segunda-feira, 13 de abril de 2015

The Noite (10/04/15) - Entrevista Gloria Álvarez


Os reacionários de esquerda, inclusive da grande imprensa, podem ladrar à vontade. A caravana vai passar


13/04/2015
às 16:20
Movimentos que convocaram as duas grandes manifestações de protesto contra o governo Dilma decidiram iniciar uma segunda fase de sua luta: o caminho agora é Brasília. Já demonstraram que estão em conexão com a larga maioria do povo brasileiro, conforme atesta pesquisa Datafolha. É chegada a hora de — atenção para este verbo — tensionar as instituições. Isso supõe um diálogo altivo com elas. O Movimento Brasil Livre (MBL) dará início, no próximo dia 17 a uma Marcha — sim, a pé — a Brasília. O objetivo é chegar à capital federal um mês depois e lá promover uma grande manifestação. O Vem Pra Rua pretende apresentar, no próximo dia 15, uma pauta que reúne reivindicações de 50 organizações que se opõem ao atual estado de coisas.
Esse é o caminho natural. Falei há pouco com Kim Kataguiri, um dos coordenadores do MBL. Perguntei se a pauta principal da marcha é o impeachment de Dilma, como foi noticiado por aí. Ainda que o movimento veja razões para tanto — e eles existem —, a moçada não é ingênua. É evidente que ninguém marcha para Brasília para pedir “o impeachment ou nada”. Os coordenadores do MBL reconhecem que o impedimento é uma questão jurídica e política. Logo, depende das leis e das circunstâncias. Assim, chegou a hora de esses movimentos exigirem uma interlocução com as instituições, que não pertencem ao governo do PT, mas ao Estado brasileiro.
O mesmo vale para o Vem Pra Rua. Na entrevista que concedeu ao programa “Os Pingos nos Is”, da Jovem Pan, Rogério Chequer já havia falado da necessidade de articular as dezenas de grupos que hoje se organizam cobrando mudanças efetivas no país. Isso tem de virar uma pauta. Assim, esses movimentos se preparam para o diálogo dos fortes, não para a cooptação.
E, à diferença do que pretendem os reacionários de esquerda, inclusive os incrustrados na grande imprensa, eles já avançaram bastante até aqui. Organizaram, em menos de um mês, duas grandes manifestações. E o fizeram contra a máquina oficial de propaganda e contra a incredulidade de analistas políticos e uma safra de colunistas intelectualmente safados como raramente se viu.
Sou antigo nesse troço de manifestação. Sei bem o que é participar de um movimento com a imprensa unanimemente a favor. Foi assim nas Diretas Já. Era moleza! Parecia que o mundo inteiro estava com a gente. No impeachment de Collor, eu já era jornalista. Aí posso falar, vamos dizer, da adesão “por dentro”. Ainda que houvesse, e havia, o cuidado para não distorcer os fatos em prejuízo do então presidente, era evidente que a seleção da pauta se dava em favor do impeachment.
Agora, a coisa é bem diferente. Há, sim, jornalistas simpáticos aos que se manifestam. Mas, na média, a chamada grande imprensa vê movimentos como o “Vem Pra Rua”, o “Brasil Livre” e o “Revoltados Online” com o pé atrás. Jornalistas têm certa compulsão por aquilo que julgam ser o “progressismo”. Se os que se manifestam não adotam a pauta que consideram universal — geralmente ligada à área de costumes —, tendem a entornar o nariz e a colar na turma a pecha de “reacionária”.
O que estou dizendo, com todas as letras, é que a imprensa, nas décadas de 80 e 90, respectivamente, turbinava os atos em favor das Diretas e do impeachment de Collor. Desta feita, faz o contrário. As manifestações de rua se impuseram apesar do jornalismo, não com a sua ajuda. A primeira tentação, basta olhar os arquivos, foi ver nas ruas a pressão da elite branca.
A moçada venceu o pelotão de fuzilamento moral e a barreira da desqualificação. O fel do colunismo de esquerda e o jogo pesado dos blogs sujos se mostraram irrelevantes. A patrulha no petismo nas redes sociais chamou a atenção mais pelo seu lado patético do que por sua eficiência.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardozo recomendou que os partidos de oposição não se confundam com esses movimentos da sociedade civil. Ele está certo. Como estão certos esses movimentos ao criticar o que consideram frouxidão das oposições. É preciso não confundir os papeis. As democracias avançam — e não estou dizendo nenhuma novidade; há sólida teoria a respeito — quando indivíduos, organizados em grupos, levam adiante a bandeira da convicção; às forças institucionais, cabem os limites da responsabilidade. É a tensão desses dois vetores que produz avanços. Nem a convicção deve sair por aí a cortar cabeças, como um Robespierre mais ensandecido do que o original, nem a responsabilidade deve engessar as demandas vivas da sociedade, congelando o statu quo e imobilizando os atores sociais.
É saudável que grupos de pressão na sociedade tenham uma pauta mais ousada e avançada — dados seus pressupostos e seus valores — do que as oposições institucionais. É assim que tem de ser. A pauta do Vem pra Rua, do Movimento Brasil Livre ou do Revoltados Online não se resume ao impeachment de Dilma, que pode acontecer ou não. Caso se dê, é preciso ter um amanhã; caso não se dê, também. E, é claro!, se as oposições que temos não souberem ler a realidade, serão superadas pelos fatos.
Os reacionários de esquerda, em especial alguns colunistas do nariz marrom, estão expelindo sua baba hidrófoba contra esses movimentos. Acham um absurdo e uma violência que uma de suas palavras de ordem seja “Fora PT”, mas viam uma verdadeira poesia quando os petistas gritavam “Fora Sarney”, “Fora Collor” e “Fora FHC”.
Podem ladrar à vontade. A caravana vai passar.
Por Reinaldo Azevedo

