quinta-feira, 16 de junho de 2016

‘A madame mais honesta dos cabarés do Brasil’

Josias de Souza

O delator Sérgio Machado prestou 13 depoimentos à força-tarefa brasiliense da Lava Jato. Transcritas, suas revelações encheram 400 páginas. Cobrem de Temer a Aécio. Certos trechos só deveriam ser exibidos na tevê depois da meia noite. E vendidos em jornais envoltos em sacos plásticos. A política, como se sabe, é a segunda profissão mais antiga do mundo. Mas o ex-presidente da Transpetro demonstrou que, no Brasil, ela se parece muito com a primeira.
A certa altura, Machado referiu-se à Petrobras como “a madame mais honesta dos cabarés do Brasil''. Os inquiridores estranharam. E o depoente: “Era um organismo estatal bastante regulamentado e disciplinado''. A perver$ão é maior noutros órgãos, onde vigoram “práticas menos ortodoxas''. Machado empilhou exemplos: Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, Docas, Banco do Nordeste, Fundação Nacional de Saúde, Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, Departamento Nacional de Obras Contra as Secas…
Lendo-se os depoimentos de Machado, percebe-se que a suruba estatal dos dias atuais é muito parecida com a de antigamente. A diferença é que o PT, ao deixar a história para cair na vida, esforçou-se demais para demonstrar que não estava imune às tentações alheias. Entregou-se com tal volúpia aos prazeres do poder despudorado, que expandiu demais a orgia e esqueceu de fechar a janela. Adorou as alianças esdrúxulas. E percebeu que a volta às origens, além de indesejada, era impossível. Castidade, como a virgindade, não dá segunda safra.
Noves fora a diferença de escala, o ex-tucano Sérgio Machado disse que desde 1946 havia um padrão segundo o qual os empresários incorporavam em seus orçamentos um certo “custo político” —eufemismo para o ‘por fora’, o ‘quanto eu levo nisso?’. Variava conforme o ente da federação: 3% do valor dos contratos firmados com o governo federal, 5% a 10% nos negócios fechados com governos estaduais e 30% nas transações municipais.
Nos bordeis do Estado, pratica-se a suruba às avessas. A Viúva paga para ser violada. Se a Petrobras é “a madame mais honesta”, imagine-se o que sucede nos outros cabarés. Machado disse ter repassado propinas a 23 políticos de seis partidos. Apenas para os pajés do PMDB, sua tribo, entregou mais de R$ 100 milhões durante os 12 anos em que presidiu o balcão da Transpetro.
Sob Machado, “madame” era especialmente dadivosa com seus padrinhos do PMDB do Senado: Renan (R$ 32 milhões), Lobão (R$ 24 milhões), Jucá (R$ 21 milhões), Sarney (R$ 18 milhões), Jáder (R$ 4,2 milhões)… No cabaré gerido por Machado, Renan tinha tratamento diferenciado. Chegou a morder uma mesada de R$ 300 mil. Em anos eleitorais, a cifra engordava.
Dilma não respeita delatores. Lula adomina vazamentos. Mas o petismo adorou a veiculação dos depoimentos de Sérgio Machado. Gostou especialmente do trecho em que ele contou que Michel Temer lhe pediu R$ 1,5 milhão em verbas de má origem, para a campanha paulistana de Gabriel Chalita, em 2012. “É a reversão do impeachment”, celebrou o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), como se nada tivesse sido descoberto sobre o partido dele.
Se a Lava Jato ensinou alguma coisa foi o seguinte: quem tem telhado de vidro não deve criticar a permissividade do cabaré do lado. Vem daí o silêncio da banda muda do Congresso, que convive com Cunhas, Renans, Jucás, Jáderes e dezenas de etcéteras que privaram do prazer grupal propiciado pela “madame mais honesta dos cabarés do Brasil.” A política brasileira sobrevive porque não presta atenção às suas impossibilidades. Nesse meio, a desonestidade deixou de ser exceção. Tornou-se um estilo de vida.
– Ilustração via Miran Cartum

Desencapado, Renan flerta com o curto-circuito

Josias de Souza

A pretexto de discutir a pauta de votações, Renan Calheiros chamou ao seu gabinete os líderes partidários. Surpreendeu-os com um comunicado tóxico: cogita a sério a hipótese de aceitar um pedido de impeachment contra o procurador-geral da República Rodrigo Janot.
O senador Cristovam Buarque pulou da cadeira. Disse que a providência seria desastrosa. Reforçaria a tese do PT segundo a qual o impeachment de Dilma Rousseff foi tramado com o propósito de interromper a Lava Jato.
Alvo da investigação, Renan não se deu por achado. Respondeu que, sob Janot, a Procuradoria comete excessos. Disse que não hesitará em exercer as prerrogativas de presidente do Senado. Fará o que achar que é certo, sem receio das reações.
Ouviu-se na sala um silênco sepulcral, rompido por Fernando Collor. Também crivado de suspeição, já denunciado no STF como beneficiário de propinas provenientes da Petrobras, Collor insuflou Renan, estimulando-o a marchar contra Janot.
Terminada a reunião, o tucano Aloisio Nunes Ferreira, líder de Michel Temer no Senado, disse estar preocupado com a pretensão do presidente do Senado. Mais tarde, Renan repetiria a cantilena anti-Janot no plenário.
Cristovam, de novo, correu ao microfone para contestá-lo: “Se passar a imagem de que estamos tentando impedir a Lava Jato de ir adiante, será um desastre de proporções inimagináveis para todos nós.” Em conversa com o blog, Cristovam acrescentou: “Será um desastre também para o Michel Temer.”
Subscrito por duas advogadas, o pedido de impeachment contra o procurador-geral caiu do céu sobre a mesa de Renan. O senador enxergou na peça uma oportunidade para se vingar de Janot, que pedira a sua prisão, junto com outros pajés do PMDB.
Renan tornou-se um fio desencapado depois que o ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no STF, indeferiu os pedidos de prisão. Eletrificou-se com a divulgação do teor da delação premiada de Sérgio Machado, que o acusa de ter mordido R$ 32 milhões em propinas provenientes da Transpetro, subsidiária da Petrobras.
A decisão de Renan sobre Janot foi prometida para a próxima semana. Se o senador cumprir sua ameaça, entrará em curto-circuito num instante em que o Planalto trabalha para reduzir a voltagem do ambiente, apressando a votação do impeachment e a apreciação da emenda constitucional que cria umteto para as despesas da União

