta e convocasse uma entrevista coletiva para confessar o que fizera. Como não agiu assim, sobrou para o caseiro.
Por ter contado a verdade, Francenildo perdeu o emprego, o sossego, a mulher e a chance de conseguir trabalho fixo em Brasília. O culpado ficou dois meses deprimido com a perda do emprego, elegeu-se deputado federal, coordenou a campanha de Dilma Rousseff, virou chefe da Casa Civil, teve de cair fora do primeiro escalão por ter enriquecido como facilitador de negociatas disfarçado de “consultor”, voltou ao palco para ajudar a candidata à reeleição e acabou no pântano drenado pela Lava Jato.
Preso em Curitiba desde 26 de setembro de 2016, Palocci tentou recentemente escapar pela trilha que começa na Segunda Turma do STF. O malogro da tentativa de ser resgatado da cela pela trinca formada por Gilmar, Lewandowski e Toffoli convenceu o ex-ministro a buscar um acordo com o Ministério Público Federal. No momento, o Italiano da Odebrecht ensaia a delação premiada que assombra as madrugadas de Lula. Promete fazer revelações que comprometem banqueiros e empresários. Tomara que não se esqueça do Poder Judiciário.


Em dezembro de 2009, enquanto Palocci saboreava o regresso à Câmara dos Deputados, Gilmar valeu-se de um habeas corpus para devolver à liberdade o médico Roger Abdelmassih, engaiolado desde agosto pela autoria de pelo menos 56 crimes sexuais contra 37 pacientes e condenado a 278 anos de prisão. Convencido de que o popstar da inseminação artificial já não ameaçava ninguém por ter sido proibido de exercer a profissão, decidiu que quatro meses de confinamento estavam de bom tamanho.
Em 2011, a polícia comunicou à Justiça que Abdelmassih havia regularizado o passaporte e pediu autorização ao STF para prendê-lo antes que fugisse. De novo, Gilmar garantiu-lhe o direito de ir e vir, que usou em 2011 para ir embora do Brasil e não voltar. Foi recapturado três anos mais tarde, quando saboreava a vida mansa no Paraguai. Hoje é um dos hóspedes do presídio de Tremembé.
Nos anos seguintes, a agenda sempre sobrecarregada de Gilmar Mendes não deixou de abrir espaço para atendimentos de emergência a amigos do Estado natal, sobretudo aos que reconhecem e festejam a influência do ministro. Em 10 de maio de 2013, ao receber a medalha da Ordem do Mérito de Mato Grosso, o homenageado incluiu nesse grupo de elite o governador Silval Barbosa: “Somos amigos há muito anos, sempre tivemos conversas proveitosas”, diz Gilmar no vídeo abaixo. Uma dessas conversas proveitosas ocorreria um ano mais tarde, quando a residência de Silval foi alvo de um mandado de busca e apreensão executado pela Polícia Federal.


Ao vasculharem a casa do político investigado no Supremo Tribunal Federal por corrupção, os agentes da PF encontraram uma pistola com registro vencido. Depois de pagar a fiança fixada em R$ 100 mil, Silval teve prontamente atendido o pedido de socorro a Gilmar, como atesta o áudio abaixo.
— Governador, que confusão é essa!!!??? — ouve-se a voz de Gilmar Mendes num tom que desenha um buquê de pontos de exclamação e interrogação.
— Barbaridade, ministro, isso é uma loucura! — ouve-se a voz de Silval Barbosa num tom de quem faz o possível para simular espanto.
— Que coisa! Tô sabendo isso agora! — Gilmar continua perplexo.
— É… é uma decisão aí do Toffoli — começa o cortejo de palavras desconexas, frases truncadas e explicações incoerentes, interrompido a cada meia dúzia de sílabas por vírgulas bêbadas e reticências que denunciam a ausência de álibis. Entre um e outro hum-hum rosnado por Gilmar, o governador menciona Blairo Maggi, uma delação premiada e denúncias envolvendo a campanha eleitoral de 2010 que nem sabe direito quais são. Precisa conferir o processo. — É uma loucura, viu? — recita com voz chorosa.
— Que loucura!, que loucura! — concorda Gilmar, antes de avisar que o socorro está a caminho. — Eu vou ver. Vou agora para o TSE conversar com o Toffoli.
O governador repete o falatório incongruente. O ministro do STF reitera a promessa de ajuda:
— Eu vou lá e, se for o caso, depois a gente conversa — combina Gilmar, que se despede com “um abraço de solidariedade”.
Silval pôde dormir em sossego enquanto desfrutou do foro privilegiado. Terminado o mandato, ficou exposto a instâncias do Judiciário fora do alcance do nada santo protetor de corruptos. Em 17 de setembro de 2015, depois de ficar foragido por dois dias para escapar da prisão preventiva decretada pela juíza Selma Arruda, Silval entregou-se à Justiça. Passados quase dois anos, continua engaiolado. Mas não parece figurar na agenda de preocupações do especialista na absolvição de culpados.
Gilmar, que vive prometendo marcar encontros com “as prisões alongadas ocorridas em Curitiba”, não deu as caras na cadeia que há quase dois anos aloja Silval. Feroz inimigo de delações premiadas, decerto não gostou de saber que o ex-governador negocia um acordo com a Justiça que o obrigará a contar tudo o que sabe. A amizade entre essas duas celebridades mato-grossenses pode estar perto do fim.


