domingo, 24 de abril de 2016

Valentina de Botas: O PSDB, que receou fazer oposição por 13 anos, dobra a meta e também receia integrar o governo Temer

24/04/2016
“Não vou até aí, é muito perigoso; espera o pessoal do seguro, e quando você chegar, te faço uma massagem”. Passava da meia-noite e uma amiga querida, para quem confesso até meu IMC, ouviu ao telefone o marido confirmar a rotina daquele casamento unilateral: que não contasse com ele. Professora universitária num curso noturno, voltava para casa e o carro enguiçou nos ermos do trajeto obrigatório. Quando me ligou em seguida, não me surpreendi com o relato na voz de choro contido: “Não acredito”, disfarcei acolhendo a angústia dela e fui ajudá-la.

O PSDB que, na oposição há 13 anos, receou fazer oposição por 13 anos, dobra a meta e também receia integrar o governo Temer. Faz cálculos adequados a essa conduta patética diante da possibilidade de José Serra ser ministro de Temer – receia que o governo seja bom e receia que seja ruim: na primeira hipótese, Serra chega fortalecido à disputa de 2018, atrapalhando outros tucanos presidenciáveis; e, na segunda, Serra enfraquecido atrapalha outros tucanos presidenciáveis.
O partido só não receou excluir o país de cálculos que envolvem covardia e oportunismo elevados à potência da estupidez: o Brasil talvez não possa contar com o PSDB agora e o PSDB espera contar com o Brasil em 2018. Perfeitamente, senhores. O partido desfigurou-se sob o lulopetismo, num trabalho incansável por meio do silêncio cúmplice na narrativa canalha que deturpou a história do Plano Real, causando a extinção do precioso legado que, hoje, é só doída lembrança do que poderíamos ter sido.
Legado que não contempla somente princípios econômicos e fiscais, como a domesticação da inflação e a consequente normalização do cotidiano, condição fundamental para haver futuro – mas que remete, sobretudo, à última vez em que os interesses do país foram projeto de governo. Nesses 13 anos miseráveis, enquanto o nível de testosterona política dos tucanos declinava a ponto de se limitarem a hesitantes campanhas eleitorais, os brasileiros indignados não recuaram da oposição real unindo com pontes incertas ilhas esparsas de resistência.
Agora, os tucanos forjam com medinhos e nojinhos um dilema artificial para refúgio contra os perigos de fazer política, agendando um encontro com a irrelevância. Ela avisa que topa. Uma pena, pois o partido reúne quadros genuinamente democratas que somam honestidade e competência. Integrar um governo é aspiração legítima de qualquer partido que, depois de ajudar a destituir legalmente o anterior mafioso, passa à obrigação se convidado. Concorrer à presidência é aspiração naturalíssima de qualquer político; ilegítimo é fazê-lo por covardia ou oportunismo como o PSDB ameaça; por dissimulação como a Rede de Marina Silva; e pela delinquência como a escória lulopetista.
No silêncio de constrangimento tão sólido que se tornava outro passageiro, eu adivinhava o choro da minha amiga, é duro acabar um casamento mesmo quando ele está acabado. Vazia da palavra ou do olhar certos para a delicadeza da situação, estendi-lhe a mão sem olhar, só para que percebesse minha presença como companhia. Na retribuição do gesto, consegui perguntar se a tal massagem valia mesmo aquela sofrência toda. Rimos tanto que quase batemos o carro: posso ficar uns tempos na sua casa até alugar um aparamento e tal? Claro que podia.
Numa nota para o site O Antagonista, o senador Aloysio Nunes, com a assertividade costumeira, apontou o absurdo da estratégica eminente do PSDB. Se os tucanos não o ouvirem, se o país não puder contar com eles para o conserto de que precisa para chegar a um lugar seguro, que se preparem para, em 2018, massagearem-se uns aos outros. DO A.NUNES

