segunda-feira, 20 de junho de 2016

O gatuno que comandou a roubalheira na Transpetro é mais um bandido de estimação de Lula e Dilma

Sérgio Machado e o quarteto insaciável não teriam feito o que fizeram sem a bênção da dupla de protetores de delinquentes

Por: Augusto Nunes
Todas as figuras citadas nos depoimentos de Sérgio Machado, sem exceção, devem ser incluídas na devassa conduzida pela Lava Jato. Se comprovada a veracidade da acusação, os culpados serão punidos. Caso contrário, o acordo de delação não terá validade e Machado vai envelhecer na cadeia. Simples assim. Nenhum meliante da classe executiva está fora do alcance da ofensiva apoiada irrestritamente pelo país que presta.
Brasileiros decentes não têm bandidos de estimação. Não se prestam ao papel de coiteiro desempenhado por Lula e Dilma Rousseff com muita aplicação e notável desfaçatez. Em 2003, a pedido de Renan Calheiros, o ex-senador cearense foi premiado por Lula com a presidência (e o cofre) da Transpetro. Nos anos seguintes, até as bombas dos postos de gasolina se assombraram com a roubalheira consumada por Machado em sintonia com os chefões do PMDB — sempre sob a proteção do Planalto.
Mantido no emprego por Dilma, o notório vigarista seguiu depenando em sossego o assalto à subsidiária da Petrobras. Deu no que deu. Os principais beneficiários das ladroagens descritas pelo delator foram os senadores José Sarney, Romero Jucá, Renan Calheiros e Edison Lobão, que acertaram com Lula o casamento do PT com o PMDB. Os casos de polícia protagonizados por Machado e por quatro vorazes pais da pátria não ocorreram depois da posse de Michel Temer, mas nos 13 anos de hegemonia da organização criminosa disfarçada de coligação partidária.
José Sarney, por exemplo, voltou a presidir o Senado por vontade de Lula, que retribuiu os bons serviços prestados pelo antigo dono do Maranhão com um título honorífico — Homem Incomum — e operações de socorro que mantiveram no cargo (e em liberdade) um prontuário de bigode. Romero Jucá foi ministro da Previdência e depois líder do governo Lula no Senado. Renan foi discípulo do palanque ambulante até virar conselheiro de um poste. Edison Lobão foi ministro de Minas e Energia da supergerente de araque.
Tão minucioso ao relatar bandalheiras envolvendo integrantes dos partidos que hoje se opõem ao PT, Machado evitou detalhar episódios de que participaram os principais responsáveis por sua longa temporada à frente da Transpetro. Mesmo assim, a revelação mais relevante está na soma dos depoimentos: conjugados, eles escancaram a paternidade da gangrena que consumiu durante 12 anos esse braço da estatal petroleira.
Como todos os participantes do maior esquema corrupto da história, Machado e o quarteto insaciável não teriam feito o que fizeram sem a bênção militante de Lula e Dilma. Todos roubaram impunemente graças aos dois coiteiros de meliantes. O resto é conversa de quadrilheiro apavorado com a expansão da República de Curitiba.

Movimento lança dois novos bonecos: “Enganô” e “Petralovski”. Ou: Recolha a tropa, Janot, e se atenha aos autos

Começa a ficar claro que Ministério Público Federal está com uma leitura política da realidade que, no fim das contas, absolve politicamente o PT