Como reiterou a entrevista publicada pela Folha nesta segunda-feira, Gilmar vê no espelho uma figura onipotente, onisciente e onipresente. Mas mesmo quem pode muito não pode tudo. Já não pode, por exemplo, livrar Aécio Neves da enrascada em que se meteu com a divulgação da conversa telefônica em que tentou conseguir R$ 2 milhões de Joesley Batista — e mostrou ao país que um ex-candidato à Presidência da República também sabe falar um subdialeto de encabular o mais desbocado brigão de cortiço.
Até então, o senador mineiro figurou na lista VIP dos clientes do ministro. Aos integrantes desse grupo é permitido até pedir que um ministro do Supremo interfira em votações no Senado, como atesta a gravação abaixo reproduzida, que registra o diálogo entre entre Gilmar e Aécio ocorrido em 26 de abril deste ano. Ou pode, como fez Michel Temer, pedir ao presidente do TSE que o absolva por excesso de provas. Foi a maior vitória do Juiz dos Juízes. Talvez tenha sido a última.


DO .A.NUNES

Moro autoriza abertura de inquérito para investigar ex-presidente da Petrobras

Aldemir Bendine também é ex-presidente do Banco do Brasil. Segundo delatores, ele solicitou e recebeu R$ 3 milhões para auxiliar empreiteira em negócios com a Petrobras. A PF vai investigar o caso.


O juiz Sérgio Moro, responsável pelos processos da Lava Jato na primeira instância, autorizou o pedido de instauração de inquérito policial para investigar o ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobras Aldemir Bendine. A Polícia Federal vai investigar o caso.
Segundo depoimento de delação feito por Marcelo Odebrecht e Fernando Reis, Bendine solicitou e recebeu R$ 3 milhões para auxiliar a empreiteira em negócios com a Petrobras. Conforme os delatores, o dinheiro foi pago em espécie através de um intermediário.
O pedido de abertura de inquérito policial foi feito pelo Ministério Público Federal (MPF) no dia 5 de junho. A decisão de Moro é de sexta-feira (9).
"Defiro, sendo necessária a melhor apuração dos fatos antes de qualquer conclusão", disse Moro. Ele determinou ainda que o inquérito seja mantido em sigilo.
Em 2015, Bendine era braço direito da então presidente Dilma Rousseff. E deixou o banco com a missão de acabar com a corrupção na petroleira, alvo da Lava Jato. Mas, segundo os delatores, ele já cobrava propina no Banco do Brasil, e continuou cobrando na Petrobras.
O pedido de propina, segundo os delatores, foi feito em 2014, quando Aldemir Bendine era presidente do Banco do Brasil. Na delação de Fernando Reis, o ex-executivo da Odebrecht conta que foi procurado por um representante de Bendine, o publicitário André Gustavo Vieira da Silva, com uma queixa sobre o ministro da Fazenda Guido Mantega.
"Que o Guido mandava sempre o Aldemir fazer as coisas, que ele fazia, que tinha a percepção que o então ministro Guido Mantega fazia parte da arrecadação e que ele, Bendine, só recebia as ordens e não recebia nada, então ele queria tentar estabelecer conosco um canal para o Aldemir Bendine”, afirmou Fernando Reis
DO G1