CARTA AOS COVARDES




Por Guilherme Fiuza
A imprensa internacional precisa tomar um pouco de vergonha na cara, dear fellows O New York Times disse que o governo Temer soluça de crise em crise. Será que o jornal americano também está na folha dos companheiros? Estaria o NYT precisando também da mesada que nossos bilionários heróis progressistas pagam aos bravos e incorruptíveis jornalistas de aluguel deste paísA imprensa internacional precisa tomar um pouco de vergonha na cara. Só um pouco. Sabem por que, dear fellows? Porque o Brasil não tem a menor importância para vocês, e tudo certo que assim seja, mas vocês têm de poder voltar para casa e se olhar no espelho do mesmo jeito, entendem?
A mídia tradicional ("tradicional" não é pejorativo, queridos moderninhos, pode ser ótimo) europeia e americana parece ter comprado a versão do golpe de Estado no Brasil. A maior parte dela andou "denunciando" o fato, ou flertando com a tese vagabunda – espalhada pelos parasitas que sugaram o Brasil por 13 anos sem dó nem piedade, e agora são apoiados pela MPB, intelectuais patéticos e artistas lunáticos (ou bem pagos).
Prezados correspondentes internacionais, façam o seu trabalho direito. Isso aqui não é brincadeira, embora pareça. Esses "progressistas" que vocês preguiçosamente adotaram como fonte, reproduzindo o discurso que a inacreditável Dilma Rousseff anda repetindo por aí, como alma penada, são nada menos que delinquentes, caros colegas gringos. Vocês estão dando voz a uma "narrativa" de quem roubou o Brasil – e está desesperada para continuar roubando.
Não é bom generalizar, mas as exceções compreenderão. A palhaçada passou do ponto. Ladies and gentlemen, tomem o caminho da roça. Vão à luta. Se mandem para a Venezuela, que tal? Vocês saberão puxar o saco do sanguinário Nicolás Maduro, que destruiu um país com o mesmo chavismo com que a picaretagem petista – suas adoradas fontes – jogou o Brasil em dois anos seguidos de recessão, que se completam agora.
Publiquem aí, seus irresponsáveis: dois anos de recessão no Brasil são culpa de Michel Temer, que não botou mulher no ministério. Vocês são umas crianças patéticas com seu proselitismo politicamente correto. Essa corrente "progressista" – nacional, internacional ou sideral – que resolveu se pendurar em dogmas vagabundos para sabotar tudo que não seja o PT no poder é criminosa. Não há outra definição.
Vamos explicar às crianças trapalhonas: o governo podre que arrebentou com o Brasil se fazendo de coitado (há algo mais humilhante?) foi deposto por um, apenas e tão somente um, dos crimes que cometeu – e foi uma floresta de crimes, queridos siderais.
Bem antes do petrolão – esquema que vicejou graças a esse mesmíssimo discurso de vítima que agora vocês repetem em defesa de Dilma e Lula, vá entender –, aqui neste mesmo espaço, criticávamos (sem efeito nenhum, é bem verdade) a chamada "contabilidade criativa".
Era outro nome para as pedaladas, que se mostraram um apelido mais eficiente para ensinar ao jardim de infância que o Tesouro Nacional estava sendo roubado pela malandragem fiscal – o crime que derrubou Rousseff, queridos heróis da resistência democrática.
Ainda não havia Sergio Moro nem Joaquim Barbosa, portanto Lula, Dirceu e sua camarilha ainda eram santos – e não foram poucas as "sugestões" para este colunista mudar de assunto: "Vai perder a coluna", alertavam. Este signatário respondia que preferia perder a coluna a perder o juízo. Continua preferindo. Mas isso não é fácil de entender para os que veem a vida como uma vaga no curralzinho VIP da revolução fisiológica. A coreografia de um esganado para não largar seu osso é um espetáculo ornamental.
Prezado Michel Temer, diante deste show avassalador de desonestidade intelectual, charme parasitário e bravura cafajeste, você só tem uma saída: governar. Essa é a sua missão na Terra. Cumpra-a até o fim, custe o que custar.
Você teve a coragem de demitir os suspeitos – o que o PT jamais fez, a não ser quando estavam na porta da cadeia – e mais que isso: a coragem de trocar os simpáticos pilantras no topo do governo pelos melhores – que aqui da planície achávamos até que não topariam a encrenca.
Toparam.
E os melhores vão melhorar a vida inclusive dos canastrões que os atacam impiedosamente. Não espere por essa piedade. Ela não vale nada.
16 de junho de 2016 - DO R.DEMOCRATICA