Por: Reinaldo Azevedo
Vejam estes dois bonecos.
Bonecos que fazem alusão crítica a Janot e Lewandowski, do movimento Nas Ruas
Bonecos que fazem alusão crítica a Janot e Lewandowski, do movimento Nas Ruas
Os movimentos de rua — e foram eles que levaram a Câmara a aceitar a denúncia contra Dilma e o Senado a abrir o processo contra a presidente —, mais uma vez, estão à frente da média da imprensa na percepção do que está em curso. Sempre foi assim, não é mesmo? Enquanto setores expressivos do jornalismo insistiam em dar espaço para meia dúzia de bocós que queriam golpe militar, as ruas, de verdade, queriam o impeachment segundo as regras do jogo. Enquanto os “especialistas” do jornalismo duvidavam que Dilma seria afastada, as ruas nunca hesitaram.
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O movimento Nas Ruas me manda a imagem de dois bonecos que passaram a frequentar a Avenida Paulista, junto com o Pixuleco: o “Enganô”, que faz alusão ao Rodrigo Janot, procurador-geral da República, e o Petralovski, que remete ao presidente do Supremo, Ricardo Lewandowski.
Acho que não é preciso expor, vamos dizer assim, as reservas a Lewandowski. Pode até ser um exagero meter-lhe uma estrela no peito, mas não chega a ser segredo que suas concepções mais gerais de mundo estão bastante adequadas ao universo mental petista. No julgamento de uma das ações que buscavam paralisar a tramitação do impeachment, o ministro discursou em favor de uma inexistente soberania do Supremo para decidir se Dilma será ou não cassada. Como se sabe, a Constituição diz que os juízes num processo de crime de responsabilidade são os senadores. PONTO!
Qual é a treta com Janot?
E com Janot? Qual é a treta? Notem: toda pessoa decente quer que todos os corruptos paguem por seus crimes. Mas os movimentos que levaram milhões às ruas em favor da deposição de Dilma começam a perceber que o sr. Rodrigo Janot se move com o que parece, a esta altura, ser uma agenda.
Um estrangeiro que não tivesse acompanhado o escândalo e conseguisse ler a imprensa brasileira teria algumas certezas inquestionáveis:
a: o PMDB foi o coração do petrolão;
b: o PMDB comandou o governo mais corrupto da história;
c: Eduardo Cunha é o chefe inconteste do petrolão;
d: nada há, até agora, que justifique uma denúncia contra Dilma;
e: nada há, até agora, que justifique uma denúncia contra Lula;
f: o PT foi um parceiro menor na administração do petrolão.
Ora, é a maior coleção de mentiras jamais contada sobre o caso.
Militância política
Infelizmente, resta evidente que o Ministério Público Federal, ao lado do meritório trabalho de investigação que fez em muitos casos, resolveu operar também com a política. Aponto esses desvios aqui no meu blog desde sempre. Infelizmente, eu estava certo. Ocorre que a militância passou a ser, agora, mais desabrida. Com os holofotes no mais das vezes acríticos que lhes garante a imprensa, procuradores falam abertamente em refundar a República e não têm receio nenhum de conceder entrevistas que buscam intimidar até o Supremo.
Ou Deltan Dallagnol, o loquaz coordenador da Lava-Jato, não o fez duas vezes enquanto Teori Zavascki decidia sobre o destrambelhado e injustificado pedido de prisão de Renan Calheiros, Romero Jucá e José Sarney? O irrequieto procurador deu a entender, com todas as letras, que a Teori só cabia uma decisão correta: dizer “sim” à pretensão do Ministério Público. O ministro consultou a lei e disse “não”.
Dallagnol e pares seus estiveram em Londres para um seminário sobre a Lava-Jato. Ele e Paulo Roberto Galvão concederam uma entrevista ao Globo. Mais uma vez se manifesta aquele viés de salvadores do mundo e almas messiânicas tocadas pelo desejo de purificar a Terra.
Numa de suas respostas, afirmou Dallagnol:
“Sem entrar no caso concreto, eu diria que a corrupção não tem cor, não tem partido. Ela existe há séculos no Brasil. Apenas na década de 90 tivemos 88 casos de corrupção só na área federal. O nosso compromisso é apurar corrupção envolva quem for de modo cego, apartidário, técnico e imparcial. Esse é o compromisso que temos com a sociedade.”
De todas as teses até agora expostas, essa é a mais profundamente petista. Já escrevi aqui que a Lava-Jato fala, muitas vezes, com o sotaque do PT da década de 80.  Ora, essa avaliação desconsidera a particularidade do assalto petista ao estado: foi também uma forma de conquista do estado; não foi só o roubo aos cofres públicos; tratou-se também do sequestro da democracia.
A escolha das palavras diz muito do que vai hoje no MPF: “uma apuração de modo cego”. Os olhos vendados da Justiça significam apenas que ela não distingue nem protege este ou aquele. Mas não se pode ser tão cego a ponto de não enxergar os limites institucionais.
A seleção de alvos que vem fazendo o Ministério Público e a forma como articulou a delação do senhor Sérgio Machado puseram  a instituição a serviço de uma tese: a deposição do governo Temer para a realização de novas eleições, o que poderia levar hoje o país para o buraco.
E, no buraco, não se consegue nem combater a corrupção.
É bom o Ministério Público Federal deixar a política de lado. As ruas já perceberam. Elas apoiam o combate à corrupção, não os impulsos de candidatos a tiranos virtuosos. Porque isso não existe.
Recolha a tropa, Janot, e se atenha aos autos.