domingo, 26 de fevereiro de 2017

Dora Kramer: Honra ao demérito

Publicado na edição impressa de VEJA
Moreira Franco é ministro, Alexandre de Moraes está assegurado no Supremo Tribunal Federal, Antonio Cláudio Mariz, crítico da Lava Jato, foi por isso preterido na lista dos preferidos ao Ministério da Justiça. Em boa hora, diga-se. Nessa toada, o presidente Michel Temer assegurou que denunciados serão afastados e os réus demitidos do governo.
Com isso, pela ótica do Palácio do Planalto os flancos abertos por passos em falso na política foram fechados e a situação administrada. Na visão do público, cuja opinião é crucial, contudo, nada está resolvido. Disso dão notícia quaisquer conversas entre pessoas comuns sobre os inúmeros inquéritos, citações e processos envolvendo o grupo do presidente. Turma, diga-se, da pesada.
É com ela e em nome dela que Michel Temer tem transitado da posição de preferido para dar um jeito no país à condição de preterido na lista dos políticos mais bem aceitos pela sociedade.
Seus índices de popularidade caem na proporção inversa dos sinais de reorganização da economia. Dado irrelevante, caso essa queda não se relacionasse aos erros do governo no campo dos bons costumes e sim aos acertos decorrentes de medidas rigorosas tomadas no intuito de recolocar o Brasil no rumo certo.
Temer não é candidato em 2018, mas seu partido (PMDB) é candidatíssimo a sentar no banco do carona do PSDB. Não irão a lugar algum sem levar em conta o julgamento moral do público, no qual se inclui a irritabilidade com a mentira e com o abuso do discernimento alheio. Instrumentos dos quais Planalto e adjacências têm feito uso – se me permitem a repetição – abusivo.
O anúncio da decisão presidencial de impor critério à permanência (ou não) de ministros nos respectivos cargos encerra lição mais eloquente que a aula de fisiologismo explícito dada pelo ministro Eliseu Padilha sobre a utilidade do balcão de votos como método para a escolha de ministros.
“Normal”, diz Padilha para espanto de quem esperava do governo outro tipo de eficiência – aquele firmado no preceito de honra ao mérito -, uma vez que os atuais inquilinos no poder substituíram seus antecessores alegando, entre outros motivos, a prática sistemática da concessão de honra ao demérito. Já Temer em seu pronunciamento foi além: consignou a licença para transgredir.
Sem denúncia ou pronúncia de sentença, agentes públicos são imunes ao julgamento moral daqueles a quem devem servir. O presidente inverte conceitos, usando a presunção da inocência em prol da suposição de livre indecência. Por essa régua, os nomeados podem tudo, menos ser pegos, quando o correto seria não os admitir a fim de que não fosse necessário demiti-los.
Com essa e várias outras, Temer contratou um volta às ruas marcado para depois de o Carnaval chegar. DO A.NUNES

Uma morte ronda a Lava-Jato

Foi encontrado morto ontem em Punta del Este, no Uruguai, Carlos Diaz.
No Brasil, quase ninguém sabe de quem se trata, mas Diaz era um elo fundamental para se desvendar crimes que estão sendo investigados pela Lava-Jato.
Diaz era desde 2010 o diligente diretor da Secretaria Nacional de Luta contra a Lavagem de Dinheiro do Uruguai.
Até agora, suspeita-se de que tenha sofrido um infarto, mas hoje será realizada uma perícia para confirmar a causa da sua morte.
Na quinta-feira passada, uma reportagem assinada por Chico Otávio, no GLOBO, revelou que o MPF do Brasil e o Uruguai estavam em vias de fechar uma parceria inédita para investigar a lavanderia de dinheiro sujo procedente do Brasil.
O ponto de partida era a atuação do advogado uruguaio Oscar Algorta, que auxiliou Sérgio Cabral, Nestor Cerveró e outros a lavarem dinheiro de propina.
Ao GLOBO, Diaz disse que cederia instalações e o acervo da secretaria que comandava para que os procuradores brasileiros pudesem aprofundar suas investigações. DO L.JARDIM

Delator da Schahin entrega à Lava Jato recibos da propina a ex-tesoureiro do PT

Jullia Affonso, Ricardo Brandt e Fausto Macedo
26 Fevereiro 2017 | 06h00
recibo
Um dos recibos entregues pelo delator da Schahin
Paulo Ferreira. Foto: Sergio Castro/AE
Paulo Ferreira. Foto: Sergio Castro/AE
O engenheiro José Antonio Marsilio Schwarz, ligado à empreiteira Schahin, afirmou em delação premiada na Operação Lava Jato ter pago R$ 200 mil em propina, em 2010, à campanha do ex-tesoureiro do PT Paulo Ferreira. Naquele ano, o petista concorria ao cargo de deputado federal pelo Rio Grande do Sul. Schwarz entregou à Lava Jato os recibos da propina.