Petistas agridem Miriam Leitão


Lula ataca todos os dias a TV Globo.
Ele já obteve um resultado: sua gangue, alguns dias atrás, agrediu Miriam Leitão.
Leia seu relato:
Sofri um ataque de violência verbal por parte de delegados do PT dentro de um voo. Foram duas horas de gritos, xingamentos, palavras de ordem contra mim e contra a TV Globo. Não eram jovens militantes, eram homens e mulheres representantes partidários. Alguns já em seus cinquenta anos. Fui ameaçada, tive meu nome achincalhado e fui acusada de ter defendido posições que não defendo.
Sábado, 3 de junho, o voo 6237 da Avianca, das 19h05, de Brasília para o Santos Dumont, estava no horário. O Congresso do PT em Brasília havia acabado naquela tarde e por isso eles estavam ainda vestidos com camisetas do encontro. Eu tinha ido a Brasília gravar o programa da Globonews.
Antes de chegar ao portão, fui comprar água e ouvi gritos do outro lado. Olhei instintivamente e vi que um grupo me dirigia ofensas. O barulho parou em seguida, e achei que embarcariam em outro voo.
Fui uma das primeiras a entrar no avião e me sentei na 15C. Logo depois eles entraram e começaram as hostilidades antes mesmo de sentarem. Por coincidência, estavam todos, talvez uns 20, em cadeiras próximas de mim. Alguns à minha frente, outros do lado, outros atrás. Alguns mais silenciosos me dirigiram olhares de ódio ou risos debochados, outros lançavam ofensas.
— Terrorista, terrorista — gritaram alguns.
Pensei na ironia. Foi “terrorista” a palavra com que fui recebida em um quartel do Exército, aos 19 anos, durante minha prisão na ditadura. Tantas décadas depois, em plena democracia, a mesma palavra era lançada contra mim.
Uma comissária, a única mulher na tripulação, veio, abaixou-se e falou:
— O comandante te convida a sentar na frente.
— Diga ao comandante que eu comprei a 15C e é aqui que eu vou ficar — respondi.
O avião já estava atrasado àquela altura. Os gritos, slogans, cantorias continuavam, diante de uma tripulação inerte, que nada fazia para restabelecer a ordem a bordo em respeito aos passageiros. Os petistas pareciam estar numa manifestação. Minutos depois, a aeromoça voltou:
— A Polícia Federal está mandando você ir para frente. Disse que se a senhora não for o avião não sai.
— Diga à Polícia Federal que enfrentei a ditadura. Não tenho medo. De nada.
Não vi ninguém da Polícia Federal. Se esteve lá, ficou na porta do avião e não andou pelo corredor, não chegou até a minha cadeira.
Durante todo o voo, os delegados do PT me ofenderam, mostrando uma visão totalmente distorcida do meu trabalho. Certamente não o acompanham. Não sou inimiga do partido, não torci pela crise, alertei que ela ocorreria pelos erros que estavam sendo cometidos. Quando os governos do PT acertaram, fiz avaliações positivas e há vários registros disso.
Durante o voo foram muitas as ofensas, e, nos momentos de maior tensão, alguns levantavam o celular esperando a reação que eu não tive. Houve um gesto de tão baixo nível que prefiro nem relatar aqui. Calculavam que eu perderia o autocontrole. Não filmei porque isso seria visto como provocação. Permaneci em silêncio. Alguns, ao andarem no corredor, empurravam minha cadeira, entre outras grosserias. Ameaçaram atacar fisicamente a emissora, mostrando desconhecimento histórico mínimo: “quando eles mataram Getúlio o povo foi lá e quebrou a Globo”, berrou um deles. Ela foi fundada onze anos depois do suicídio de Vargas.
O piloto nada disse ou fez para restabelecer a paz a bordo. Nem mesmo um pedido de silêncio pelo serviço de som. Ele é a autoridade dentro do avião, mas não a exerceu. A viagem transcorreu em clima de comício, e, em meio a refrões, pousamos no Santos Dumont. A Avianca não me deu — nem aos demais passageiros — qualquer explicação sobre sua inusitada leniência e flagrante desrespeito às regras de segurança em voo. Alguns dos delegados do PT estavam bem exaltados. Quando me levantei, um deles, no corredor, me apontou o dedo xingando em altos brados. Passei entre eles no saguão do aeroporto debaixo do coro ofensivo.
Não acho que o PT é isso, mas repito que os protagonistas desse ataque de ódio eram profissionais do partido. Lula citou, mais de uma vez, meu nome em comícios ou reuniões partidárias. Como fez nesse último fim de semana. É um erro. Não devo ser alvo do partido, nem do seu líder. Sou apenas uma jornalista e continuarei fazendo meu trabalho. DO O ANTAGONISTA