ALGUEM DESARME ESTA MULHER



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Por Ricardo Noblat
Que maneira infeliz de celebrar os primeiros 100 dias de governo! Seis em cada 10 brasileiros consideram péssima ou ruim a administração de Dilma. Quase seis em 10 acham que ela sabia da corrupção na Petrobras e nada fez.
Para quase oito em 10, a inflação aumentará. Assim como o desemprego para sete em cada 10. Dois em cada três são favoráveis à abertura de um processo de impeachment contra Dilma.
As manifestações de ruas, como as de ontem, são apoiadas por sete em cada 10. E se a eleição para a escolha do sucessor de Dilma tivesse ocorrido na semana passada, Aécio Neves teria derrotado Lula por 33% dos votos contra 29%, segundo a mais recente pesquisa Datafolha.
Dos seus vários bunkers em Brasília, a presidente só sai para lugares onde não corra o risco de ser vaiada. Se falar na televisão, pode deflagrar um panelaço.
O que Dilma fez para merecer isso?
Mentiu. Apenas mentiu. Simples assim.
O Brasil era um paraíso na propaganda dela para se reeleger. Menos de dois meses depois, o paraíso se evaporara.
Dilma jurou que jamais faria certas coisas que só seriam feitas por seus adversários. Começou a fazê-las antes do fim do seu primeiro mandato.
Com isso mentiu de novo? Não. Era a mesma mentira. Tudo era uma mentira só.
Uma pessoa que não ama seus semelhantes, ou que não sabe expressar seu amor por eles, não pode ser amada. Que o diga Jane, ex-criada do Palácio da Alvorada.
Um dia, Dilma não gostou da arrumação dos seus vestidos. E numa explosão de cólera, jogou cabides em Jane. Que, sem se intimidar, jogou cabides nela.
O episódio conhecido dentro do governo como “a guerra dos cabides” custou o emprego de Jane.
Mas ela deu sorte. Em meio à campanha eleitoral do ano passado, Jane foi procurada pela equipe de marketing de um dos candidatos a presidente com a promessa de que seria bem paga caso gravasse um depoimento a respeito da guerra dos cabides.
Dilma soube. Zelosos auxiliares dela garantiram a Jane os benefícios do programa “Minha Casa, Minha Vida”, uma soma em dinheiro e um novo emprego. Jane aceitou. Por que não?
Lula se queixa de Dilma porque ela não segue seus conselhos. Segue, sim. Só que às vezes demora.
Para que abdicasse da maioria dos seus poderes, por exemplo, foi decisivo o bate-boca que teve com Lula no Palácio da Alvorada, em março último.
A certa altura, Lula disse: “Eu lhe entreguei um país que estava bem...” Dilma devolveu: “Não, presidente. Não estava. E as medidas que estou tomando são para corrigir erros do seu governo”.
A réplica não demorou. “Do meu governo? Que governo? O seu já tem mais de quatro anos”, disparou Lula.
Os assessores de Dilma que aguardavam os dois para jantar e escutaram o diálogo em voz alta, não sabem dizer se ela nesse instante respondeu a Lula ou se preferiu calar.
Um deles guardou na memória o que Lula comentou em seguida: “Você sabe a coisa errada que eu fiz, não sabe? Foi botar você aí”.
Foi pressionada por Lula que Dilma entregou o comando da Economia ao ministro Joaquim Levy, da Fazenda, que pensa muito diferente dela.
Foi também pressionada por Lula que delegou o comando da Política a Michel Temer, seu vice, a quem sempre desprezou.
Levy está sujeito a levar carões públicos de Dilma, já levou. Temer, não. Levy pode ser trocado por outro banqueiro. Temer, não.
Lula inventou o parlamentarismo à brasileira para tentar impedir o naufrágio de Dilma. É sua última cartada para salvar a chance de voltar à presidência em 2018.
Manifestação na orla do Rio de Janeiro, RJ, 12/04/2015
(Foto: Futura Press)
13/04/2015- DO R.DEMOCRATICA

12 DE ABRIL 1 – MUITOS MILHARES VÃO ÀS RUAS, NO BRASIL INTEIRO, CONTRA O GOVERNO DILMA, O PT E AS ESQUERDAS. CONSTA QUE PLANALTO SUSPIRA ALIVIADO. ENTÃO É MAIS BURRO DO QUE PARECE!