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Paulo Ferreira foi preso em 2016 na Operação Abismo, 31.ª fase da Lava Jato que investiga propinas em obras do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento da Petrobrás (Cenpes). No dia 2 de fevereiro passado, por fiança de R$ 200 mil, o ex-tesoureiro foi colocado em liberdade.
Em depoimento prestado em 31 de janeiro, o delator declarou que Paulo Ferreira procurou a empresa Schahin em março de 2010 ‘pedindo contribuição paralela para sua campanha’. José Antonio Schwarz afirmou que, na ocasião, o petista deixou o número de telefone com o empresário Milton Taufic Schahin, sócio do Grupo Schahin.
“Cerca de 10 dias depois da solicitação, Milton Schahin concordou em fazer a contribuição que ficou estabelecida em R$ 200 mil e passou esse assunto para ser tratado pelo declarante; que o declarante foi, então, comunicado por Milton Schahin e que recebeu dele o telefone de Paulo Ferreira”, relatou.
Schwarz afirmou que Paulo Ferreira pediu que o pagamento fosse feito ao escritório Oliveira Romano Sociedade de Advogados, do ex-vereador Alexandre Romano, o Chambinho, do PT.
Alexandre Romano também é um dos delatores da Lava Jato.
“Sobre o modelo de pagamento proposto por Paulo Ferreira o declarante obteve a autorização de Milton Schahin e no mesmo dia, ou no dia seguinte, telefonou para Alexandre Romano e combinou de ir até o escritório dele para obter os dados a fim de efetuar o pagamento”, declarou o engenheiro da Schahin.
“Nessa reunião o declarante avisou que fariam o pagamento de doação para campanha política para deputado de Paulo Ferreira, tendo se estabelecido como se dariam os pagamentos; que não foi feito nenhum contrato com o escritório de Alexandre Romano, nem mesmo para simular prestação de serviços a pretexto de justificar os pagamentos; que Alexandre Romano de fato chegou a oferecer uma prestação de serviços mas o declarante não deu andamento a essa possibilidade.”
O delator relatou que foram emitidas 5 notas fiscais no valor de R$ 74.698,22 cada. “Foram realizados pagamentos apenas em relação às notas fiscais nº 054, 085 e 093, sendo que as de nº 065 e 077 foram canceladas”, afirmou à Lava Jato.
Segundo José Antonio Schwarz, ‘aproximadamente 2 meses após concluir os pagamentos quanto as doações, tendo em vista que estavam em andamento algumas obras da Schahin com o governo federal, Milton Schahin pediu o declarante entrar em contato com João Vaccari Neto para falar a respeito dessa doação’. O engenheiro declarou que falou com o então tesoureiro do PT João Vaccari Neto que a empresa havia ‘doado valores para a campanha de Paulo Ferreira e que entendiam que esse pagamento seria considerado pela empresa como parte das contribuições frequentes que eram feitas ao Partido dos Trabalhadores’.
“João Vaccari Neto escutou e anuiu com essa situação”, afirmou o delator.
O acordo de delação premiada de Schwarz foi homologado em 8 de fevereiro. Pelo contrato, o engenheiro deverá pagar multa de R$ 500 mil ‘a ser adimplida em 4 parcelas de, no mínimo, R$ 125 mil, vencendo a primeira em 30 dias da homologação do presente acordo e as demais subsequentemente’.
No dia 14 de dezembro, ainda preso, Paulo Ferreira foi interrogado por Moro e confessou que o PT – e os outros partidos políticos – trabalha com recursos não contabilizados. Ele disse que ‘negar informalidades nos processos eleitorais brasileiros de todos os partidos é negar o óbvio’.
“É um problema da cultura política nacional, dr. Moro”, disse o ex-tesoureiro, na ocasião. “Eu não estou aqui pra mentir pra ninguém. Estou aqui pra ajustar alguma dívida que eu tenha, minha disposição aqui é essa.”
COM A PALAVRA, O ADVOGADO ELIAS MATTAR ASSAD, QUE DEFENDE PAULO FERREIRA
A defesa de Paulo Ferreira, por meio do advogado Elias Mattar Assad, declarou que o conteúdo da delação não atinge nem compromete a defesa do seu cliente. DO ESTADÃO

#SanatórioGeral: Vassalo doidão

Palavrório de Gilberto Carvalho informa que casos de polícia também podem ser coisa de hospício

