terça-feira, 22 de agosto de 2017

Sem foro, Collor talvez dividisse cela com Cunha

Josias de Souza

Denunciado por corrupção em 20 de agosto de 2015, o senador Fernando Collor foi convertido em réu nesta terça-feira pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal. Entre a formalização da denúncia e sua aceitação passaram-se dois anos e dois dias. Na ponta do lapis: a Suprema Corte levou 732 dias para atestar a consistência das acusações contra o senador. A sentença final não virá antes da abertura das urnas de 2018.
Denunciado no mesmo dia, Eduardo Cunha não teve a mesma sorte de Collor. Ex-presidente da Câmara, teve o mandato de deputado cassado em 12 setembro de 2016. No mês seguinte, foi recolhido a uma cela de Curitiba por ordem de Sergio Moro. Em 30 de março de 2016, Cunha já amargava sua primeira condenação. O juiz da Lava Jato sentenciou-o a 15 anos e 4 meses de cadeia.
Hoje, o presidiário Eduardo Cunha está na fila da delação premiada. E Fernando Collor continua usufruindo de todas as facilidades que o contribuinte é capaz de pagar a um senador da República. Não fosse pelo escuro do foro privilegiado do Supremo, Collor talvez já estivesse dividindo uma cela com Cunha, em Curitiba. Em vez disso, o senador sonha com um futuro igual ao do seu conterrâneo Renan Calheiros (PMDB-AL).
Acusado de pagar com propinas de uma empreiteira a pensão de uma filha nascida de relação extraconjugal, Renan virou réu em dezembro do ano passado. Passaram-se nove anos entre o início da investigação e a apreciação da denúncia. Houve prescrição de parte dos crimes. Sabe Deus quando Renan será julgado.
Na Lava Jato, a contabilidade da primeira instância registra 157 condenações. Juntas, somam 1.563 anos, 7 meses e 5 dias. No Supremo Tribunal Federal, não há vestígio de sentença. Repetindo: ninguém foi condenado. Não é sem motivo que os políticos entregam a alma para permanecer no paraíso da Suprema Corte.

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