A Avenida Paulista tomada por milhares de brasileiros: green and yelow blocs
Por Reinaldo Azevedo
Há mais de uma semana o governo decidiu pautar a cobertura da imprensa, que, com raras exceções, aceitou gostosamente a orientação. Com variações, a cobertura destaca que há menos pessoas nas ruas neste 12 de abril do que naquele 15 de março. Assim, fica estabelecido, dada essa leitura estúpida, que um protesto político só é bem- sucedido se consegue, a cada vez, superar a si mesmo. Isso é de uma tolice espantosa, na hipótese de não ser má-fé. A população ocupou as ruas em centenas de cidades Brasil afora. Mais uma vez, PT, CUT, ditos movimentos sociais e esquerdas no geral levaram uma surra também numérica. Mais uma vez, o verde-e-amarelo bateu o vermelho da semana passada. E é isso o que importa.
De resto, é impossível saber o número de manifestantes deste domingo. Algum veículo de imprensa mandou jornalista cobrir o protesto em Januária, em Minas; em Orobó, em Pernambuco, ou em Ourinhos, em São Paulo? Haver menos gente na Avenida Paulista ou na orla de Copacabana, no Rio, não tem nenhuma importância. Num levantamento prévio, dá para afirmar que o “fora Dilma” foi ouvido em cidades de pelo menos 24 Estados e no Distrito Federal (ainda falta atualização). E — daqui a pouco chego lá — contem com o PT para turbinar os próximos protestos.
Consta que o governo respirou aliviado com o número menor, embora o Palácio do Planalto, ele mesmo, tenha, desta vez, resolvido se calar. Parece que não haverá Miguel Rossetto e José Eduardo Cardozo para cutucar a onça com a vara curta. A boçalidade ficou por conta da militância virtual e paga (farei um post a respeito). Respirou aliviado por quê?

Protesto em Belém: faixa do Movimento Brasil Livre pede a saída da presidente
(Foto: Jairo Marques/Folhapress)

Respirou aliviado no dia em que o “Fora Dilma” se faz ouvir de norte a sul do país?
Respirou aliviado no dia em que o Datafolha aponta que 63% apoiam o impeachment da presidente?
Respirou aliviado no dia em que a pesquisa revela que 60% consideram o governo ruim ou péssimo?
Respirou aliviado no dia em que essa mesma pesquisa evidencia que 83% acreditam que Dilma sabia da roubalheira da Petrobras e nada fez?
Respirou aliviado no dia em que esse mesmo levantamento demonstra que a crise quebrou as pernas de Lula, pesadelo com o qual o petismo não contava nem nos momentos mais pessimistas?
Por que, afinal de contas, suspira aliviado o governo? Com que jornada futura de boas notícias e alívio dos sintomas da crise ele espera contar? Sim, a indignação com a roubalheira é um dos principais fatores de mobilização dos milhares de brasileiros que foram às ruas. Mas há muito mais do que isso. Há a crise econômica propriamente dita e a sensação, que corresponde à realidade, de que o governo está paralisado.
Acontece que esse mal-estar só vai aumentar porque o pacote recessivo ainda não surtiu todos os seus efeitos. Mais: ninguém nunca sabe quando a operação Lava Jato vai chegar a um fio desencapado, como é o caso de André Vargas, por exemplo. Consta que o ex-vice-presidente da Câmara e petista todo-poderoso, ora presidiário, está bravo com o partido, do qual havia se desligado apenas formalmente.
Acabo de chegar da Avenida Paulista. Havia menos gente do que no dia 15 de Março? Sem dúvida! Mas também sei, com absoluta certeza, que, desta feita, o protesto se deu num número maior de cidades no Estado. No dia 15, encontrei verdadeiras caravanas oriundas de cidades do interior e de outras unidades da federação. Aquele foi uma espécie de ato inaugural. Havia nele a vocação de grito de desabafo, era um enorme “Chega!”. A partir deste dia 12, a tendência é que haja mesmo uma diminuição de pessoas em favor de uma definição mais clara da pauta.
Mas é evidente que se trata de um erro cretino imaginar que menos gente na rua implique que está em curso uma mudança de humor da opinião pública. Não está, não! E que se note: se o protesto do dia 15 tivesse reunido o número de pessoas deste de agora, muitos teriam, então, se surpreendido. Acontece que aquele superou expectativas as mais otimistas. Tomá-lo como régua de um suposto insucesso dos atos deste dia 12 é coisa de tolos ou de vigaristas. Mas o governo e o PT têm direito ao autoengano.
Vejo a coisa de outro modo: os eventos deste domingo, 12 de abril, comprovam o que chamo de emergência de uma nova consciência. Até torço para que o Planalto e o petismo insistam que os atos deste domingo foram malsucedidos. É o caminho mais curto da autodestruição. Esses caras ainda não perceberam que os que agora protestam não querem apenas o impeachment de Dilma. Essa é a pauta contingente. Eles falam em nome de uma pauta necessária, que é apear as esquerdas do poder, ainda que esse esquerdismo, hoje em dia, não passe de uma mistura de populismo chulé com autoritarismo.
Tenham a certeza, petistas e afins: a luta continua! 12 de abril de 2015 DO R.DEMOCRATICA