“Não será fácil condenar o Lula. Veja a condução coercitiva. Eles achavam, segundo a descrição de um delegado, que Lula era uma estátua de gelo, e não de mármore, que você aproximava do fogo ‘tríplex/chácara’ e derretia, acabava. Foi com essa arrogância e convicção que fizeram aquela condução coercitiva. Quebraram a cara. Com o Lula cada vez mais perto do povo, crescendo, ficará cada vez mais evidente que se trata de uma brutal injustiça, de uma ação política”. (Gilberto Carvalho, caixa-preta do PT e coroinha de missa negra, em entrevista ao Valor Econômico, promovendo Lula a estátua de mármore, rebaixando a chácara o sítio em Atibaia e garantindo que o chefe está tão perto do povo que já atingiu 44% de rejeição nas pesquisas sobre a eleição de 2018) DO A.NUNES

Doria aparece à frente de Alckmin em pesquisa presidencial

 O Instituto Paraná Pesquisas perguntou qual tucano teria mais chances de ganhar seu voto para presidente. Aécio Neves ficou em primeiro com 17,7%. Mas a surpresa foi João Doria. Ele ficou com 16,7%, a frente de seu criador, Geraldo Alckmin, que obteve 12,9%. DO RONLINE

Cabral quer delatar nomes do PMDB, mas MP quer Judiciário

Em negociação para delatar, Sergio Cabral disse aos procuradores que tem provas para explodir Pezão, Eduardo Paes e Jorge Picciani. Mas o MP está firme: quer nomes do Judiciário. R.ONLINE

UM DISCURSO TÃO BREVE QUANTO MEMORÁVEL NA FORMA E NO CONTEÚDO


Percival Puggina

Eliseu Padilha virou uma demissão incontornável

Instituído por Michel Temer há 13 dias, o modelo de demissão de ministros em suaves prestações já está com o prazo de validade vencido. Ministros denunciados pela Procuradoria na Lava Jato, esclareceu Temer, amargariam um afastamento temporário, conservando o salário e o privilégio de foro. Convertidos em réus pelo Supremo Tribunal Federal, os ministros seriam, aí sim, mandados ao olho da rua. Eliseu Padilha, o chefe da Casa Civil, ainda não foi denunciado. Tampouco virou réu. Entretanto, embora a ficha de Temer ainda não tenha caído, a demissão do chefe da Casa Civil tornou-se incontornável. Até aliados do presidente já admitem em privado que o mais conveniente seria que o ministro, licenciado por problemas de saúde, não retornasse.
Temer enxerga em Eliseu Padilha uma honestidade incrível. Mas o braço brasiliense da força-tarefa da Opreação Lava Jato passou a ver no ministro uma inocência inacreditável. A incredulidade dos investigadores cresceu depois que o ex-assessor presidencial José Yunes veio aos holofotes para dizer que recebeu, a pedido de Padilha, um envelope levado pelo doleiro Lúcio Funaro. O enredo tem pontos de contato com as delações da Odebrecht, que indicam o escritório paulista de Yunes como um dos endereços de entrega de parte dos R$ 10 milhões que Temer solicitou a Marcelo Odebrecht em 2014.
Em política, não adianta brigar com o inevitável. Diante de um pé d’água, a primeira coisa a fazer é encontrar um guarda-chuva. A segunda, é abrir o guarda-chuva. A terceira, é tentar se molhar o mínimo possível. Alcançado por um temporal, Padilha deixou Temer ensopado. O modelo de demissão a prazo —afastamento na denúncia e exoneração no envio ao banco dos réus— deixou o almoxarifado do Planalto sem guarda-chuvas. A fórmula pode interessar aos ministros que estão na chuva. Mas mantém a reputação do presidente, já encharcada, à mercê de todo tipo de intempérie.
A integridade de um presidente da República é como a gravidez. Não dá segunda safra. Mas convém a Temer manter ao menos as aparências. O autodenominado “núcleo duro” do Planalto se liquefez. A cúpula do governo vira chorume junto com a fina flor do PMDB. E Temer encontra-se perigosamente próximo do lixão para o qual a Lava Jato arrasta personagens como Renan Calheiros, Romero Jucá, Edison Lobão, José Sarney, Jader Barbalho… A atmosfera malcheirosa adensou-se com a chegada ao Brasil dos operadores de propinas Jorge e Bruno Luz, presos em Miami. Licenciado da presidência do PMDB, Temer comandou o partido por 15 anos. Perdeu o direito de usar o bordão “eu não sabia”.DO J.DESOUZA