terça-feira, 10 de novembro de 2015

Joice Hasselmann se despede da TVeja

joice - tveja
A jornalista paranaense Joice Hasselmann não integra mais os quadros da TVeja, a rede de TV da revista Veja na Internet. Em uma rede social (www.facebook.com/joicehasselmann), Joice fez um longo desabafo explicando os motivos que a levaram a sair do grupo Abril e explicou os novos projetos aos quais irá se dedicar. A partir do momento em que a informação começou a circular nas redes sociais, a jornalista começou a receber dezenas de manifestações de apoio, principalmente pela sua atuação em defesa do impeachment da presidente Dilma (PT).
Veja a seguir a íntegra do post de despedida de Joice.

“Olá pessoal! Hoje é dia de comunicado importante, de adeus e de anúncio de projeto novo. Vamos por partes. Já corre nas Redes Sociais que eu, Joice Hasselmann, já não estou mais em TVEJA, a TV do site de VEJA, que tenho orgulho de ter criado do zero. Como a internet é espaço livre e tem muita desinformação sobre o assunto, vamos aos fatos reais, em respeito a vocês, meus milhares de seguidores, guerreiros, que debatem comigo, diariamente, os problemas e soluções para nosso país.
Sim, não faço mais parte de VEJA. O ciclo se encerrou. É hora de projeto novo. Tenho muito carinho por TVEJA, a primeira TV com grande fixa na internet, que tive a honra de criar, de pensar, de batizar os programas, de desenvolver o slogan, de adaptar o estúdio, enfim, de carregar esse piano por muito tempo com um pequeno e competente time de colunistas, que rapidamente se engajaram no projeto. Não é segredo que até um passado recente eu fazia todos os programas de TVEJA, de seis a dez vídeos por dia, sozinha ou junto com um dos meus competentes parceiros de VEJA, que no início eram poucos. Entrevistei os maiores nomes da política do Brasil, debatemos nosso país, enfrentamos com o som da verdade e coragem as mazelas da corrupção e abrimos espaço para todas as vozes. Fizemos a maior cobertura eleitoral da história da internet. Uma deliciosa maratona. Lembro com carinho do dia da eleição em que fiquei 12 horas no ar ininterruptamente. Uau! Foi incrível! Um trabalho de tanta garra que mereceu a Carta ao Leitor de VEJA (a imagem que está acima), o mais nobre espaço da revista. Fomos “A Vitória de VEJA nas eleições”, um reconhecimento da revista pelo trabalho realizado.
Esse tempo de 1 ano e 3 meses foi momento único de interação e de criação de um novo veículo. Isso já está feito e é um legado que tenho orgulho de deixar. Mas essa missão eu já cumpri. Agora, no momento das maiores crises que o país enfrenta (ética, econômica e política) é preciso ir além. É preciso dar um passo maior. É preciso interagir mais com os milhares de seguidores que me acompanham, com meu público e tratar de novos temas, com mais profundidade e mantendo a espinha ereta e o coração tranquilo. A limitação de um espaço, agora reduzido, também limita o debate, a interação, o enfrentamento. E repito, é preciso ir além.
Continuo caminhando junto com o público de VEJA, mas caminhando em frente para ampliar o debate com a nação brasileira.
Quero agradecer de coração aos meus queridos parceiros @augustonunes @ricardosetti, @reinaldoazevedo, @villamarcoantonio, J.R Guzzo, Eurípedes Alcântara, que me contratou e confiou em mim para esse projeto, e as meninas mais talentosas que o site de VEJA já viu: Bruna Fasano, Virgínia Falanghe, Beatriz França e Isabella Infantine. As meninas da minha equipe.
Agradeço por esse tempo. Agradeço pela chance de ter feito algo novo. Agradeço aos colegas e até aos críticos.
Vamos em frente. A árvore que tem raízes verga, mas não quebra.
Um beijo grande e me aguardem!”– DO FABIOCAMPANA

A crise tem nome: Lula


Seu protagonismo impede uma solução para a crise.
Ele aposta no impasse como único meio de sobrevivência política