PT, PSDB e a transição

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Eliane Cantanhêde
Pela primeira vez, desde 1995, lá se vão 21 anos, o Brasil está a dias de ter um governo que não é nem do PT nem do PSDB, mas do velho PMDB de guerra. Isso acirra as disputas internas e mexe com os nervos de petistas e tucanos. E agora, o que fazer?
O virtual presidente Michel Temer dará mais um passo rumo à rampa do Planalto amanhã, com a eleição de uma comissão do impeachment favorável à deposição de Dilma Rousseff. Mas ainda há muitas dúvidas sobre como será e que chances terá um governo Temer.
Nascido do impeachment, não será um governo de coalizão clássica, mas sim um governo de transição em meio a uma profusão de crises. Sem legitimação nas urnas, terá de buscar legitimidade nas atitudes, na montagem do Ministério e, sobretudo, nos resultados. Isso significa um monumental conflito entre a macro e a micropolítica. Se repetir o fatiamento de cargos de Dilma, Temer irá naufragar.
Quando se fala em “Temer naufragar”, fala-se que a economia vai continuar afundando, com o Brasil rumo ao precipício, as lojas fechando, as indústrias pagando o “pato” e os trabalhadores perdendo empregos na casa de milhões por trimestre. O fracasso de Temer seria, ou será, atrasar drasticamente o fim da crise.
Aí entram o PT e o PSDB, os dois principais polos da política nacional agora e muito provavelmente em 2018. O PT se divide entre “botar fogo no circo (e nas ruas)” e fazer oposição parlamentar dura, mas responsável, calibrando o desgaste de Temer com as medidas urgentes de recuperação da economia. E o PSDB está confluindo para uma posição perigosa.
Como julgam que o PSDB chegará como favorito a 2018, em apenas dois anos e meio, os presidenciáveis Geraldo Alckmin e Aécio Neves não querem, digamos, queimar cartuchos com o governo Temer. A Executiva Nacional tomará em 3 de maio uma decisão que tende a ser “tucana”: ok, o partido vota com o governo as medidas necessárias no Congresso, mas não pula nos ministérios e nos cargos. Ajuda, sem se comprometer.
Sabe o que isso significa? Que o PSDB vai jogar Temer e a transição no colo do “centrão”, que esteve até anteontem com Lula e Dilma, saiu direto para o impeachment e está louco para recuperar a boquinha – não para salvar o País.
É verdade que não foi o PSDB quem articulou o impeachment (demorou até a admitir a ideia...), mobilizou as manifestações e os 367 votos na Câmara. Mas não há como negar que nunca se pensou num “governo PMDB”, mas num “governo de união nacional”, obviamente com os quadros de elite do PSDB.
É questão de vida ou morte para Temer não errar nos nomes para economia, infraestrutura, Justiça e o duplo foco social, Saúde e Educação. Em Saúde, por exemplo, não só por causa de dengue, chikungunya, zika e H1N1, mas também para forçar uma comparação com Dilma, que nomeou um deputado do “baixo clero” para área tão especial só para agradar à parcela minoritária do PMDB.
Para a economia, a coisa anda mal. Armínio Fraga já tinha avisado que não pode, Delfim Netto tem 88 anos, Henrique Meirelles é identificado como “lulista” e “financista”, Murilo Portugal é “plano B” e José Serra é cotado no núcleo de Temer para fazer “uma revolução”... na Educação ou na Saúde. Falta combinar com o adversário, ou seja, com o próprio Serra.
Neste momento, a prioridade de Temer é negar radicalmente, dentro e fora do País, que haja um “golpe” e que seja um “golpista”. Mas, além de não ser golpista, ele precisa mostrar que está preparado para o desafio, tem equipe, tem apoios, tem capacidade de recuperar a credibilidade não dele, mas de um país chamado Brasil. Com o PT incendiando as ruas e o PSDB lavando as mãos, eles vão todos juntos para o buraco. Arrastando o País e todos nós. Responsabilidade, gente!