Marco Antonio Villa
O Globo
Lula voltou a ser o principal protagonista da cena política brasileira. No último mês, não teve um dia sequer em que não ocupasse as manchetes da imprensa. Viajou pelo Brasil — sempre de jatinho particular, pago não se sabe por quem — e falou, falou e falou. Impôs uma reforma ministerial à presidente, que obedeceu passivamente, como de hábito, ao seu criador. Colocou no centro do poder um homem seu, Jaques Wagner, para controlar a presidente, reestruturar o pacto lulista — essencialmente antirrepublicano — com o Congresso e o grande capital e, principalmente, para ser um escudo contra as graves acusações que pesam sobre ele, sua família e amigos.
Como de hábito, não teve nenhum compromisso com a verdade. Vociferou contra as investigações. Atacou a Polícia Federal, como se uma instituição de Estado não pudesse investigá-lo. Ou seja, ele estaria acima das leis, um cidadão — sempre — acima de qualquer suspeita, intocável. Apontou sua ira contra o ministro da Justiça e tentou retirá-lo do cargo — e vai conseguir, cedo ou tarde, pois sabe quão importante foi Márcio Thomaz Bastos em 2005, quando transformou o ministro em seu advogado de defesa.
O ex-presidente, em exercício informal e eventual da Presidência, declarou que o Brasil vive quase um Estado de exceção, simplesmente porque a imprensa divulgou documentos sobre seus ganhos milionários nas palestras e apresentou como dois filhos vivem em apartamentos em áreas nobres de São Paulo sem pagar aluguel — uma espécie de Minha Casa Minha Vida platinum, reservado exclusivamente à família Lula da Silva — e teriam recebido quantias vultuosas sem a devida comprovação do serviço prestado. Não deve ser esquecido que o Coaf justificou a investigação da sua movimentação financeira como “incompatível com o patrimônio, a atividade econômica e a capacidade financeira do cliente.”
Lula passou ao ataque. Falou em maré conservadora, que não admite ser chamado de corrupto e que — sinal dos tempos — não teme ser preso. A presidente da República, demonstrando subserviência, se deslocou em um dia útil de trabalho, de Brasília para São Paulo, simplesmente para participar da festa de aniversário do seu criador. Coisa típica de República bananeira. Ninguém perguntou sobre os gastos de viagem de uma atividade privada paga com dinheiro público. O país recebeu a notícia naturalmente. E alguns ingênuos ainda imaginam que a criatura possa romper com o criador, repetindo a ladainha de 2011.
Mesmo após as aterradoras revelações do petrolão, Lula finge que não tem qualquer relação com o escândalo e posa de perseguido, de injustiçado. Como se não fosse ele o presidente da República no momento da construção e operação do maior desvio de recursos públicos da história do mundo. Nas andanças pelo país, para evitar perguntas constrangedoras, escolhe auditórios amestrados. Mente, mente, sem nenhum pudor. Chegou a confessar cometeu estelionato eleitoral, em 2014, como se fosse algo banal.
O protagonismo de Lula impede uma solução para a crise. Ele aposta no impasse como único meio de sobrevivência, da sua sobrevivência política. Pouco importa que o Brasil viva o pior momento econômico dos últimos 25 anos e que a recessão vá se estender, no mínimo, até o ano que vem. Pouco importam os milhões de desempregados, a disparada da inflação, o desgoverno das contas públicas. Em 1980, o então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo não pensou duas vezes em prorrogar a greve, mesmo levando-a à derrota — e aos milhares de operários que tiveram os dias parados descontados nos salários —, simplesmente para reabilitar sua imagem frente à base sindical, isto porque, no ano anterior fechou acordo com a Fiesp sem que o mesmo fosse aprovado pela assembleia, daí que passou a ser chamado pelos operários de pelego e traidor.
Em setembro, Dilma chegou a balançar quando o PMDB insinuou que poderia apoiar o impeachment. Lula entrou em campo e, se não virou o jogo, conseguiu ao menos equilibrar a partida — isto na esfera da política, não da gestão econômica. Tanto que a possibilidade de a Câmara dos Deputados aprovar, neste ano, a abertura de um processo de impeachment é nula. Por outro lado, o Congresso Nacional não aprovou as medidas que o governo considera como essenciais para o ajuste fiscal. É um jogo cruel e que vai continuar até o agravamento da crise econômica a um ponto que as ruas voltarem a ser ocupadas pelos manifestantes.
As vitórias de Lula são pontuais, superficiais e com prazo de validade. As pesquisas mostram que ele, hoje, é uma liderança decadente e com alto grau de rejeição, assim como o PT. Mantém uma influência no centro de poder que é absolutamente desproporcional ao seu real peso político. Tem medo das consequências advindas das operações Lava-Jato e Zelotes. Mas no seu delírio quer arrastar o país à pior crise da história republicana. E está conseguindo. Tudo porque sabe que o impeachment de Dilma é o dobre de finados dele e do PT.
As ações de Lula desmoralizam o Estado Democrático de Direito. Ele despreza a democracia. Sempre desprezou. Entende o Estado como instrumento da sua vontade pessoal. Mas, para sorte do Brasil, caminha para o ocaso. Só não foi completamente derrotado porque ainda mantém apoio de boa parte da elite empresarial, que, por sua vez, exerce forte influência no Congresso e nas cortes superiores de Brasília. O grande capital não sabe o que virá depois do PT. Na dúvida, prefere manter apoio ao “seu” partido e ao “seu” homem de confiança, Lula.
Marco Antonio Villa é historiador 10/11/2015 - DO R.DEMOCRATICA